Em relatório apresentado na manhã desta quarta-feira (9), o Unicef, agência da Organização das Nações Unidas (ONU), alertou que crianças e adolescentes são os que mais sofrem com as mudanças climáticas e devem ser tratados como prioridade. A apresentação ocorre paralelamente à realização da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), que reúne líderes mundiais no Egito.
De acordo com o documento, construído com base em uma revisão de literatura que incluiu mais de uma centena de artigos científicos, o Brasil tem 40 milhões de meninos e meninas expostos a mais de um risco climático ou ambiental (60% do total), e as mudanças climáticas em andamento comprometem a garantia de direitos fundamentais dessa parcela da população. O relatório, intitulado Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil e elaborado ao longo do último ano, aponta que a crise afeta frequência de chuvas, amplitude térmica e ondas de calor, quantidade e intensidade de eventos extremos (ciclones e queimadas) e o prolongamento de secas severas.
Tudo isso altera a vida cotidiana de diversas formas, colocando em risco o bem-estar, o desenvolvimento e a sobrevivência de pessoas em todo o planeta. Para o Unicef, é urgente tratar crianças e adolescentes como personagens prioritários nas políticas e nos debates voltados ao enfrentamento do problema.
Entre os mais prejudicados, figuram aqueles em situação de maior vulnerabilidade, que já se encontram privados de outros direitos e benefícios, como, principalmente, negros, indígenas, quilombolas, migrantes e/ou refugiados, indivíduos com deficiência e meninas. Conforme o Unicef, a maioria das políticas públicas e dos planos nacionais referentes ao clima e ao ambiente pouco mencionam ou até mesmo ignoram completamente a situação específica de crianças e adolescentes, em geral, e desses grupos mais ameaçados, em particular.
O relatório aponta cinco dos principais prejuízos possíveis das mudanças climáticas e da degradação ambiental para esses grupos: direito à vida, à saúde e ao desenvolvimento; direito a aprender; direito à proteção contra violências; direito a água potável e saneamento e direito à proteção social.
Paola Babos, representante interina do Unicef no Brasil, salientou, em entrevista coletiva online para veículos de imprensa, que meninos e meninas estão em uma fase mais sensível de desenvolvimento e, por isso, são os mais prejudicados diretamente.
— Crianças e adolescentes são os que menos contribuem para as mudanças climáticas, mas serão os que mais sofrerão os efeitos delas de forma mais intensa e por mais tempo — disse Paola.
— Eventos climáticos extremos podem destruir escolas, hospitais, postos de saúde, moradias, áreas de lazer, serviços de transporte que garantem o acesso a serviços essenciais — exemplificou.
Crianças e adolescentes são os que menos contribuem para as mudanças climáticas, mas serão os que mais sofrerão os efeitos delas de forma mais intensa e por mais tempo.
PAOLA BABOS
Representante interina do Unicef no Brasil
Como forma de reverter esse preocupante cenário, reduzindo malefícios futuros e viabilizando a adaptação ao quadro que já se configura como inevitável, a agência da ONU apresenta uma lista com quatro recomendações (confira abaixo) que devem ser aplicadas priorizando sempre os mais vulneráveis em relação a características como idade, gênero, raça e etnia, renda, deficiência e situação migratória.
— Crianças e adolescentes são também o caminho das soluções. Eles têm ideias, experiências e habilidades que são críticas para o desenvolvimento de comunidades mais sustentáveis e resilientes — afirmou Danilo Moura, oficial de Monitoramento e Avaliação do Unicef no Brasil.
Recomendações para reverter o cenário preocupante
- Posicionar crianças e adolescentes como prioridade absoluta nos planos e nos programas relacionados ao meio ambientes e às mudanças climáticas. Apoiar, defender e fortalecer as instituições e a legislação responsáveis pela garantia de preservação e pelo enfrentamento da degradação do meio ambiente
- Assegurar e estimular a participação de crianças, adolescentes e jovens nas esferas de debate, decisão e implementação de políticas públicas relacionadas ao meio ambiente e à crise climática
- Adaptar os serviços públicos que atendem crianças e adolescentes com base nos cenários de vulnerabilidade e risco de desastres. Garantir a infraestrutura de escolas e hospitais para o bem-estar dos usuários e a continuidade dos serviços essenciais
- Engajar o setor produtivo em defesa da adoção de medidas de preservação ambiental e de manejo sustentável das cadeias de produção e transporte. Estimular investimentos e outras medidas que promovam e acelerem a transição para uma economia verde, abrindo oportunidades de inclusão socioprodutiva de adolescentes e jovens