A gigante da telefonia móvel chinesa Huawei anunciou nesta sexta-feira (9) que irá abrir a sua terceira fábrica no Brasil, agora para a montagem de celulares em uma cidade ainda a ser definida em São Paulo. O investimento anunciado é de US$ 800 milhões (R$ 3,31 bilhões hoje) de 2020 a 2022, e visa preparar a empresa para participar do leilão da telefonia 5G no Brasil, marcado para março do ano que vem.
O anúncio ocorreu no penúltimo dia da visita do governador João Doria à China e foi celebrado pelo tucano como o mais importante da missão empresarial que passou a semana abrindo canais com empresas chinesas. Até aqui, com exceção de um negócio lateral de R$ 25 milhões para exportação de sapatos infantis, havia memorandos de entendimento e protocolos de intenção.
— Agora temos perspectivas de US$ 24,8 bilhões em investimentos que os chineses se mostraram interessados — disse, corrigindo o número inicial de US$ 24 bilhões citado em balanço da viagem mais cedo, em Xangai.
A diferença é que os US$ 800 milhões estão contratados agora, que se somam a outros US$ 4 bilhões potenciais do setor privado chinês – o restante da cifra é o tamanho dos projetos públicos que interessaram estatais chinesas de infraestrutura.
A telefonia 5G é um dos campos de batalha tecnológica mais agitado no mundo hoje. Prometendo ultraconectividade, a banda viabiliza a chamada internet das coisas – carros, casas, escritórios em rede. A disputa geopolítica entre China e Estados Unidos se dá aqui também, e a Huawei enfrentou diversas sanções e ameaças do governo de Donald Trump –chegou a ter executivos presos no Exterior e sofreu um veto de negócios com seus fornecedores de tecnologia americanos.
Especialistas em tecnologia apontam o risco de todo o mundo da internet acabar dividido entre produtores chineses e americanos, inclusive sem compatibilidade entre padrões. Pressionada, a Huawei fechou negócios para instalar o 5G da Rússia e da Coreia do Sul recentemente, e vai disputar leilões não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Mais mil empregos no interior de SP
Hoje a empresa tem uma unidade de serviços de fibra óptica em Manaus e uma fábrica que emprega 2 mil pessoas para produzir infraestrutura de apoio às operadoras de telefonia que já utilizam seus serviços em Sorocaba, no interior de SP.
A próxima unidade promete empregar mil pessoas.
— Faremos aparelhos 5G para o Brasil e para países da América do Sul — disse Atílio Rulli, diretor de Relações Públicas e Governamentais da empresa no Brasil, que se reuniu com Doria ao lado do vice-presidente da Huawei, Steven Shen.
Há questões em aberto. Segundo o secretário Henrique Meirelles (Fazenda), pode haver estudo de mudança de regime tributário para favorecer a instalação da empresa – a Zona Franca de Manaus cobra impostos de forma diferenciada, o que dificulta a competição no setor.
— Não será guerra fiscal — disse, se adiantando à crítica já recebida quando montou o programa de incentivos para a permanência de montadoras de automóveis em São Paulo, no começo do ano.
Segundo Rulli, a montagem dos celulares terá o índice de nacionalização de componentes que for estabelecido no leilão pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Se ganhar o leilão, a empresa promete colocar a infraestrutura básica do 5G em pé em um ano.
Além da fábrica, a Huawei irá investir no novo polo de incubação tecnológica desenvolvido pelo governo paulista.
— Estivemos em unidades chinesas e vimos demonstrações de aplicações da internet das coisas e inteligência artificial. É impressionante — afirmou a secretária Patrícia Ellen (Desenvolvimento Econômico).
Ela lista saúde, cidades conectadas e agronegócios como as áreas em que a tecnologia apoiada pela Huawei terá maior impacto em São Paulo.
*O jornalista Igor Gielow viaja a convite da InvestSP