A RS-239 — onde um homem perdeu a vida, na noite do último domingo (26), ao ser atingido por um carro que estaria disputando racha próximo a Araricá, no Vale do Sinos — registrou seis atropelamentos com morte entre janeiro e julho deste ano. Em 2020, nesse mesmo período, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS), foram cinco ocorrências.
O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) contabiliza quatro casos do tipo entre janeiro e agosto de 2021, o dobro em comparação com 2020. A diferença nas estatísticas deve-se à metodologia usada. No caso do CRBM, os dados se restringem às mortes registradas nos locais dos acidentes. Já o Detran-RS usa informações do SSP Consultas Integradas, q reúne as informações de ocorrências registradas no RS com óbitos até 30 dias após o registro. O volume é maior porque, muitas vezes, uma vítima chega com vida ao hospital e acaba morrendo dias depois.
Na noite do último domingo (28), a morte do cortador de grama Mauro Roni Hartmann, 53 anos, chocou a comunidade de Araricá e as autoridades de trânsito. Ele estava no quilômetro 35 da via, com um grupo de pessoas, incluindo um neto de oito anos e uma das filhas. Levava um carrinho de bebê com a neta, que conseguiu salvar a tempo do choque.
Os motoristas dos veículos envolvidos no suposto racha, alvo de investigação da Polícia Civil, fugiram sem prestar socorro. Um deles, de 46 anos, cujo nome não foi divulgado, foi preso em flagrante por agentes do do 3° Batalhão Rodoviário da Brigada Militar (3º BRBM), em uma caminhonete Hilux.
— O que aconteceu não foi um acidente, foi um crime. O condutor inclusive se negou a fazer o teste do etilômetro. E isso aconteceu justamente no dia seguinte ao encerramento da Semana Nacional de Trânsito, que neste ano teve como lema a frase “no trânsito, sua responsabilidade, salva vidas”. Se isso tivesse sido levado a sério, a tragédia não teria ocorrido — ressalta o comandante do 3° BRBM, major Leandro Arbogast da Cunha.
De acordo com o comandante, as rodovias rodeadas por aglomerados urbanos representam maior risco e, por isso, são priorizadas pelo CRBM. É o caso da RS-239, que, segundo o major Arbogast, é uma das vias com mais acidentes na área do 3º Batalhão (Serra, Litoral Norte, Região Metropolitana, Vale do Sinos e Caí). A estrada liga Portão à localidade de Barra do Ouro, em Maquiné, cruzando, em cerca de 120 quilômetros, municípios como Novo Hamburgo, Campo Bom, Sapiranga, Parobé e Taquara.
Só em 2021, segundo o major Arbogast, o CRBM registrou 19 acidentes fatais no trajeto (entre eles oito colisões e os quatro atropelamentos citados). Desse total, 52,6% envolveram imprudência de condutores, 15,8% tiveram travessia arriscada de pedestres e 10,5%, motorista sem habilitação. As estatísticas não chegam a ser muito diferentes da média geral, o que, na avaliação de Arbogast, indica que a maioria das tragédias poderiam ter sido evitadas — por isso é tão importante a educação para o trânsito na vida cotidiana.