Neste sábado (26), agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e policiais da Força Nacional concluíram uma operação de três dias contra o desmatamento e a extração ilegal de madeira na Terra Indígena Piripkura, em Mato Grosso. Após nove meses de destruição, a região se tornou a mais devastada entre as outras terras com presença de tribos isoladas.
Segundo reportagem do jornal O Globo, de agosto de 2020 até maio deste ano, foi destruído o equivalente a mais de 2 mil campos de futebol. Na ação, foram apreendidas três motosserras, e três acampamentos foram queimados. Além disso, seis autos de infração contra invasores somaram R$ 10,8 milhões em multas, além do embargo de uma área de 2.124,62 hectares, que foi o total desmatado. Ninguém foi preso.
De acordo com uma fonte citada pela reportagem, os desmatadores fugiram ao serem avisados do deslocamento de viaturas da Força Nacional e do Ibama por terra. A ação contou com cerca de 20 agentes, apoio de dois helicópteros e de servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Transição no ministério
A operação ocorreu em paralelo à demissão do ministro Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente, anunciada no dia 23. Ele é investigado por supostamente favorecer criminosos que atuam na extração ilegal de madeira. Há dois meses, a Justiça Federal determinou que a Funai formasse em 90 dias um grupo técnico para agilizar a demarcação da Terra Indígena Piripkura.
A área total é de 243 mil hectares, e a destruição de mais de 22 mil hectares ocorreu dentro de um espaço legalmente definido pelo governo federal e identificado pela Funai, desde 1985, como de uso indígena.
Sobre a composição do grupo técnico, ainda de acordo com a reportagem de O Globo, a nomeação de servidores ligados ao agronegócio para coordenar o GT é questionada por entidades indígenas. Em nota, o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) repudiou a escolha dos servidores acusados de serem "reconhecidamente ligados aos interesses do agronegócio e anti-indígenas".
Tribo isolada
Cobiçada por madeireiros e invasores enquanto o seu processo de demarcação se arrasta por quase 40 anos, a Terra Indígena Piripkura é considerada a porta de entrada da Amazônia Legal. A portaria da Funai que restringe a presença de não indígenas na área precisa ser renovada a cada três anos; a próxima atualização deve ocorrer em setembro. O problema é que o documento é considerado um instrumento frágil para conter o avanço de invasores.
A terra indígena foi tema de um documentário lançado em 2017 pelos diretores Mariana Oliva, Bruno Jorge e Renata Terra.