A maioria dos ciclistas de dez regiões metropolitanas do Brasil, incluindo Porto Alegre, usa a bicicleta como transporte e pedala ao menos cinco dias por semana. Os números estão na pesquisa inédita Perfil do Ciclista Brasileiro, produzida pelas ONGs Observatório das Metrópoles e Transporte Ativo (confira os dados abaixo).
O principal destino dos ciclistas é o trabalho (quase 90%), seguido de lazer, compras e escola/faculdade. Mais da metade dos entrevistados (60%) usa a bicicleta como meio de transporte há menos de 5 anos, mas poucos ciclistas (26,4%) combinam a bike com outro meio de transporte. O tempo médio da viagem está entre 10 e 30 minutos. A maioria dos ciclistas tem entre 25 e 34 anos e renda entre um e dois salários mínimos.
Essa pesquisa mostra que a principal motivação para começar a utilizar a bicicleta como meio de transporte urbano é a rapidez e praticidade. Depois vem saúde e o custo. Sobre os problemas do dia-a-dia: o principal é a educação no trânsito (ou a falta dela). E metade dos entrevistados diz que uma melhor infraestrutura cicloviária daria motivação para pedalar mais.
É o caso da jornalista Letícia Heinzelmann. Ela mora no bairro Rio Branco e há dois meses vai diariamente de bike para o trabalho; dá cerca de 20 minutos. Só que o principal obstáculo para ela não é nenhum dos relatados na pesquisa: "a principal dificuldade é geográfica, não tem nada a ver com políticas públicas: é o fato de que eu moro numa ladeira. Depois vem a questão do trânsito. No meu trajeto, eu praticamente não pego ciclovia. E por eu ser uma ciclista inciante, me coloco muito pouco em situação de risco. Eu percebo que meus amigos que tem uma prática maior se envolvem em mais acidentes".
Este medo de acidentes foi algo pouco sentido pela pesquisa. Foi o que constatou Tássia Furtado, representante da Mobicidade, que organizou o estudo em Porto Alegre. "O que mais surpreendeu nessa pesquisa foi saber que dos usuários de bicicleta, 77% não sofreram nenhum acidente de trânsito enquanto pedalavam. Então esse medo que as pessoas possuem de usar a bicicleta como medo de transporte pode sim ser sanado através do plano cicloviário, desde que ele seja bem feito, porque esse medo acaba não existindo", explica.
Os dados foram apresentados na quarta-feira (08) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Para o Ipea, os números mostram que as cidades precisam cada vez mais dos ciclistas e que o transporte individual se esgotou. Não cabem mais carros nas ruas e nem mais ruas nas cidades.
A pesquisa, realizada entre julho e agosto, entrevistou mais de cinco mil ciclistas em Porto Alegre (RS), Aracaju (SE), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Manaus (AM), Niterói (RJ), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
Abaixo, a pesquisa completa em PDF