Uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), divulgada recentemente na revista de Gestão de Água da América Latina, mostrou que, para cada real investido em monitoramento e previsão de inundações no Estado, haveria uma economia da ordem de R$ 18 a R$ 27 em danos evitados.
Conforme o estudo, o custo total com danos causados por inundações no RS chegou a cerca de R$ 3,5 bilhões no período entre 2002 e 2022, resultando em uma média anual de cerca de R$ 172,3 milhões. Para o custo com o desenvolvimento do sistema, o valor anual calculado, incluindo uma taxa de 25% de impostos, foi de R$ 382,5 mil. Já o custo para a operação do sistema, mensalmente, seria de R$ 143,3 mil, também considerando impostos — ou seja, R$ 1,7 milhão anualmente. Entre as atividades previstas no estudo, estão coleta, análise e consistência de dados, calibração e validação do modelo hidrológico.
— Estes números mostram que vale a pena investir em mais monitoramento e no desenvolvimento contínuo de sistemas de alerta. Em especial, neste ano, em que esperamos mais eventos extremos de cheias no nosso Estado em função do El Niño forte — alerta Fernando Mainardi Fan, doutor em Recursos Hídricos, professor do IPH e coautor da pesquisa, ao lado da engenheira hídrica Lara Cruz Nonnemacher .
O docente destaca alguns outros trabalhos do IPH, como a parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), que consiste em descobrir qual a técnica mais apropriada para o mapeamento de inundações em grandes rios que banham cidades.
— Buscamos novos produtos topográficos que permitam mapear melhor onde as águas atingirão em casos de inundação e o estudo dos impactos de mudanças climáticas sobre o aumento destas ocorrências — explica Mainardi.
Outros projetos incluem a colaboração com empresas, privadas e públicas, para comparação de ações que podem ser usadas para previsão hidrológica de eventos de cheia. O carro-chefe do grupo de pesquisa, no entanto, é o desenvolvimento de um modelo hidrológico para prever inundações alimentado com dados de chuvas observadas e previstas.
— Engenheiros ou outros profissionais da área ambiental que se dedicarem em aprender com os manuais e documentação dele podem desenvolver modelos de previsão — sugere Mainardi, lembrando que este modelo é adotado, por exemplo, na Sala de Situação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS (Sema).
É preciso avançar
O professor entende que a capacidade em prever e em se prevenir contra desastres tem aumentado ao longo das últimas décadas, no RS e também em Santa Catarina. No entanto, apesar dos avanços, também acredita que existem ainda várias deficiências na emissão de previsões e, assim, diminuir o impacto de desastres.
— Em especial, gostaria de destacar o caso da bacia do Taquari-Antas. O monitoramento automático das chuvas na região, com pluviômetros, em especial nas cabeceiras, é muito precário, o que dificulta um correto cálculo do tamanho das cheias que serão geradas pela chuva — comenta.
Da mesma forma, Mainardi diz que existem poucas estações de medições de nível nos rios menores, que servem para balizar ações durante o evento e aprimorar as previsões dos modelos de previsão.
Tema não é novo
As mudanças climáticas não são um tema novo nas pesquisas. O IPH, por exemplo, foi criado em 1953. Dedicado aos usos da água, preservação, conservação, recuperação e saneamento ambiental, a atuação do instituto é reconhecida inclusive fora do RS, com pesquisas desenvolvidas em diversas linhas. Entre elas, clima, recursos hídricos e desastres naturais hidrológicos.
Segundo o atual reitor da UFRGS, Carlos André Bulhões, o instituto tem o primeiro programa de pós-graduação da América do Sul a se especializar em estudos e análises de recursos hídricos.
— Há uma interação entre os trabalhos teóricos de instituições em todos os continentes. O objetivo inicial é sempre sair do plano das ideias, quando a universidade pode contribuir, propondo soluções, e chegar a materializar resultados. Mas é a parte política que pode colocá-las em prática — refere Bulhões, que é engenheiro civil, com doutorado em Planejamento de Recursos Hídricos.
Investimento federal
Recentemente, o governo federal relançou o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, que garantirá recursos para apoiar projetos, estudos e empreendimentos voltados à redução de emissões de gases de efeito estufa e à adaptação aos efeitos sentidos recentemente e que deverão se intensificar. O aporte será de R$ 10 bilhões, dos quais R$ 2 bilhões já foram contratados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O chamado Fundo Clima vai disponibilizar recursos nas modalidades reembolsável, administrados pelo BNDES, e não-reembolsável, operados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).