Na tarde do dia 14 de outubro, o Brasil poderá acompanhar um eclipse solar anular. No Rio Grande do Sul, o fenômeno será parcial e poderá ser observado a olho nu. Para acompanhar a vista com segurança, porém, é necessário usar equipamentos de proteção. Caso contrário, o evento astronômico pode causar danos irreversíveis aos olhos.
O movimento da Terra ao redor do Sol e da Lua ao redor da Terra não forma um círculo perfeito, mas uma órbita elíptica. Em poucos dias, esses astros estarão alinhados, e a Lua cobrirá uma parte do Sol, permitindo que os gaúchos vejam uma forma semelhante com a do personagem Pac-Man no céu. Segundo o astrônomo fundador do Observatório Astronômico Rei do Universo (Oaru), em Manaus, Geovandro Nobre, Porto Alegre conseguirá ver a cobertura de apenas 17% do Sol.
— As radiações emitidas pelo Sol, principalmente as ultravioletas, são o grande risco. Como parte do Sol estará coberto, o brilho ficará menor, deixando o céu mais escuro, mas as radiações seguirão presentes. A diminuição do brilho, mas não da radiação, faz com que a nossa pupila não se contraia ao olhar para o Sol. Isso pode causar uma queimadura — explica a oftalmologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Daniela Osorio Alves.
Todas as vezes que olhamos diretamente para o Sol corremos o risco de sofrer queimadura ocular, na sua superfície ou na retina. A diferença é que, em dias normais, o olho conta com um reflexo protetor: a contração da pupila, para restringir a quantidade de luz que entra. Com o brilho menor, mas a mesma propagação de radiação, qualquer pedacinho aparente do Sol durante um eclipse solar pode ser danoso.
Daniela pontua, ainda, que poucos segundos de observação desprotegida já são o suficiente para causar danos aos olhos. Os sintomas da queimadura começam a aparecer algumas horas depois, podendo causar irritação nos olhos, vermelhidão e ardência. A pessoa também pode sentir como se tivesse areia no olho ou, ainda, enxergar imagens desfocadas ou com um ponto preto.
— A queimadura na superfície ocular tende a se resolver em até 10 dias. O paciente costuma usar colírio lubrificante e nada mais. Já a queimadura da retina não tem tratamento, podendo melhorar ou não com o passar dos meses. Pode demorar até seis meses para ser resolvido, ou ficar para sempre — acrescenta a oftalmologista.
Equipamentos recomendados
Para observar o eclipse solar com segurança, é necessário utilizar óculos especiais ou filtros específicos para esse fim. Óculos de sol normais, chapas de raio-x e vidros escuros não são recomendados. Olhar para o fenômeno através de uma câmera ou de um binóculo sem proteção adequada também pode causar danos aos olhos.
É possível encontrar óculos com os filtros corretos para vender, especialmente na internet. A oftalmologista chama atenção para uma recomendação, normalmente informada pelos fabricantes: é preciso ser do padrão ISO 12312-2. O filtro poliéster aluminizado e o filtro polímero preto são alguns dos exemplos de materiais sugeridos para essa observação.
Nobre, do Oaru, conta que é comum os observadores usarem filtro de soldador número 14, uma alternativa mais acessível. Segundo Daniela, o material do soldador não tem estudos científicos em oftalmologia para uso com a finalidade de observação do sol. Isso não significa que não seja seguro, só que não foi testado para esse fim.
— Mas a radiação solar causa a mesma queimadura que a solda causa. Atendo bastante paciente soldador que trabalhou usando filtro antigo ou estragado, e o dano é o mesmo. Então pode ser uma alternativa. Caso o observador não tenha nenhum desses materiais de proteção, é melhor esperar para ver o eclipse pelas imagens que saem na internet mais tarde — aconselha.
*Produção: Yasmim Girardi