Na manhã de 17 de agosto de 1988, quatro jovens foram até o pé da Usina do Gasômetro, escondendo correntes e cadeados. Após enganar o guardinha com crachás de imprensa, eles subiram o principal cartão-postal de Porto Alegre, de 124 metros de altura. Penduraram uma faixa gigante bem no topo, protestando contra o Projeto Praia Guaíba, e se acorrentaram na escada. Estava declarada a “Tomada da Chaminé”.
A manifestação inusitada de Gert Schinke, Gerson Buss, Sidnei Zomer e Guilherme Dornelles chamou a atenção da imprensa e de outros ativistas da Agapan, que se juntaram ao povo na orla. A Brigada Militar foi acionada para tirá-los de lá, mas eles se recusaram a descer: foram preparados para ficar dias no topo.
— Foi um movimento bem ousado, nenhum de nós tinha a experiência de subir aquela escada antes — lembra Sidnei, que hoje trabalha como analista do Ministério Público Federal.
Para negociar, os manifestantes colocavam suas exigências em potes plásticos de maionese Hellmann's e jogavam para baixo. Eram os “donos do pedaço”, como já descreveu Gert a GZH.
Os jovens da Agapan protestavam contra um projeto do então prefeito Alceu Collares que previa a urbanização por meio da privatização da orla, incluindo espaços que configuram o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia) e o Parque Marinha do Brasil. Ali, naquelas áreas provenientes de aterro, seriam construídos estacionamentos, edifícios comerciais e residenciais, um shopping center, entre prédios.
Eles não acabaram ficando os dias todos previstos, desceram após cerca de seis horas, deixando a faixa no topo da chaminé. Quem desceu primeiro foi o Gerson, e quase foi detido pela Brigada Militar.
– Mas as pessoas que estavam na base da chaminé, não deixaram. Para não ser preso, entrei no carro de meu irmão – descreve Gerson, que hoje mora na Paraíba e trabalha no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, do ICMBio.
Mesmo com a “tomada da chaminé”, um gigantesco abraço ao Guaíba e uma invasão de manifestantes à Câmara no dia da votação, o projeto acabaria aprovado pelos vereadores. Com a troca de governo, a ideia não saiu do papel conforme os planos iniciais. A Agapan considera esse movimento essencial para a preservação da orla pública e do Marinha do Brasil.