Iret-Neferet, o crânio pertencente a uma mulher de 40 anos que viveu no Egito entre 768-476 antes de Cristo, ganhou um rosto com a ajuda da técnica de reconstrução facial em imagem tridimensional (3D). Identificada oficialmente em maio deste ano, depois de passar as últimas décadas preservada numa caixa de vidro no museu do Centro Cultural 25 de Julho, na cidade de Cerro Largo, no Noroeste do Rio Grande do Sul, a múmia terá a face apresentada na próxima quinta-feira (15), durante o evento "Achados sobre a Múmia Iret-Neferet", no auditório Irmão José Otão, no Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) .
A peça teve a identificação confirmada pelo pós-doutor em História, pesquisador e caçador de relíquias Édison Hüttner, também coordenador do Grupo de Estudo Identidades Afro-Egípcias da PUCRS. As pesquisas para a confirmação de que se tratava de uma múmia duraram um ano e envolveram até o exame para datação por radiocarbono (C14), realizado num laboratório nos Estados Unidos. A múmia autenticamente egípcia é uma das duas identificadas hoje no Brasil - a outra, chamada de Tothmea, está no Museu Egípcio e Rosa Cruz, em Curitiba (PR).
Referência no Brasil em reconstrução facial forense, o 3D designer matogrossense Cicero Moraes, foi contatado pelo arqueólogo Moacir Elias Santos para dar uma identificação à Iret-Neferet. Ele baseou-se nas imagens de tomografia do crânio para criar um modelo virtual e tridimensional correspondente à estrutura anatômica.
Depois, esculpiu digitalmente e detalhou o rosto, o tom de pele e os cabelos a partir das informações repassadas por Santos, especialista em Egito Antigo, coordenador do projeto Tothmea, no Museu Egípcio e Rosa Cruz, em Curitiba (PR), e integrante do Museu de Arqueologia Ciro Flamarion Cardos, em Ponta Grossa (PR). O cirurgião bucomaxilofacial Éder Hüttner, responsável pelo laudo que identificou nove dentes intactos no crânio e o próprio caçador de relíquias também auxiliaram com informações.
De acordo com os especialistas, o crânio identificado no Rio Grande do Sul tem extrema relevância para o Brasil. A perda das seis múmias egípcias - cinco trazidas por Dom Pedro I, em 1826, e outra trazida por Dom Pedro II, em 1875 - e de todo o restante da coleção que estava no Museu Nacional deixou o país praticamente órfão desta parte da história dos povos antigos. Atualmente, há apenas um exemplar em exposição, a Tothmea, no museu do Paraná, cuja reconstrução facial também foi feita por Moraes.
Depois de ser divulgado no evento da PUCRS, o crânio será levado de volta para Cerro Largo, na próxima sexta-feira (16). No domingo (18), haverá uma apresentação oficial durante festa no salão da Paróquia Sagrada Família de Nazaré, onde Hüttner mostrará como foi realizada a pesquisa. Iret-Neferet ficará exposta no museu da cidade até outubro.
EVENTO NO HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUCRS
O que: Mesas redondas "Achados sobre a Múmia Iret-Neferet"
Quando: 14 e 15 de agosto, a partir das 19h30min
Onde: auditório Irmão José Otão, Hospital São Lucas da PUCRS
Inscrição é gratuita e será feita no local
EVENTO EM CERRO LARGO
O que: Iret-Neferet: a múmia egípcia de Cerro Largo
Quando: 18 de agosto, a partir das 10h
Onde: salão da Paróquia Sagrada Família de Nazaré
EXPOSIÇÃO EM CERRO LARGO
Quando: de 22 de agosto a 13 de outubro, de quinta a domingo, mediante agendamento
Onde: Museu 25 de Julho
Informações: (55) 3359-2013 ou (55) 3359-1732