A área atingida pelo fogo na Estação Ecológica do Taim (Esec-Taim), no sul do Estado, foi de quase 12 mil hectares. O dado foi disponibilizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra a reserva e faz o monitoramento via satélite. É o maior incêndio da história da Estação Ecológica do Taim, criada em 1986. A área queimada representa cerca de 36% do total da reserva, que é de quase 33 mil hectares entre os municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.
O dado foi revelado pela Divisão de Informações Geoespaciais e Monitoramento (DGEO/CGPRO/ICMBio) nesta segunda-feira (19). De acordo com as imagens de satélite, o fogo consumiu 11.928 hectares de vegetação. O incêndio começou na tarde da segunda-feira da semana passada (12), com um raio, e foi controlado apenas na sexta-feira (16) à tarde.
O combate às chamas envolveu voluntários, brigadistas e 60 profissionais do Corpo de Bombeiros, além de aeronaves. Na sexta-feira, a estimativa de área atingida feita pela chefia da reserva após um sobrevoo sobre a região foi de 6 mil hectares.
Conforme o IMCBio, brigadistas do Instituto monitoram a área. Até o momento, nove pontos de concentração de fauna foram vistoriados e não há registro de animais feridos ou mortos. A maior queimada no Taim até então tinha ocorrido em 2013, quando 5,6 mil hectares foram atingidos.
A Estação Ecológica do Taim
Criada em 1986, a Esec Taim iniciou com cerca de 11 mil hectares. Em 2017, a área foi ampliada para 33 mil hectares entre a Lagoa Mirim e o Oceano Atlântico. Santuário das aves, principalmente para as aquáticas, o Taim tem registro de cerca de 250 espécies de aves e 40, de mamíferos.
Um dos títulos que o Taim ostenta é o de Área Ramsar, recebido na Convenção de Ramsar, que é um tratado intergovernamental que estabelece marcos para ações nacionais e para a cooperação entre países com o objetivo de promover a conservação e o uso racional de áreas úmidas, especialmente aquelas que são habitat de aves aquáticas, no mundo.
Professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Leandro Bugoni, que também é diretor de Pesquisa da instituição, relata que o Taim possui uma importância que vai além do que se pode imaginar.
Bugoni cita o exemplo dos gaviões-caramujeiros. O Taim é área de reprodução desta espécie, que se alimenta de moluscos. A equipe de Bugoni, em conjunto com pesquisadores dos Estados Unidos, colocou transmissores por satélite nestas aves que passam pela região. Nos primeiros dias de rastreamento foi possível identificar que um único indivíduo percorreu cinco países: Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolívia. Dois outros gaviões saíram do Taim e foram até a foz do Rio Amazonas, no Amapá, e retornaram no verão seguinte para se reproduzir no Taim.
— As aves (incluindo as que passam pelo Taim) fazem a conexão destes ambientes em distâncias absurdas, conectando países e regiões distantes — completa o pesquisador.
O início do incêndio
O fogo teria sido iniciado por um raio, no começo da tarde de segunda-feira (12). A queimada se espalhou por uma área próxima da BR-471, entre Rio Grande e Santa Vitória do Palmar. A direção do vento, segundo o ICMBio, foi decisiva no ritmo de avanço das chamas.
Percebendo a gravidade do fato, pela área consumida pelo fogo, e pela experiência dos bombeiros, a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP), mesmo sem ter sido acionada pelo governo federal, determinou, na quinta-feira (15), o deslocamento de 40 servidores da Academia de Bombeiros Militar e duas equipes, compostas por oito militares da Força de Resposta Rápida (FR2) e do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS), para prestar auxílio aos brigadistas do ICMBio. A equipe partiu de Porto Alegre ainda na quinta e já começaria a atuar na chegada à região.
Somados ao efetivo do Terceiro Batalhão de Bombeiros Militar de Rio Grande, foram 60 profissionais enviados para o combate ao fogo na reserva. Na sexta-feira as chamas foram controladas.