Ela ainda não começou oficialmente, mas já está no ar e nos olhos de quem circula por aí. As novas cores nos cenários das cidades gaúchas são o prelúdio para a primavera, que se inicia nesta quarta-feira (22), às 16h21min.
Apesar de o equinócio ainda não ter ocorrido, as flores já enfeitam as árvores há algumas semanas. A floração é consequência de uma série de fatores, mas sua ocorrência antes mesmo do início da primavera não chega a ser incomum.
– A floração de uma planta depende principalmente de os dias estarem mais longos e da temperatura estar mais quente. Já tivemos temperaturas mais amenas em agosto, o que é bem comum na região Sul, onde essa sensação de primavera não coincide exatamente com a data do início da estação, e isso já favorece que as plantas floresçam – explica a professora Alexandra Mastroberti, do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A união do clima mais quente com a incidência frequente de chuvas em agosto e setembro também faz com que as plantas “entendam” este período como propício à floração, que é, na verdade, o mecanismo de reprodução delas.
– A regra das plantas é o sucesso reprodutivo. Para isso, não dá para elas darem o ar da graça a qualquer momento: elas precisam acertar quando reproduzir. É como se a planta fizesse um cálculo de vários parâmetros e, a partir disso, ocorre a floração – pontua Daniele Munareto Rodrigues, doutora em Botânica pela UFRGS e especialista em polinização.
Esse cálculo, no entanto, não é igual para cada planta, e é por isso que o período de floração varia entre elas. Via de regra, há três categorias de plantas, no que se refere à reprodução: as de dias curtos, de dias neutros e de dias longos. As de dias curtos, como o ipê-roxo e o morango, florescem quando a luz do dia tem duração de até oito horas, ou seja, entre o final do verão e o inverno. As de dias neutros, como o girassol, o feijão e a abóbora, não foram programadas para escolher um período – sua floração depende mais da nutrição e da disponibilidade da água. Já as de dias longos, como o bougainvillia, o ipê-amarelo e o brinco de princesa, que é a flor símbolo do RS, precisam de mais tempo de luz solar e, por isso, dão flor quando o clima começa a esquentar.
No Rio Grande do Sul, ainda que haja floração em outras épocas do ano, o primavera é especialmente florida.
– Aqui, a floração explode neste período, a primavera é a época mais florida do ano. Outras regiões, como o Nordeste, e também o Rio de Janeiro, têm mais flores em julho, por exemplo – cita a professora Alexandra.
Antes do tempo
Especialista em polinização, a doutora Daniele afirma que o Estado é repleto de plantas que florescem mais no verão e destaca o efeito disso entre as abelhas.
– Por isso, os apicultores precisam alimentar as abelhas de forma artificial no inverno, para que consigam se manter durante a estação.
A pesquisadora estuda abelhas sem ferrão, uma espécie nativa brasileira que evoluiu junto à flora do país. Para produzirem mel, esses insetos dependem do pólen gerado pelas flores, o que é afetado também pelas mudanças climáticas. A incidência de chuva e de temperaturas mais altas em períodos atípicos pode fazer com que algumas plantas floresçam antes do tempo e, com isso, haja um “desfalque” de flores em outra época do ano, reduzindo, assim, os recursos das abelhas e gerando a diminuição das colônias e das colmeias.