Entre as 1.503 mortes no trânsito em rodovias estaduais do Rio Grande do Sul desde 2016, quase um terço ocorreu em apenas em seis rodovias. Entre elas, cinco que possuem trechos com pedágios administrados pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Os dados foram obtidos através da Lei de Acesso à Informação com o Comando Rodoviário da Brigada Militar e consideram desde o início de 2016 até 1º de agosto deste ano.
A recordista é a RS-324, estrada com cerca de 300 quilômetros que liga Nova Prata, na Serra, até Iraí, divisa do RS com Santa Catarina. No período analisado foram ao menos 104 mortes registradas na rodovia. De pista simples, está nos planos do governo estadual para concessão e duplicação de um trecho de 115 quilômetros.
Diferente da RS-324, que ainda não possui pedágios, as outras cinco mais perigosas possuem ao menos um trecho administrado pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). A segunda rodovia mais perigosa é a RS-287, que fica entre Montenegro e Santa Maria, com 88 vítimas fatais entre 2016 e agosto de 2019. O trecho seguinte, até São Borja, é de administração federal.
Já a RS-122 é a terceira estrada que mais teve mortes. Foram quatro vítimas a menos que a RS-287, mesmo sendo cerca de 80 quilômetros mais curta. O que puxa a estatística para cima é o trecho conhecido como "Curva da Morte", no km 48, em Farroupilha.
Ainda completam a lista a RS-453 (75 mortes), rodovia de pista simples que liga o Litoral até a Serra pelo trecho conhecido como Rota do Sol e depois, segue pelo Vale do Taquari até Venâncio Aires, e a RS-040, com 47 mortes.
Duplicada e com pedágios, RS-239 preocupa
As estradas mais letais são caracterizadas por serem, na maior parte, de pista simples e passando por áreas de serra com muitas curvas. No entanto, a RS-239 chama atenção por destoar dessa característica. Em boas condições, principalmente entre Estância Velha e Taquara, a rodovia possuí pista dupla e com acostamento neste trecho, que é o mais movimentado. Mesmo sendo a menor em extensão entre as primeiras, 75 mortes foram registradas no trecho.
Para o diretor-geral do Detran, o número elevado de mortes na estrada não é causado por apenas um fator. Ênio Bacci afirma que diversas variáveis como movimento e traçado quase todo no perímetro urbano aumentam os riscos para os motoristas.
— É muito difícil definir uma razão para que essa rodovia tenha uma quantidade tão grande de acidente. Podemos citar várias: mesmo sendo uma rodovia com alta fiscalização, é uma rodovia que acaba tendo diversos municípios nas proximidades. Ou seja, muitas vezes o cidadão pra ir no hospital tem que atravessar a rodovia. Essas rodovias que têm traçado por dentro das cidades, como é o caso da RS-239, recebem um fluxo maior de motoristas que bebem, fluxo grande de motociclistas.
Detran promete medidas
O Detran está construindo um mapa dos pontos mais perigosos nas estradas federais e estaduais do Rio Grande do Sul.O estudo deve ser concluído em cerca de 60 dias, conforme estimativa do diretor-geral Ênio Bacci. A intenção é identificar cada um desses pontos e, a partir disso, implementar medidas.
— Se o ladrão entra sempre pela mesma janela, se a gente eliminar ou colocar uma grade, ele vai ter dificuldades. Ou seja, se 30% das mortes ocorrem sempre no mesmo local, basta nós trabalharmos soluções técnicas para que esse local não seja de velocidade alta, não tenha pedestre atravessando ou até mesmo iluminação pública — disse Bacci.
A partir da conclusão do estudo, o Detran pretende notificar o Daer e o Dnit com sugestões como criação de lombadas, redutores de velocidades ou até mesmo instalação de pardais.