O desmatamento acumulado na Amazônia entre agosto de 2020 e julho deste ano foi o segundo maior do governo Jair Bolsonaro e o terceiro maior da série histórica, iniciada em 2015, segundo os mais recentes dados do Deter, sistema de alerta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Com os dados divulgados nesta sexta-feira (6), é possível ver o consolidado dos últimos 12 meses, equivalente ao período usado pelo sistema Prodes, responsável pelo balanço anual e pelos dados oficiais do governo.
A área de 8.712 km² registrada em alertas de desmate do Deter coloca o período 2020/2021 atrás apenas dos 9.216 km2² desmatados entre agosto de 2019 e julho do ano passado, conforme os números dos últimos seis anos. No Brasil e no exterior, a gestão Bolsonaro tem sido alvo de críticas por causa da alta do desmatamento e do número de incêndios.
O mês de julho fechou com 1.417 km2² de desmatamento na Amazônia. Pará e Amazonas ocupam o primeiro e o segundo lugar no ranking dos maiores desmatadores do mês, com 498 km² e 402 km², respectivamente.
Há entraves na fiscalização ambiental da Amazônia na gestão Jair Bolsonaro. Em 2019 e 2020, a média de processos com multas pagas por crimes que envolvem a vegetação nos Estados da Amazônia Legal despencou 93% na comparação com a média dos quatro anos anteriores.
— Os números falam por si: em três anos de governo Bolsonaro, temos três recordes de desmatamento na Amazônia desde 2008. Todos os brasileiros já estão sentindo as consequências dessa política da destruição: o aumento da conta da luz, o risco de falta de água e as dificuldades do homem do campo com suas lavouras têm relação com uma Amazônia cada vez mais perto do seu limite — alerta Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.
Cerrado
No caso do Cerrado, onde vivem 5% dos animais e plantas do planeta, os dados de alertas do Deter indicam 661 km² de desmatamento em julho, totalizando 5.102 km² entre agosto de 2020 e o último mês — um crescimento de quase 24% em relação ao ano anterior (2019-2020). Maranhão, Bahia e Tocantins lideram o ranking dos Estados com maior área desmatada no último ano.
Assim como o desmatamento da Amazônia, a destruição do Cerrado tem sérias consequências para o Brasil: o bioma desempenha papel essencial no apoio ao ciclo da água no Brasil, já que é fonte de oito das 12 bacias hidrográficas do país. O desmatamento contínuo reduz as chuvas e aumenta as temperaturas locais, colocando também em risco a vegetação remanescente e a produção de alimentos.
Às vésperas do sexto relatório científico do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), os dados de desmatamento da Amazônia e do Cerrado colocam o Brasil na contramão do que é preciso fazer para combater a emergência climática, já que essa destruição ambiental é também a principal fonte das emissões de gases de efeito estufa. O Brasil é o sexto maior emissor do planeta.
— Enquanto o desmatamento aumenta, PIB, renda per capita, nível educacional, saúde infantil e expectativa de vida no Brasil recuam. O que também cresceu nos últimos anos foi o desemprego e a desigualdade social. Estamos perdendo os dois maiores biomas do Brasil sem que isso gere crescimento, qualidade de vida ou renda para o país — ressalta Voivodic.
O Brasil já figurava como um dos campeões de desmatamento e de fragmentação de florestas e outros ecossistemas entre 2000 e 2018, segundo relatório do WWF-Internacional lançado no começo deste ano. O motivo para esta liderança era justamente o fato de termos duas frentes simultâneas de destruição — Amazônia e Cerrado. O estudo mostrou que, a exemplo do que acontece no Brasil, em todo o mundo, a agricultura comercial, especialmente em larga escala, é a principal causa do desmatamento de áreas para pecuária e o cultivo de commodities.
No entanto, esse desmatamento é desnecessário, considerando que o Brasil possui cerca de 1,6 milhão de km² de pastagens degradadas, segundo o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás. Essa área poderia e deveria ser usada pela agropecuária, reduzindo a necessidade de abrir matas nativas. A mineração e a expansão da infraestrutura, tais como redes de estradas de ferro e rodovias, que conectam as zonas de produção aos mercados domésticos e de exportação, são outros dois importantes vetores.
Além disso, houve aumento importante de atividades ilegais nos últimos anos, como grilagem, garimpo, extração de madeira e invasão em terras públicas. Após um ano e meio de pandemia e quase 600 mil mortos, os dados do desmatamento preocupam também pelo ponto de vista da saúde pública: diversos estudos têm mostrado a forte relação entre desmatamento e doenças zoonóticas, mostrando que o surgimento de novas doenças é elevado em regiões tropicais, biodiversas e historicamente cobertas por florestas e savanas que estão passando por mudanças no uso da terra.