
Marcada pelo anúncio de que os parques nacionais de São Francisco de Paula, Canela e Cambará do Sul serão concedidos à iniciativa privada, a visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, termina na tarde desta sexta-feira (12) com trilhas pelos dois parques de Cambará do Sul. Foram dois dias em que o ministro conheceu a realidade de parques com pouca ou nenhuma infraestrutura. São eles: Floresta Nacional de Canela, Floresta Nacional de São Francisco de Paula e os parques Aparados da Serra e Serra Geral, em Cambará.
Na manhã desta sexta (12), Salles caminhou pela Trilha do Cotovelo que, após 3 quilômetros, resulta na visão panorâmica do Itaimbezinho. Esta trilha é plana e de baixa dificuldade. O político estava acompanhado pelo governador do Estado, Eduardo Leite, pelo prefeito de Cambará do Sul, Schamberlaen José Silvestre, pelo senador Luis Carlos Heinze, por outros políticos relacionados com a região e por representantes do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), braço do Ministério do Meio Ambiente responsável pela gestão dos parques. Salles ainda visitaria nesta sexta o cânion Fortaleza, no Parque Serra Geral, onde seria recebido com piquenique ofertado pela prefeitura de Cambará.
— O que vimos é maravilhoso, local indescritível e de uma beleza única. Nós fomos a diversos lugares por cima, sobrevoando, e o potencial é espetacular. Bem administrado e com cuidado ambiental, tem potencial de gerar riqueza e desenvolvimento para a região —afirmou o ministro, que não conhecia os parques da região.

Acompanhado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) em parte da programação, o ministro reiterou que o processo de concessão deve estar concluído no mês de outubro outubro, não descartou a possibilidade de uma empresa estrangeira administrar todo o complexo de parques da Serra e também falou sobre a cobrança de ingressos, previamente estipulada em R$ 46 em um estudo técnico — ainda que não tenha avaliado se o valor é alto, disse que políticas públicas garantirão descontos para públicos com menos poder aquisitivo.
Também garantiu que acessos secundários aos parques de Cambará não trariam malefícios à economia da região, temor de empresários do ramo. Ainda que com poucas informações precisas sobre datas, editais ou formas como as concessões serão tratadas, o ministro garantiu que o pioneirismo do governo ao lançar esta fórmula se espalhará para outros parques do país. Até o fim do ano, a meta é anunciar a concessão de 20 parques nacionais.
— Trabalhei neste parque fazendo todas as medições. E a lógica, hoje, é tentar melhorar serviços que atendem o visitante. Isso significa fazer melhor, recepcionar melhor, ter bons banheiros, lanchonete. Aqui no Aparados da Serra, deve existir um serviço de camping, por exemplo. Mas quem dirá em qual local é o (pessoal do) plano de manejo — descreveu o presidente do ICMBio, Adalberto Eberhard.
Promessas que ficam após a visita do ministro:
Inclusão dos guias turísticos
Uma das principais preocupações da comunidade que sobrevive do turismo em Cambará é que, após uma concessionária assumir o controle das operações, os mais de 50 guias e 20 agências de turismo que atuam hoje no município não possam mais explorar o parque ou operar com grupos de turismo nos cânions. No entanto, o coordenador do departamento de Turismo da prefeitura, Cristiano Ramos Vieira, garante que não há motivos para esta preocupação. Segundo ele, a atuação destes profissionais foi alinhada junto ao ICMBio, e a única mudança que haverá será a formalização destes guias junto ao instituto.
— Eles (os guias) vão receber uma autorização de condução aqui dentro (nos parques de Cambará) e precisarão se adequar às normas da concessionária (que vencer a licitação). O guia passará por um curso gratuito oferecido por essa empresa, reciclagens que sejam necessárias e há este tipo de cuidado em credenciá-los. Mais ou menos continuam as coisas como são, só mais formal e controlado — garante Cristiano.
Pavimentação do acesso
As péssimas condições das duas vias que ligam Cambará aos parques foram alvo de comentários de diversos prefeitos e políticos durante o encontro aberto com a comunidade na noite da quinta-feira (11) — houve quem chamasse as estradas de "desastrosas" e "perigosas", devido à instabilidade que a via de chão causa ao condutor. Por isso, o governador Eduardo Leite prometeu que irá desengavetar o projeto que pavimenta a RS-427, que leva ao parque Aparados da Serra — onde fica o cânion Itaimbezinho. Ela está em mau estado de conservação. A estrada liga também Cambará até Praia Grande, em Santa Catarina, e é o caminho mais curto para se chegar a Torres e ao Litoral Sul, com pouco mais de 40 quilômetros. No entanto, o governo não estipulou prazos.
— Estamos determinados a viabilizar os recursos para garantir obras de pavimentação, com o apoio dos recursos da nossa bancada gaúcha na destinação de recursos — afirmou o governador.
Cobrança de acesso
Uma proposta que cobre R$ 46 do visitante para ter acesso aos dois parques de Cambará é a considerada mais viável economicamente pelo estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente e apresentado à comunidade. O valor foi calculado com base em um estudo socioeconômico da região onde os parques estão instalados — por isso, moradores dos municípios do entorno pagariam meia-entrada.
Questionado sobre a preocupação de ter um valor teto estipulado pelo Ministério à empresa concessionária, o ministro Ricardo Salles disse que ficará à cargo da empresa e não descartou o valor sugerido pelo estudo. No entanto, garantiu descontos para públicos específicos:
— A lógica de qualquer investimento bem-sucedido no setor de turismo é que ele contemple o maior volume de visitação e que, por outro lado, tenha uma boa relação com a sociedade, no sentido de educação ambiental, escolas, pessoas que precisem de acessibilidade. Difícil acreditar que um operador de turismo vá criar algo excludente. O operador quer incluir mais visitantes, mais pessoas. Obviamente que o regramento é importante, mas há preocupação nos interesses de grupos menores que, por meio de alguma política pública, garantam o acesso de idosos, estudantes.
Rotas alternativas
As rotas alternativas para acessar os parques que abrigam os cânions Itaimbezinho e Fortaleza, previstas no estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente, não devem impactar no fluxo de Cambará do Sul, acredita Salles. Ele enxerga com bons olhos novas formas de chegar ao parque. Esses acessos se dariam pela RS-020 — um deles junto ao posto de informação e controle do Rio Camisas e outro na Estrada do Crespo — e que atualmente são utilizados apenas por funcionários do ICMBio.
No caso de a empresa vencedora da licitação decidir destinar essas vias à entrada de público, poderia disponibilizar vagas de estacionamento e veículos para transporte interno dos visitantes a partir dali.
— Se isso (acessos secundários) favorecer o turismo e não prejudicar o planejamento da cidade de Cambará... Não vejo como atrapalhar, vejo como algo complementar. O parque pertence à atividade da cidade. É claro que Cambará e também Santa Catarina têm um esforço em conjunto pra desenvolver — afirmou.