A rede pública de ensino de Santa Maria, na Região Central, tem um exemplo de escola investindo em sustentabilidade. É o Colégio Estadual Professora Edna May Cardoso, localizado na Cohab Fernando Ferrari, no bairro Camobi. Desde o segundo semestre de 2021, a instituição tem um sistema de captação de água baseado no telhado da quadra de esportes, que recebe a chuva e a destina para um reservatório. No fim do ano passado, com a doação de dois novos tanques, a capacidade de armazenamento pulou de 2 mil litros para 22 mil litros.
Com essa ampliação, a água armazenada é usada para irrigar a horta comunitária existente na escola desde 2018, um terreno de 40 metros de largura por 70 metros de cumprimento repleto de alface, rúcula, chicória, plantas medicinais, além de frutas como goiaba, pitanga e bergamota, tudo produzido por alunos, familiares e moradores da região e para benefício de todos. Em 2022, GZH fez reportagem sobre o projeto.
A captação da água da chuva funciona da seguinte forma: o volume que cai no telhado da quadra de esportes é levado por canos até os reservatórios, que ficam próximos à horta. O volume também tem servido para abastecer a própria vizinhança, que tem liberdade para recorrer à cisterna da instituição quando falta água.
— Na nossa comunidade, seguidamente falta água. Mantemos comunicação com os moradores em um grupo de WhatsApp. A gente avisa que, para limpar, lavar louça e roupa, os moradores podem procurar a escola e sua cisterna. Então o reservatório tem um serviço comunitário importante — diz o diretor da instituição, Alan Patrik Buzzatti.
A doação dos dois tanques, cada um deles com capacidade para 10 mil litros, foi feita pelo Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), instituição que já apoia a horta cedendo bolsistas para fornecer informações técnicas sobre a produção de alimentos. Também houve suporte do Corpo de Bombeiros, que contribuiu com a instalação dos canos e reforçou a importância da cisterna, uma vez que a vizinhança não tem hidrante — portanto, a água armazenada nos reservatórios também pode servir como auxílio à atuação da corporação em possíveis casos de incêndio.
Para implementar os dois novos tanques, a escola, que oferece do Ensino Fundamental, a Educação de Jovens e Adultos (EJA), tirou do próprio caixa cerca de R$ 1,4 mil, um recurso que o diretor considera baixo diante das vantagens de ter cisterna própria e poupar água potável.
— Veja quanta água potável a gente coloca fora. Em um momento de crise hídrica como a que estamos vivendo, a cisterna é muito importante. Nos últimos meses, deixamos de utilizar praticamente 100 mil litros de água da Corsan — diz Buzzatti.
O que é jornalismo de soluções?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Liderados pelo professor de Matemática Felipe Rechia, alguns alunos do primeiro ano do Ensino Médio fizeram um cálculo para entender qual é a capacidade do telhado de receber água.
— A gente calculou a área do telhado utilizando fórmulas como seno, cosseno e tangente. A gente tinha que medir o telhado, mas não podíamos subir lá, porque tinha o risco de cair. Então, do solo, fizemos esse cálculo. Ficamos abismados, porque a capacidade de captação do telhado é gigantesca: uma média mensal de 22.500 litros — diz o professor.
A experiência de lecionar em uma instituição pública, que dá outros frutos para a comunidade além da educação, é gratificante.
— É a primeira escola em que atuo com uma visão ambiental, sustentável. A maioria dos alunos são do entorno, então eles vão muito à escola, inclusive para jogar bola nos finais de semana. Alguns até recebem os alimentos produzidos na nossa horta. E agora a escola dá esse retorno com a cisterna. O bairro sofre com muita falta de água — reforça Rechia.
A escola tem pretensões maiores. Segundo o diretor Buzzatti, a pequena caixa d´água, com capacidade para armazenar 2 mil litros, temporariamente desativada, será levada em direção ao prédio da instituição, para que o volume guardado seja destinado à limpeza do pátio e até da calçada. Para isso, será necessário investir na infraestrutura do telhado, instalando canos que possam fazer a condução do líquido até o reservatório.
— Queremos ampliar a captação de água ainda mais, para que possamos utilizar nos banheiros e em todo conjunto da limpeza da escola. Queremos chegar nesse patamar de sermos autossustentáveis e só utilizarmos água tratada da Corsan para consumo humano — projeta.