Com criatividade aliada à preservação, uma gaúcha de Santa Maria criou uma rede de produtos exclusivos. Há 22 anos, a artesã Nara Guichon, 65 anos, reaproveita o nylon de redes de pesca que foram deixadas em rios e no mar, transformando-o em esponja, esfregão para limpeza e capacho para porta, entre outros utensílios domésticos. Mais do que a principal fonte de renda, diz, suas criações ajudam a reduzir a quantidade de lixo gerada no planeta.
— Meu intuito é mostrar que é possível criar o que temos conosco, não precisa comprar nada. Se encontra algo para transformar em todos os recantos. A gente olha e vê lixo, mas não é lixo, é, sim, uma matéria-prima encaminhada para o lugar errado — define.
O ateliê da artista foi inaugurado em 1983, em Florianópolis, local que escolheu para viver. Com amigos em Porto Alegre, as visitas ao Rio Grande do Sul são frequentes — sem deixar de produzir o material que “move sua vida”, como definiu o reúso dos tecidos que, antes de seu retoque, apenas poluíam as águas.
Com o projeto Águas Limpas, suas criações foram levadas para Madri, em 2018, quando participou da Bienal de Design. No ano passado, recebeu dupla premiação do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, pela técnica utilizada.
— A rede de pesca é um lixo submerso, que ninguém vê, e eu trago à tona. Esse lixo é um material precioso, e pode virar algo útil e desejável — reitera.
Por ano, a ambientalista estima resgatar duas toneladas em redes das águas. Parte dos produtos pode ser encontrada na capital gaúcha, na Loja da Reforma Agrária, no Mercado Público, e na Banana Verde, no Bom Fim.
Em 2020, a artesã passou a se dedicar ao tricô e a obras de arte compostas a partir de lixo — ou luxo, como ela define:
— Expresso agora a arte através do tricô. Faço das redes, nada vai fora. É muito gratificante. Além de ser uma forma de expressão livre, tem o resíduo zero.
No Instagram Nara Guichon Têxtil, a artesã também divulga cursos para quem quiser traçar o mesmo caminho.