Guru da inovação e da tecnologia em Israel, o investidor Itai Green, 48 anos, defende que, se empresas querem inovar, é preciso recorrer às startups. Green é fundador da Innovate Israel, consultoria que conecta grandes empresas multinacionais às startups israelenses, que são contratadas para desenvolverem soluções de negócios. Ele atua em diversos segmentos em Israel, país menor que o RS: turismo, bancos, informações e consumo. O empresário veio a Porto Alegre na semana passada para palestrar no CEO Fórum e no Colégio Israelita. Antes do evento na instituição de ensino, na noite de quinta-feira (29), ele concedeu a GZH uma rápida entrevista. Veja a seguir:
Israel se tornou um país famoso por ser um centro de startups. Você poderia explicar por quê?
Estamos cercados por inimigos, então não temos outra alternativa senão sermos supercriativos e empreendedores para sobreviver. E, é claro, temos o Exército, que depende muito da tecnologia. Essas são boas razões para sermos uma nação de startups, para promovermos o crescimento de empreendedores e a inovação. E, é claro, a cultura.
O que há na cultura israelense?
Por exemplo, colaboramos muito. E quando as pessoas colaboram, todas saem ganhando. Até mesmo concorrentes colaboram em Israel. Todo o sistema tecnológico colabora e compartilha. Eles não compartilham segredos, mas compartilham informações. Quando você compartilha, você ganha.
Que lições podemos tirar de Israel para termos um ecossistema inovador?
A principal lição é o nível de abertura dos líderes corporativos. Eles perceberam que, para sobreviver, precisam adotar muita tecnologia das startups. Isso é um grande catalisador para tudo. É uma questão de mentalidade. Desde que os líderes corporativos entendam isso, tudo se torna catalisador. As startups estão trazendo soluções para os desafios das corporações.
Há algo que o governo israelense faz que outros governos poderiam fazer?
No passado, na década de 1990, eles fizeram mais. O governo incentivava investidores a aplicarem em tecnologia. Ele garantia os investimentos. Se eles falhassem, o governo os protegeria, dando uma espécie de proteção ao investidor. Se eles perdessem, o governo cobriria a maior parte. Outra opção era que, para cada centavo que o investidor investisse, o governo investiria mais um centavo. Isso ajuda a crescer o ecossistema.
Como membro de vários conselhos consultivos de startups, qual é o erro mais comum que as startups costumam cometer?
Encontrar um sócio inadequado. É como um casamento. Se os fundadores não conseguem trabalhar bem juntos, isso é um fracasso. Esse é o principal erro. É preciso encontrar o sócio certo e o cofundador adequado.
Quais seriam sinais de um sócio inadequado?
Quando não se consegue chegar a acordos, quando a relação tem muitos conflitos e não se consegue avançar rapidamente. Startups não têm tempo para discussões. É preciso executar.
A covid afetou nossa economia. Muitas empresas fecharam enquanto outras foram criadas. Você acha que a pandemia nos tornou mais inovadores?
Muito mais. A pandemia foi um grande catalisador para a inovação. Vemos cada vez mais startups surgindo. E temos mais desafios. Muitas grandes corporações perceberam que precisam inovar com startups.
O que mudou devido à pandemia?
Os tomadores de decisão entenderam que, se não inovarem, não estarão conosco. Tudo se move rapidamente. Não se pode inovar internamente, é preciso colaborar com as startups. Eles perceberam isso e perceberam que precisam se comunicar melhor com seus clientes de forma digital e eficiente. Não se alcança eficiência a menos que se utilize a tecnologia.
Isso é algo que você menciona frequentemente, que as empresas devem inovar agora ou morrer depois. Por quê?
Tudo se move tão rapidamente. Pegue a inteligência artificial, por exemplo. Aquele que a desprezou não estará mais entre nós. É tão simples assim. A tecnologia costumava ser um obstáculo muitos anos atrás, mas agora é um habilitador. Se você não a utiliza, seu concorrente o faz. Essa é a história. Israel está cercado de inimigos, então precisamos inovar para lutar e vencer. As grandes corporações também estão cercadas por concorrentes. Elas estão sob ameaça. Se não adotarem a tecnologia, perderão seus negócios.
Como podemos desenvolver um espírito inovador nas crianças?
Através de muito ensino, educação e encontros com empreendedores, que são inspiradores.
O Google tem um conjunto de princípios que regem suas pesquisas em inteligência artificial. Você acha que isso também deveria ser regulamentado por leis?
Muitos países estão em diálogo sobre isso e discutindo o assunto. Acredito que será relativamente fácil chegar a um acordo com empresas de IA em relação a um certo nível de regulamentação. É algo necessário. Alguns países estão liderando esse esforço e criarão o quadro regulatório.
Você costuma defender a importância da inovação aberta. O Netflix realizou uma competição para o melhor algoritmo de filtragem de preferências de filmes e séries. Como as empresas podem implementar a inovação aberta?
Aumentando o nível de colaboração interna e o envolvimento das pessoas corporativas com as startups. Caso contrário, nada acontece. E sempre estar em contato com o sistema tecnológico, entender o que o cerca e o que está acontecendo. Ter os braços abertos para sentir as tendências. Conhecer as startups e o que está acontecendo, para não ser surpreendido.
No Brasil, costuma-se dizer que é difícil ter uma ponte entre as universidades e o mercado. O que Israel faz a respeito?
Simplesmente se conhecer, discutir, remover obstáculos, conversar. As universidades devem compartilhar seu conhecimento e as empresas, suas necessidades. Então, há uma conexão.
Quais são as novas tendências em Inteligência Artificial às quais devemos prestar mais atenção?
Especialmente nas áreas de vendas, mercado e engenharia de software, que serão mais afetadas. São áreas com muita necessidade de automatização de processos e é relativamente fácil de fazer com IA.