Apenas oito minutos antes da hora prevista, que era às 3h07min da madrugada deste sábado (20) pelo horário de Brasília, o lançamento do foguete russo Soyuz-2 do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, foi adiado. O novo lançamento foi remarcado para exatas 24 horas depois. A informação foi divulgada pela Agência Espacial Russa Roskosmos e acompanhada por autoridades brasileiras por uma live.
Entre os 37 satélites que iriam ao espaço, um deles, o NanoSatC-BR2 é brasileiro, desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), instituições ligadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O pesquisador e diretor da Coordenação Especial do Sul (Coesu) do Inpe, Nelson Schuch, que é coordenador geral do Programa NanoSatC-BR, diz que o adiamento não é nada extraordinário.
- Isso é muito comum, é normal acontecer esse tipo de coisa na nossa atividade. Há atenção a todos os mínimos detalhes. Qualquer coisa que possa prejudicar o lançamento, é prorrogado. Vamos ver como vai ser no domingo, mas, a princípio, desta vez deve dar tudo certo - afirma.
Além de Schuch, participavam da live o ministro Marcos Pontes, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, e da reitoria da UFSM, o reitor Paulo Burmann. Também participaram da transmissão, mas direto do Cazaquistão, os professores da UFSM que foram acompanhar a ação: Andrei Piccinini Legg, do curso de Engenharia de Telecomunicações e coordenador do projeto de lançamento, e Eduardo Escobar Bürger, do curso de Engenharia Aeroespacial e coordenador local de Engenharias do Programa Nanosatc-BR.
Segundo a agência de notícias AFP, o chefe da Agência Espacial Russa disse que o adiamento foi devido a uma "sobretensão" detectada antes do lançamento.
OBJETIVOS
O nanossatélite vai ser lançado na chamada órbita baixa terrestre, a cerca de 600 quilômetros da superfície do planeta. O objetivo é estudar e monitorar, em tempo real, distúrbios observados na magnetosfera, a intensidade do campo geomagnético e a precipitação de partículas energéticas sobre o território brasileiro.
Na prática, segundo o coordenador do projeto, Nelson Schuch, o nanossatélite vai monitorar as influências de partículas magnéticas emitidas pelo Sol sobre o território brasileiro. Isso porque a área do Atlântico Sul, onde está o Brasil, tem seu campo magnético mais frágil em relação a outras partes do Planeta.
- O campo magnético da Terra é como se fosse um imã. E temos uma anomalia magnética no Atlântico Sul. Nessa região tem uma espécie de depressão, que faz com que as partículas que vêm dos raios cósmicos que estão viajando pelo espaço entrem com mais profundidade na nossa atmosfera do que em relação a outras regiões. Ou seja, o nosso campo magnético é mais fraco e essas partículas se aproximam mais do nosso solo. Por isso, é muito importante se fazer esse monitoramento - explica Schuch.
Esse fenômeno de chama Anomalia do Atlântico Sul. Conforme o pesquisador, o campo magnético nesta região é dois terços mais fraco do que no resto do mundo. Como essas partículas ingressam mais próximo da superfície, elas podem prejudicar o funcionamento de uma série de setores.
- Nas telecomunicações, por exemplo. Você está com um problema no celular, ele não está funcionando, isso pode ser em função dessas partículas espaciais. Pode haver falha na distribuição de energia elétrica até podendo causar apagões, podendo, inclusive, queimar transformadores. Tudo em razão desses fenômenos. Por isso é importante monitorarmos o que está acontecendo com o sol, e o melhor sistema para fazermos isso é por esses satélites - exemplifica Schuch.
Além do NanoSatC-BR2, outros 36 satélites de 18 países serão colocados em órbita. O custo estimado do nanossatélite santa-mariense, entre desenvolvimento, lançamento e operação, é de cerca de R$ 3 milhões