O meteoro que atravessou o céu do Rio Grande do Sul na noite de 6 de junho, avistado por moradores de dezenas de cidades, era muito maior do que se imaginava inicialmente. Cálculos mais precisos realizados pela Brazilian Meteor Observation Network (Bramon) indicam que o meteoroide (rocha espacial) que gerou o meteoro (fenômeno luminoso) pesava mais de 3 toneladas — dessa massa, cerca de 10% resistiram à passagem pela atmosfera e colidiram contra o solo, entre as cidades de Jari e Santa Maria. Na noite seguinte, a de 7 de junho, ocorreu fenômeno semelhante.
Enquanto está em órbita, o pedaço de rocha espacial é chamado de meteoroide. Ao entrar na atmosfera terrestre, e pelo período em que é visto no céu, recebe o nome de meteoro, que é apenas um fenômeno luminoso. Os fragmentos que atingem o solo são denominados meteoritos.
De acordo com análise de Marcelo Zurita, diretor-técnico da Bramon, a trajetória do bólido (tipo de meteoro muito brilhante) do dia 6 foi muito mais longa e duradoura do que as primeiras estimativas. A visualização foi possível a partir de 104 quilômetros de altitude, ainda sobre o Paraguai. Por 27,5 segundos, o meteoro percorreu 393 quilômetros de atmosfera, passando pela Argentina e chegando ao noroeste gaúcho, com velocidade de 14,3 km/s (51,6 mil km/h). Desapareceu a 27,4 quilômetros de altitude, dispersando-se sobre a zona rural de Jari, até os arredores de Santa Maria.
A avaliação foi feita com base em imagens captadas pelo site Clima ao Vivo. Vídeo de uma câmera de segurança de Porto Alegre permitiu aos especialistas observar toda a trajetória. Determinou-se o peso provável do objeto, entre 3,25 e 5,75 toneladas, a partir da luminosidade.
— A altíssima energia cinética que tem esse bólido quando entra na atmosfera é convertida em várias outras, como energia térmica e energia luminosa. Se a gente consegue medir a energia luminosa do objeto, consegue calcular a energia total que ele liberou. Conhecendo a velocidade, calcula-se a massa do objeto — explica Zurita.
Conforme o diretor-técnico da Bramon, esses meteoritos têm grande valor para a ciência porque podem conter informações importantes para explicar o processo de formação do sistema solar ou até mesmo do surgimento da vida no planeta Terra. Pelo que se sabe, nenhum fragmento foi encontrado até agora. Os pedaços podem pesar de um grama até alguns quilos — os maiores devem estar localizados na área avermelhada do mapa acima, de cerca de 25 quilômetros quadrados. Um pequeno fragmento permitirá que se descubra a densidade total.
— Esse meteoro deve ter gerado muitos meteoritos. Mas, numa área de dispersão tão grande quanto essa, é bem complicado encontrá-los. A expectativa maior que temos é a de que o pessoal possa encontrar pelo menos um fragmento. Isso nos ajudaria a refinar a área de dispersão — comenta Zurita.
Como identificar um meteorito
- Meteoritos, em geral, são mais densos do que rochas terrestres. Assim, eles devem parecer um pouco mais pesados do que uma rocha comum, e os metálicos, muito mais pesados.
- Crosta de fusão: a parte externa de um meteorito é escura e tem aspecto fosco devido ao intenso calor a que ele esteve exposto durante sua passagem pela atmosfera.
- Por terem ferro e níquel na composição, quase todos os meteoritos são atraídos por ímãs.
- A maior parte dos meteoritos apresenta interior claro, com cor semelhante à do cimento, sem bolhas. Aparentam ser compostos de pequenas esferas em diferentes tons de cinza. Nos meteoritos metálicos, o interior tem aspecto semelhante ao do aço inox.
- Meteoritos metálicos podem apresentar os chamados remaglitos, depressões semelhantes a marcas de dedo.
O que fazer ao encontrar um meteorito
- Filme, fotografe e grave um relato informando data, hora e local sobre onde foi encontrado o meteorito. Se possível, faça isso antes mesmo de retirá-lo do solo.
- Registre no GPS ou no aplicativo de GPS do celular as coordenadas do local onde o objeto foi localizado. Além de valorizar a peça, esses dados podem ajudar a refinar a área de busca de novos fragmentos. Se não tiver como fazer isso na hora, marque bem o local para poder fazer isso mais tarde.
- Não lave o fragmento. Limpe-o apenas com um pincel e guarde-o em um recipiente em local livre de umidade.
- Fotografe todos os lados da peça. Coloque-a próximo a uma régua, uma moeda ou algum outro objeto que permita dar uma ideia de seu tamanho. Se possível, pese o meteorito em uma balança de precisão.
- Caso você encontre o meteorito em uma propriedade privada, informe o dono. Legalmente, ele é o dono do objeto.
- As informações podem ser enviadas à Bramon pelo e-mail bramonmeteor@gmail.com, que fará uma análise para confirmar se o que foi encontrado é um meteorito ou não. Os dados do remetente serão mantidos em sigilo. Caso se confirme se tratar de um meteorito (ou se existir forte suspeita), a peça ou um pedaço dela devem ser enviadas para o Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde será certificada.