A movimentada RS-122 não é apenas problemática para o escoamento da produção da Serra. Ela também oferece risco aos usuários. Campeã de acidentes entre as rodovias administradas pelo Estado em 2014, com 957 ocorrências, a rodovia segue liderando as estatísticas em 2015. Do início do ano até o última sexta-feira, foram 539 ocorrências entre Portão e Campestre da Serra.
Somente no trecho entre a subida da Serra, em São Vendelino, e Campestre da Serra foram 368. A boa notícia é que a rodovia caiu no ranking de mortes. No ano passado, até o dia 11 de agosto eram 19, oito a mais do que neste ano. Isso ainda deixa a rodovia na indigesta 5ª posição neste quesito.
Entre os segmentos na Serra que mais registraram acidentes em 2015 estão o trecho entre Caxias do Sul e Farroupilha, com 144 ocorrências. O segmento entre Caxias e Campestre da Serra tem 111 ocorrências, seguido da descida da Serra, entre Farroupilha e São Vendelino, que registrou 89 acidentes. De acordo com o capitão Evandro José Flores, do 3º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar, a principal causa de acidentes é a imprudência de motoristas em uma via com alto fluxo e problemas de traçado.
"A RS-122 neste trecho Caxias-Porto Alegre é uma rodovia muito pesada, tem um trânsito muito grande de veículos. Sendo uma pista sinuosa, com perímetro urbano, o condutor tem que se adequar à condição da rodovia e isso nem sempre acontece. Se a rodovia tem problema de desenho, eu tenho que procurar reduzir a velocidade porque é um ponto que realmente influencia no acidente".
Entre os pontos que sozinhos registram mais acidentes está o km 69, nas proximidades do viaduto torto, em Caxias do Sul. Até o dia 11 foram 21 ocorrências com três feridos, a maioria abalroamentos. Conforme o capitão Evandro, um dos fatores que contribui para os acidentes nestes ponto é a grande quantidade de retornos.
Em segundo lugar, com 20 acidentes registrados, está o quilômetro 61, no entroncamento da saída de Farroupilha para Porto Alegre. O ponto também liderou os acidentes no ano passado, com 48 ocorrências e uma morte. A explicação para o número elevado é a necessidade de os veículos cruzarem a rodovia tanto para ir quanto voltar da capital. A reformulação do ponto, com ruas laterais e semáforos, deve ser realizada por empresas do entorno e aguarda aprovação oficial do Daer, conforme explica o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Farroupilha, Fabiano Piccoli.
"Acreditamos que irá reduzir toda essa problemática de cruzamentos e de mistura de faixas. Só quem passa seguidamente ou diariamente sabe o pânico que é cruzar esta rodovia" destaca.
O traçado de pista simples e sinuosa também contribui para os tombamentos de caminhões. Em todo o trecho serrano foram 16 no primeiro semestre de 2015 e 27 em todo o ano passado. Para os caminheiros como Júnior Albano, de 38 anos, com quem a reportagem desceu a Serra, qualquer deslize na via estreita pode resultar num acidente, além disso, em caso de pane, não há onde parar.
"Aqui (por onde o caminhão passa) tem um buraco. Você tem que desviar ou cai dentro. Quando você desvia, ou sai na contramão, em cima das tartarugas, ou pelo canto. Se (o motorista) errar e sair da pista, aqui onde não tem acostamento, dificilmente consegue voltar. Vai tombar o caminhão", prevê.
O ponto mais emblemático da RS-122 quando se fala em acidentes, porém, é a Curva da Morte. Desde o início de julho, quando entrou em operação um pardal, apenas três acidentes foram registrados no trecho. Mas a curva em forma de ferradura ainda é uma cicatriz que lembra dezenas de mortes. O projeto de construção de um viaduto já foi elaborado, mas não há previsão para obras. Investimento que segundo o doutor em administração e coordenador do curso de Comércio Exterior da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Roberto Birch Gonçalves, seria a correção de um erro do passado.
"Tanto em Farroupilha quanto em Flores da Cunha para cima, há desenhos muito parecidos com o da curva da morte. Próximo a Antômio Prado fazer novos desenhos seria suficiente, coisa que na curva da morte é mais difícil. Fazer viaduto é mais oneroso porque o erro foi lá atrás. O que esgota nossa rodovia, além do movimento, são projetos muito antigos", sentencia.
Confira a segunda reportagem sobre a RS-122