Com uma circulação média de 400.000 pessoas por dia*, o Centro Histórico de Porto Alegre vive um momento de transformação. As ruas estreitas não comportam mais o grande número de automóveis, que competem diretamente com os pedestres. Um projeto apresentado nessa semana à prefeitura quer transformar o maior centro comercial e bancário do estado nos próximos meses.
A discussão acerca da revitalização do Centro Histórico ganhou forma nessa semana com a estruturação de um Grupo de Trabalho (GT) que tem a missão de dar mais espaço aos pedestres em três das principais ruas do bairro. A ideia, inicialmente proposta pela Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mobicidade) e o escritório de arquitetura 0E1, tem como objetivo “devolver às pessoas” as ruas Doutor Flores, Vigário José Inácio e Marechal Floriano, a partir da restrição das faixas disponíveis aos automóveis.
O pré-projeto, que já foi apresentado ao prefeito José Fortunati, será executado em duas fases. A primeira delas consiste na demarcação do caminho destinado aos pedestres. Nas três ruas serão utilizados fradinhos e a via será pintada para ampliar o espaço do passeio. Em um segundo momento, a área ampliada será nivelada, formando uma espécie de calçada mais larga. A via destinada aos carros vai diminuir de tamanho, permitindo apenas a passagem de um veículo por vez.
Para um dos membros da Mobicidade, Carlos Eduardo Carvalho, a transformação é fundamental para uma mudança de paradigma. “Quando você legitima o espaço que já é usado pelo pedestre, majoritariamente, você muda a visão sobre esse espaço. Aquele que entes era um transgressor, ocupando o transito dos carros, passa a exercer um direito dele’, explica.
A avaliação do projeto foi positiva pela prefeitura, que tem participação no GT através das secretarias de Obras, Meio Ambiente, Indústria e Comércio, Urbanismo e também da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). O diretor-presidente da EPTC garante que a mudança é possível, embora ainda sejam necessários ajustes, principalmente no que diz respeito aos horários de carga e descarga para o comércio local. Vanderlei Cappellari não descarta ampliar a idéia em outras áreas. “Vamos avaliar e, a partir disso, criar um conceito para ampliar o projeto em outras áreas do Centro e da cidade em vias com essas características. Vai depender da colaboração e engajamento entre a prefeitura e sociedade”, avalia
A verba para execução do projeto, segundo Cappellari, virá dos recursos já existentes nos cofres da prefeitura. O Grupo de Trabalho também conta com a participação da Associação de Moradores do Centro Histórico, Sindicato dos Lojistas da Capital (Sindilojas) e Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). O grupo tem 45 dias para apresentar o projeto oficial ao executivo. Se aprovadas, as mudanças começam a ser colocadas em prática no segundo semestre deste ano.
*Dados retirados do Censo Demográfico de 2000, os últimos disponíveis no site da prefeitura