A pesquisadora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Ethel Antunes Wilhelm, 31 anos, é uma das sete vencedoras do prêmio Para Mulheres na Ciência, oferecido pela L'Oréal Brasil, em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). A bioquímica gaúcha, que coordena o Laboratório de Pesquisa em Farmacologia Bioquímica (LaFarBio), estuda os efeitos adversos da quimioterapia em idosos e foi contemplada pelas pesquisas em que busca promover qualidade de vida para os pacientes em tratamento de câncer.
A distinção garante à professora do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos da UFPel uma bolsa de R$ 50 mil. Ethel foi selecionada entre 524 inscritas, um recorde de participação no prêmio, que neste ano chega à sua 13ª edição, sempre com o objetivo de fomentar a participação feminina na ciência, promovendo a igualdade de gênero nas pesquisas. A entrega da premiação será em 4 de outubro, no Rio de Janeiro.
Natural de Rolador, município de apenas 2,5 mil habitantes na região Noroeste do Rio Grande do Sul, Ethel fez toda sua formação acadêmica na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM): graduou-se em Química em 2008, concluiu o mestrado em 2009 e defendeu sua tese de doutorado em 2012. Em 2013, passou em concurso para ser professora da UFPel.
— Sou do Interior do Interior: o local onde você nasce não é uma limitação — destacou a pesquisadora, em entrevista por telefone a GaúchaZH (confira abaixo).
Anualmente, os jurados escolhem trabalhos com potencial de encontrar soluções para importantes questões ambientais, econômicas e de saúde. A distinção é dividida em quatro categorias: Ciências da Vida, Química, Matemática e Física.
Entrevista: Ethel Wilhelm
No que consiste a sua pesquisa?
Um dos objetivos do estudo é tentar elucidar o papel do envelhecimento, de algumas proteínas antioxidantes, na manutenção da neuropatia, um tipo de dor crônica que se desenvolve após o uso de quimioterápicos. O objetivo é tentar entender como isso se desenvolve, em especial nos idosos e, depois, buscar uma nova alternativa terapêutica para melhorar a qualidade de vida desses pacientes com câncer.
Qual a importância de receber esse prêmio?
Sei do prêmio há bastante tempo, conheço várias outras professoras que já foram contempladas. Concorri em outras edições, e felizmente neste ano fui escolhida. Quando recebi a ligação do presidente da ABC, não acreditei: estamos em um momento em que a ciência brasileira está desacreditada, e quando vem uma iniciativa dessas, incentivando jovens pesquisadoras... é uma honra.
Isso vai incentivar mais alunos e alunas a se tornarem cientistas?
O prêmio é importante primeiro porque reconhece nosso trabalho, até dentro da própria família, do círculo de amigos. Então isso demonstra para a comunidade em geral o que está sendo desenvolvido. E com certeza inspira outras meninas, outras mulheres, e homens também a continuar fazendo ciência, embora o governo não tenha se dedicado a incentivar a pesquisa brasileira.
Diante de um cenário de baixo investimento na ciência, o quanto essa bolsa é bem-vinda?
Em tempos de cortes orçamentários drásticos, um prêmio de R$ 50 mil não resolve o problema, mas com certeza ajuda a sustentar as pesquisas no laboratório. Para jovens pesquisadoras, é um grande incentivo.
As cientistas premiadas
- Ethel Antunes Wilhelm (UFPel): estuda os mecanismos por trás das dores nas extremidades do corpo para garantir qualidade de vida aos idosos;
- Angelica Thomaz Vieira (UFMG): com base na alimentação saudável, acredita que é possível resolver o problema global de resistência das bactérias aos antibióticos;
- Fernanda Ferreira Cruz (UFRJ): trabalha no desenvolvimento de terapias capazes de tratar doenças respiratórias crônicas de maneira mais eficaz;
- Sabrina Francesca de Souza Lisboa (USP): busca um tratamento para o transtorno do estresse pós-traumático, compreendendo as alterações que acontecem no cérebro de quem desenvolve a doença;
- Nathalia Bezerra de Lima (UFPE): pesquisa como aumentar a durabilidade do cimento nas diversas condições climáticas do Brasil;
- Luciana Luna Anna Lomonaco (USP): estuda um dos fractais mais famosos da Matemática, o Conjunto de Mandelbrot;
- Jaqueline dos Santos Soares (UFMG): faz nanotecnologia com uma matéria-prima abundante em Ouro Preto, a pedra-sabão, para aperfeiçoar próteses ortopédicas e dentárias.