Pela primeira vez na história, cromossomos inteiros em seu arranjo tridimensional foram encontrados preservados no fóssil de um ser vivo. A descoberta de pesquisadores da Rice University, dos Estados Unidos, é inédita. O estudo analisou os restos mortais "excepcionalmente" conservados de um mamute que viveu há cerca de 52 mil anos na Sibéria.
Os cromossomos são estruturas formadas por proteínas, que carregam as informações genéticas de cada ser vivo. O conjunto destas moléculas forma o DNA, que caracteriza individualmente as especificidades dos animais – inclusive, dos humanos.
Habitualmente o DNA se fragmenta em pequenos pedaços logo após a morte, o que dificulta a sua leitura. O processo de decomposição é acelerado pela exposição ao calor, à luz e a umidade, o que torna o estudo publicado na revista Cell ainda mais surpreendente por conseguir identificar uma sequência inteira de cromossomos sequenciados em um fóssil com milhares de anos.
Embora o DNA de um mamute mais antigo já tivesse sido sequenciado anteriormente, é a primeira vez que cromossomos são identificados em seu arranjo tridimensional original, aponta o portal g1. A descoberta possibilita compreender de forma mais aprofundada questões ligadas à evolução e fatores biológicos do Mamute-Ianoso, espécie analisada na pesquisa, além de abrir discussão sobre a "desextinção" de animais.
Orelha congelada
O fóssil do mamute estava no solo congelado do permafrost siberiano, uma região de extremo frio. Os pesquisadores encontraram a sequência de cromossomos em um pedaço de carne seca e congelada, retirada da orelha do animal.
Conforme os pesquisadores, os pelos do mamute estavam intactos, de forma similar ao estado físico do vidro, o que indica que o animal não foi afetado por ciclos de congelamento e descongelamento. Este conjunto de processos deixa a carne congelada e desidratada, o que deixa as moléculas de DNA compactadas e imóveis, preservando estruturar.
— Essa vitrificação fez com que os fragmentos [de cromossomo] se movessem pouquíssimo espacialmente durante todo esse tempo — explicou ao g1 o brasileiro Vinícius Contessoto, pesquisador da Rice University responsável pela parte de modelagem em três dimensões do projeto.
A partir da análise e reconstrução 3D da sequência, os pesquisadores identificaram 28 pares de cromossomos, mesmo número encontrado em espécies vivas de elefantes. Apesar disso, o estudo apontou diferenças na organização das células e, principalmente, em moléculas relacionadas ao crescimento dos pelos, o que indica um processo de mudança e evolução da espécie ao longo dos anos.
Trazer espécies de volta à vida?
A descoberta de estruturas completas de cromossomos abre um discussão delicada no campo da ciência. O estudo representa um importante avanço para trazer de volta à vida espécies extintas há milhares de anos.
A pesquisa permite aprofundar estudos sobre a variação e conservação dos genomas dos seres vivos em seu processo de evolução. Apesar disso, a desextinção de uma espécie poderia representar riscos à biodiversidade atual, apontam especialistas.