Deslocar-se de carro por algumas das principais vias da capital gaúcha, no começo da manhã ou fim da tarde, é deparar com uma extenuante realidade: Porto Alegre engarrafa. A falta de infraestrutura aumenta o problema de circulação na cidade, mas especialistas oferecem soluções que vão além das obras viárias e tendem a desagradar motoristas. Um trânsito mais dinâmico depende da racionalização do uso do carro. Quanto menos o veículo sair da garagem, melhor.
– Uma das causas dos congestionamentos, talvez a mais fácil de resolver, é quando há um inadequado tratamento de sinalização ou de projeto viário de um ponto. Mas o mais complicado, que acomete a maioria das cidades, é o descompasso entre a estrutura física e quantidade de veículos que estão circulando. É um problema geral. As vias têm limite – explica Carlos Hardt, professor de gestão urbana da PUCPR.
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A percepção de que há automóveis demais para vias de menos se reflete em dados. Somente entre 2001 e 2012, a frota brasileira mais que dobrou: passou de 24 milhões para 50 milhões de veículos – hoje o número ultrapassa os 95 milhões. Em Porto Alegre, de 2007 para cá, o aumento foi de 30%. Atualmente, há mais de 800 mil veículos em circulação na Capital – desses, quase 700 mil são carros –, uma média de um para cada 1,8 habitante.
As razões para tamanha motorização são diversas: a melhora na renda média da população nos anos anteriores à crise e a aposta do governo na indústria automobilística como geradora de empregos somadas à má qualidade do transporte e dos passeios públicos e a uma cultura ainda incipiente de uso da bicicleta são alguns dos fatores. A ilusão do conforto ajuda a agravar a situação: em vez de utilizar o modal apenas para situações em que ele é estritamente necessário, o carro virou o principal meio de transporte de parte da população, sobrecarregando as vias.
– O comportamento dos nossos motoristas reflete o nosso grau de cidadania e, infelizmente, é causa da maioria dos acidentes. Há disputas veladas dos motoristas entre si e com outros modais – avalia Hardt.
Apesar das tranqueiras crônicas, a situação de Porto Alegre "não é das piores" na avaliação da Empresa Púbica de Transporte e Circulação. A EPTC destaca que os pontos mais críticos estão localizados nas principais avenidas, e acredita que o problema deve ser amenizado após a conclusão das obras de mobilidade que se arrastam há anos.
– Em relação a outros contextos, não estamos em uma situação tão crítica, mas achamos que dá para melhorar. Estamos trabalhando em qualificar estratégias para dar alternativas aos motoristas – diz o diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti.