Ao menos 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas no Pantanal em 2020. É o que afirma um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, de universidades e de organizações não-governamentais. O resultado da pesquisa, entretanto, ainda não foi publicado em uma revista cientifica. As informações são do G1.
O estudo foi submetido ao periódico Scientific Reports, do grupo Springer Nature, e está sob avaliação de outros cientistas. De acordo com a publicação, as principais vítimas foram as pequenas cobras, principalmente as aquáticas: mais de 9 milhões destes animais morreram nas queimadas.
Para realizar a pesquisa, os cientistas trabalharam em uma técnica pioneira de “amostra de distâncias em linhas" para calcular mortes de animais em queimadas. A metodologia baseia-se nos chamados transectos: trilhas em linha reta através de áreas pré-determinadas pelos focos de incêndio no bioma. Cada linha percorrida tinha entre 500m e 3km, ao todo, o grupo percorreu 114 km de transectos.
Segundo relato dos cientistas ao G1, nos trajetos lineares, as carcaças eram registradas com datas e coordenadas geográficas. A distancia perpendicular de cada uma delas em relação à linha de referência também era levada em consideração.
Por fim, quanto mais longe do transecto, menor a quantidade de animais encontrados. Calculando a probabilidade, os cientistas elaboraram um modelo matemático para estimar o número de carcaças presentes na área, o que permitiu a modelagem de estimativas que o grupo usou para o cálculo da densidade de animais mortos no período.
Número é subestimado
De acordo com o G1, por se tratar de uma subestimativa, o número de 17 milhões de animais pode não estar preciso. Deve se levar em consideração que muitos animais vivem em tocas ou dentro de ocos de árvores e podem ter morrido nesses locais sem terem sido avistados. E há também animais vertebrados muito pequenos que podem ter sido completamente queimados pelas chamas.
A pesquisa estudou o período entre janeiro e novembro de 2020, quando o Pantanal registrou o maior desmatamento de sua história: uma destruição de cerca de 4 milhões de hectares — 26% da área de todo o bioma.
Os pesquisadores dividiram os animais em dois grupos, de acordo com seus tamanhos de carcaça: pequenos vertebrados (menos de 2kg) — como anfíbios, pequenos lagartos, cobras, pássaros e roedores; e médios para grandes vertebrados (2kg ou mais) — como queixadas, capivaras, mutuns, grandes cobras, tamanduás e primatas.
Impactos
As mudanças climáticas provocadas por ações do ser humano têm influenciado na frequência, duração e até na intensidade das secas no Pantanal. O impacto de seguidas queimadas pode ser catastrófico e empobrecer o ecossistema. As chamas fazem parte da dinâmica natural do Pantanal, mas não nas proporções vistas em 2020.