O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, defendeu nesta sexta-feira (23), em Porto Alegre, a proteção do território brasileiro contra o que considera ser uma "cobiça internacional" pela floresta amazônica. A afirmação foi feita após presidentes europeus terem criticado postura do governo federal em relação aos focos de incêndio na Amazônia. Para Onyx, há interesse dos críticos na internacionalização da região.
— (No Exterior) Durante muito tempo, quando tem um mapa da América do Sul, muitas vezes a Amazônia é destacada do território brasileiro, porque há, sim, interesse na internacionalização. Hoje, temos as Forças Armadas do Brasil completamente destruídas. Não aguentaríamos um conflito mais do que um mês. E um país das nossas dimensões, das nossas riquezas, precisa pensar nisso. O nosso desafio é gigantesco — disse Onyx, em almoço no Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS).
Mais tarde, em coletiva de imprensa, o ministro explicou que atualmente não há temor de invasão do território brasileiro, mas não sabe o que esperar para o futuro:
— Um país com o tamanho do Brasil, com as riquezas do Brasil, tem de ter capacidade para proteger o território. Temor zero (de invasão). Só fiz um comentário de que nós temos de nos preparar, porque hoje é zero, mas o que será daqui a cinco anos, daqui a dois anos, daqui a três anos? Então, quem governa tem de fazer escolhas. Uma das escolhas que já fizemos é fortalecer o Exército, Marinha e Aeronáutica do Brasil, pelo bem do Brasil.
O ministro diz que o presidente Jair Bolsonaro, em pronunciamento a ser realizado em rede nacional na noite desta sexta, reafirmará a soberania brasileira sobre a Amazônia, a defesa do território e anúncio de força-tarefa com governadores e Forças Armadas para proteção do local.
"Retaliação das ONGs"
Em entrevista ao programa Gaúcha+ na tarde desta sexta-feira, o ministro reforçou as críticas a países europeus. Ele afirmou que existe um "conluio" entre partidos de esquerda e ONGs, e que Bolsonaro está sendo atacado porque "peita" os europeus.
— Os governos de esquerda brasileiros baixavam a cabeça para os europeus. Eles tinham um conluio, onde eles eram financiados, recebiam dinheiro aqui dentro do Brasil, financiaram ONGs que saquearam a Amazônia. Apareceu um presidente que peita os europeus, que defende a soberania brasileira e que protege a Amazônia, tem que destruir esse cara — afirmou.
Quando questionado se existe uma espécie de "retaliação" das organizações não-governamentais ambientalistas, Onyx afirmou que, para ele, "a dúvida é zero".
— Quando caiu o muro de Berlim e acabou o império soviético, uma das vertentes na qual a esquerda mundial se organizou para enfrentar o capitalismo foi o meio ambiente. O Brasil começou a fazer com que o produtor rural e o meio ambiente andem de mãos dadas. Quem tem mais interesse na preservação é o produtor rural, porque ele precisa do meio ambiente saudável para produzir. No governo petista, nós construímos uma prevalência da ideologia sobre a ciência. O Brasil pagou uma conta grande e quando acabou a farra das ONGs na Amazônia, ela serve a dois propósitos: o questionamento ideológico e usar como barreira comercial para favorecer os produtores europeus — declarou.
As afirmações de Onyx vão de encontro a falas do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro. Durante a semana, ele chegou a afirmar, sem apresentar provas, que ONGs eram responsáveis pelos incêndios na Amazônia. Na quinta, cinquenta e duas organizações da sociedade civil reagiram à fala. Em carta aberta entregue no Palácio do Planalto, essas organizações, que fazem parte do Pacto Pela Democracia, dizem receber com indignação as manifestações do presidente e que atribuir a terceiros a autoria de eventos pelos quais se é responsável é "prática tão comum quanto nefasta".
Ainda assim, o governo afirmou que irá apresentar "medidas duras" contra as queimadas em um pronunciamento nesta sexta.
Onyx também defendeu o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre as críticas que sofre sobre a ausência de uma política ambiental robusta no Brasil:
— A política robusta tem sido feita pelo ministro Ricardo Salles. Se juntar o Minc, a Isabella Teixeira, o Zequinha Sarney, a Marina Silva, não dá uma perna do Ricardo Salles. Ele é de uma nova geração que trata o meio ambiente em parceria com a produção. É o que o Brasil tem que fazer, pela sua biodiversidade. Por alguns anos, a âncora da nossa economia será o agronegócio. Por isso, precisa ter equilíbrio, bom senso, racionalidade.