O trabalho da astrofísica brasileira Lia Medeiros, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados dos Estados Unidos, ajudou a tornar mais nítida a primeira imagem de um buraco negro já registrada. O resultado da pesquisa, realizada com outros cientistas do projeto de colaboração internacional Event Horizon Telescope (EHT), foi divulgado nesta quinta-feira (13), no Astrophysical Journal. Com informações do G1.
Na fotografia original, divulgada quatro anos atrás, o buraco negro M87*, também conhecido como Pōwehi, que está a 50 mil anos-luz de distância da Terra, aparece com uma região central maior e mais escura e cercado por gás brilhante e superaquecido, que ganha a forma de uma "rosquinha" que paira ao seu redor. Na época, a rede EHT, que reunia sete radiotelescópios espalhados por diversos países, foi a responsável por fazer o registro. A mesma rede divulgou, no ano passado, a primeira imagem do buraco negro da Via Láctea.
Para obter a nova imagem, os pesquisadores tiveram que fazer uma análise e uma combinação virtual dos dados de cada um dos observatórios do EHT. No entanto, para fechar as lacunas e os dados não registrados. a equipe precisou recorrer a um programa de computador, que analisou mais de 30 mil imagens simuladas de buracos negros. Com isso, foi possível obter uma representação altamente precisa de observações reais do Event Horizon Telescope.
O programa de computador conseguiu fornecer uma estimativa altamente fiel dos dados ausentes na primeira fotografia do objeto astronômico. A partir disso, os astrofísicos conseguiram, com uso de Inteligência Artificial (IA) e algoritmos, gerar uma imagem mais nítida.
— O algoritmo aprende como diferentes regiões na imagem se relacionam umas com as outras, e usa essa correlação para preencher os dados que estão faltando — enfatizou a brasileira, em entrevista ao G1.
A convergência de todas essas informações em um único instrumento foi o que conferiu a impressão de maior nitidez na fotografia recém-divulgada.
Importância da pesquisa
O estudo foi realizado com o objetivo de proporcionar uma imagem com maior definição e riqueza de detalhes do objeto de interesse, o M87*, para facilitar e incentivar novos estudos sobre esse buraco negro. A partir do resultado obtido, é possível, por exemplo, estimar com maior precisão a massa do Pōwehi , bem como os parâmetros físicos que determinam sua aparência atual
— Com a primeira imagem de M87* aprendemos muito sobre o buraco negro em si e sobre como ele engole a matéria ao seu redor. Agora, com essa nova imagem mais nítida, vamos poder fazer novos testes da gravidade e aprender mais ainda sobre o que está acontecendo com a matéria ao redor do buraco negro — explicou Lia.
O futuro do trabalho
O algoritmo utilizado na pesquisa de Lia foi apelidado pelo acrônimo em inglês Primo. Ele pode ser definido como uma sequência de instruções que é seguida pelo computador.
Em fevereiro desse ano, a pesquisadora e sua equipe publicaram no Astrophysical Journal um estudo que detalha o funcionamento do PRIMO. Os cientistas esperam que essa técnica possa ser utilizada em outras áreas, como na Medicina.
— A foto de 2019 foi só o começo. Se uma imagem vale mais que mil palavras, os dados subjacentes a essa imagem têm muito mais histórias para contar — afirmou Lia, otimista, ao G1.