O Departamento de Trânsito do Estado (Detran) divulgou nesta semana que houve redução de 10% nas mortes no trânsito gaúcho entre abril de 2020 e março deste ano na comparação com os 12 meses antes do início da pandemia. Apesar da diminuição em números gerais, aumentou o número de mortes entre caminhoneiros no Rio Grande do Sul.
Ao todo, 67 motoristas que transportam cargas perderam a vida entre abril do ano passado e março deste ano. Um aumento de 29% em relação aos 12 meses antes da pandemia. Segundo o Detran, entre abril de 2019 e março de 2020, ocorreram 52 óbitos entre esses profissionais.
O engenheiro e doutor em Transportes João Fortini Albano destaca fatores básicos para o aumento das ocorrências: sobrecarga nos veículos, falta de fiscalização de peso nas vias, e estradas mais livres, o que ocasiona aumento da velocidade empregada por esses motoristas, o que aumenta o risco de acidentes.
— A sobrecarga estraga o pavimento e altera os componentes mecânicos do veículo, fatores que aumentam o risco. E, se tem menos veículos leves, mais estrada e mais velocidade empregada, em suma, mais acidentes e óbitos. Uma coisa leva a outra — diz Albano.
GZH entrou em contato com as entidades que representam motoristas e empresas de transporte da cargas, mas até 15h30min, ainda aguardava por retorno.
Redução
Sobre a diminuição das mortes em geral no trânsito gaúcho, Albano destaca três fatores. Um mais simples é o fato de que menos fluxo gera menor exposição ao risco, mas alega ainda que as multas maiores e a fiscalização eletrônica são inibidoras do excesso de velocidade, fazendo com que os motoristas tenham mais cuidado.
— O terceiro fator não tem como ser mensurado, mas é decorrente de uma análise de sensibilidade em que uma parcela da redução está, sim, atribuída aos cuidados em geral com a vida. Se eu tenho de me cuidar com a higiene, porque não faço o mesmo ao volante? — ressalta Albano.
O Detran destaca que a redução foi de 1.587 casos de abril de 2019 para março de 2020 em comparação com abril do ano passado até março deste ano, quando houve 1.427 óbitos, ou seja, uma redução de 10%. Também houve redução nas mortes de ciclistas, motociclistas, passageiros e condutores que não são caminhoneiros. Entre pedestres, a diminuição destas ocorrências chega a 28%, passando de 328 para 235 mortes.
- Motociclistas (-1%)
- Condutores (-2%)
- Ciclistas (-11%)
- Passageiros (-18%)
- Carona de moto (-17%)
Em relação ao gênero, o Detran informa que a mortalidade caiu mais entre as mulheres, em torno de 30%, do que entre os homens, que foi de apenas 5%. Para o diretor-geral do departamento, Enio Bacci, a diminuição se explica pelo menor número de pessoas circulando durante o período de quarentena.
— Esses números mostram uma redução considerável. Foram 162 pessoas que deixaram de perder a vida. E em relação aos pedestres, é mais significativa ainda esta queda nos números. Por outro lado, os motoristas de caminhão não pararam, já que o transporte no Brasil é majoritariamente terrestre. Mas tivemos, em geral, uma baixa redução da acidentalidade entre os motociclistas em todo o Estado, isso que eles trabalharam mais em função do crescimento das telentregas — explica Bacci.
Alerta
Apesar da redução em geral, menos em relação a mortes de caminhoneiros, há uma alerta entre especialistas em trânsito. A professora Christine Nodari, do Laboratório de Sistemas de Transportes (Lastran) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que há alguns fatores associados à ocorrência de acidentes.
Segundo ela, a pandemia fez com que menos usuários estivessem no sistema viário, permitindo aos que continuaram uma sensação mais confortável para empregar velocidades maiores. Por isso, há a questão da gravidade dos casos. Mais usuários, menos velocidade e, consequentemente menos gravidade nos acidentes. Com menos usuários, ocorre o oposto.
— Essa questão pode estar associada ao caso dos caminhoneiros, mas ressalto os chamados sistemas seguros. Seria um sistema viário que deveria ser adaptado ou projetado para uma sinalização que ajude o ser humano a acertar. Por exemplo, não só uma placa de trânsito, mas "pare" escrito no asfalto, mais alertas, um desenho viário para reforçar essa informação porque simplesmente o ser humano erra. Temos que ter as chamadas "rodovias que perdoam" e "rodovias que cuidam", adaptando também para as vias urbanas — explica Christine.
A especialista ainda ressalta que o retorno às atividades presenciais, aos poucos, requer uma atenção maior, principalmente em relação aos motoristas acostumados a usar estradas e ruas mais livres.