Será o fim dos carregadores incompatíveis lotando gavetas? A União Europeia quer impor um carregador universal para smartphones e outros dispositivos eletrônicos, em nome dos direitos do consumidor e do meio ambiente. O projeto desperta a oposição da gigante norte-americana Apple.
O regulamento proposto nesta quinta-feira (23) pelo órgão europeu, que terá de ser aprovado pelos eurodeputados e Estados-membros, visa harmonizar as portas de carregamento para smartphones, tablets, câmeras, fones de ouvido, alto-falantes e consoles de jogos portáteis, e pode ameaçar os cabos de conexão dos iPhones do grupo californiano.
O projeto foi apresentado em 2009 e foi objeto de uma resolução do Parlamento Europeu em janeiro de 2020, mas até agora encontrou forte relutância por parte da indústria, embora o número de tipos de carregadores existentes tenha reduzido ao longo dos anos.
De cerca de 30, em 2009, caíram para três agora: o conector Micro USB que há muito equipa a maioria dos telefones, USB-C, uma conexão mais recente, e o Lightning usado pela Apple.
A UE agora quer impor a porta USB-C a todos os dispositivos eletrônicos, o que permitiria o uso de qualquer carregador, enquanto a harmonização das tecnologias de carregamento rápido garantirá a mesma velocidade de carregamento - evitando que se quebre quando usado com um dispositivo de uma marca diferente. Ou seja, Android carregaria em Iphone e vice-versa.
Logicamente, Bruxelas pretende dissociar a venda de dispositivos eletrônicos e carregadores:
— Uma vitória para os consumidores e para o meio ambiente (...) Os europeus estão fartos de carregadores incompatíveis que se amontoam nas gavetas — declarou a comissária responsável pela Concorrência Europeia, Margrethe Vestager, citada em um comunicado à imprensa.
— Demos ao setor muito tempo para encontrar soluções. Agora, chegou a hora de legislar — insistiu.
A Apple, que afirma que sua tecnologia Lightning equipa mais de um bilhão de dispositivos em todo o mundo, imediatamente reiterou sua oposição.
"Este regulamento sufocaria em vez de encorajar a inovação e prejudicaria os consumidores na Europa e em todo o mundo", disse o grupo.
A empresa, que afirmou no ano passado que tal legislação geraria "um volume sem precedentes de lixo eletrônico" ao tornar obsoletos alguns dos carregadores em circulação, está alarmada com a transição de 24 meses proposta pelo bloco, considerada precipitada.
A Comissão retruca, afirmando que os consumidores europeus gastam cerca de 2,4 bilhões de euros por ano apenas na compra de carregadores e que poderiam economizar, pelo menos, 250 milhões de euros anuais. Sobre o desperdício de carregadores não utilizados, o órgão estima que seja 11 mil toneladas por ano e que poderia ser reduzido a quase mil toneladas.
O projeto da União Europeia garante que a capacidade de inovação das empresas será preservada - em particular nas técnicas de carregamento sem fio, que estão excluídas do projeto porque ainda estão em fase de desenvolvimento num mercado que atualmente "não está muito fragmentado".
A associação ANEC, que defende os direitos dos consumidores, acolheu favoravelmente o projeto, embora lamentando que os sistemas sem fio não estejam inclusos.
— É fundamental evitar a fragmentação nesse nicho! Como a legislação vai demorar para ser discutida e adotada, também deve abranger o carregamento sem fio que se tornará prevalente em alguns anos — argumenta a ANEC.