O cenário visto em São Paulo (SP) nesta segunda-feira (10) com a chuva mais intensa para um dia de fevereiro em 37 anos é um filme que tem se repetido em 2020 na Região Sudeste. Antes, cariocas, goianos, capixabas e mineiros conviveram com tempestades, deslizamento de terra, interrupções de trânsito e destelhamento. Em Belo Horizonte (MG), onde as precipitações causaram os maiores estragos, choveu 935,2 milímetros em janeiro, quase três vezes acima da média histórica do mês, de acordo com a Somar Meteorologia.
— Foi a maior chuva da história na cidade. Toda essa água seria capaz de encher 500 vezes o estádio do Mineirão ou 100 mil piscinas olímpicas — ilustra a meteorologista da Somar Maria Clara Sassaki.
Em Minas, além da Capital, muitas cidades da Região Metropolitana tiveram desmoronamento e inundação de rios. A contagem da destruição pela Defesa Civil daquele Estado chegou a 59 mortes e 45 mil desabrigados até sábado (8).
Em São Paulo, os principais rios transbordaram, bloqueando importantes avenidas e travando o centro econômico do país. Até 11h30min de segunda-feira, haviam sido registradas pelo menos 120 quedas de árvores e 140 desabamentos ou desmoronamentos.
Todos estes casos têm a mesma explicação. Uma conjugação de três sistemas térmicos empurrou do Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, grande quantidade de umidade até cidades que concentram muito calor, como é o caso das metrópoles.
— Belo Horizonte e São Paulo, por exemplo, são ilhas de calor, com muito concreto e pouca zona verde. Quando a umidade intensa encontra temperaturas altas, gera chuvas muito fortes — explica Rogério Rezende, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Estes movimentos são típicos de verão, e geram um fenômeno chamado Zona de Convergência do Atlântico Sul (Zcas). Geralmente, são mais amenas e perdem força quando ocorrem os fenômenos El Niño e La Niña no Oceano Pacífico, que bloqueiam o avanço do corredor de umidade para o sudeste do Brasil. No entanto, nem El Niño e nem La Niña deram as caras.
— A tendência é de que as chuvas persistam em cidades como São Paulo, Vitória Rio de Janeiro e Goiânia até o final do verão — projeta Maria Clara, da Somar.
Estiagem
A ausência dos fenômenos no Pacífico também explicam porque o Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão escassos de chuva até o final do verão. Em janeiro, as precipitações sobre Porto Alegre equivaleram a 65% da média histórica. Em Florianópolis, chegaram a 50,1%. Como resultado, o interior gaúcho enfrenta uma perigosa estiagem que atingia 99 municípios até o último dia 5, conforme a Defesa Civil.
— O Estado continuará tendo pancadas isoladas por força do forte calor e de sistemas térmicos vindos de Argentina e do Uruguai, mas esta corrente de umidade que leva chuvas no Sudeste não chegará até o Estado — afirma Rezende.