Empresas que tinham uma gestão financeira fora dos eixos sentiram mais a atual crise trazida pelo coronavírus, enquanto as organizadas têm enfrentado a turbulência com mais vigor. A constatação é de Frederike Mette, pesquisadora e professora da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS).
Mas, para aquelas que não fizeram a lição de casa, nem tudo está perdido. Mudar o foco do negócio, cortar despesas e reorganizar o fluxo de caixa podem ajudar a atravessar a crise até que a economia volte a girar - e isso ainda vai demorar para acontecer. Frederike é uma das palestrantes do Innovation Weekend, que ocorre nos próximos dias 26 e 27.
Quais empresas estão conseguindo sobreviver a este período de dificuldades econômicas trazidas pela pandemia?
Quando temos um cenário econômico favorável, a empresa com um mínimo de controle tende a ser bem sucedida. Se tem uma boa gestão, vai ter faturamento crescente, lucro, sobra de caixa. Por outro lado, uma gestão financeira falha não se revelará, pois os fatores externos estarão encobrindo. Com o cenário atual, fica mais claro quem não estava preparado. As empresas que estão conseguindo sobreviver são as que tinham gestão financeira, capital de giro, reserva de emergência, ou seja, se sustentaram sem entrada de recursos. É como uma pessoa física, se estava equilibrada, não sofreu tanto. O segredo é ter controle e organização.
Como evitar que um período aquecido em vendas encubra os erros na gestão do negócio?
Tem que olhar com cuidado o dinheiro ou caixa, não é porque estou lucrando muito que tenho boa gestão. Se mantenho capital de giro, reservas, estrutura de gastos, pesquisa com fornecedores, negociação de juro, isso tudo favorecerá quando a crise chegar.
E é possível fazer essa organização agora, em meio à crise?
Sim, há algumas formas. Para começar a gerar caixa, uma possibilidade é tentar fazer reposicionamento no mercado. Às vezes vendo algo premium para o segmento mais caro. Mas, em momentos de crise, não se consome bens supérfluos. Então o caminho pode ser buscar uma nova linha em escala ou em massa pra gerar faturamento. Outra é apostar em novos canais de venda, apostando nos digitais e no delivery.
E pelo lado das despesas, o que dá para fazer?
É preciso olhar as contas fixas e dívidas e dar prioridade de pagamento. Tem contas não tão essenciais, mas há aquelas de juro muito alto que precisam ser pagas antes. Também é preciso tentar renegociar com fornecedores, redução de aluguel etc.
Por quanto tempo as empresas ainda terão de esperar até que a economia melhore?
Nos próximos meses não teremos melhora tão rápida, é mais médio e longo prazo, acima de um ano. Nos próximos 12 meses, as empresas vão engatinhar muito e olhar com carinho pra a área financeira. Mesmo que tenha liberação mais ampla do comércio e dos serviços no país, o consumidor não terá poder de compra, por enquanto. Ainda estamos em meio a uma incerteza sobre quando isso tudo vai passar.
É um bom momento para empreender?
Depende do tipo de empreendimento. Não adianta investir em uma franquia que só tem loja física. Grupo de risco não vai sair de casa tão cedo. Iniciar uma empresa do zero tem a vantagem de você já começar com uma cultura corporativa ligada aos novos tempos. Esses novos tempos anunciam consumidores que estarão mais inclinados a valorizar o ser humano, em busca de empresas que busquem igualdade social.