O médico gaúcho Wyllians Vendramini Borelli, 27 anos, participa do esforço científico internacional para derrotar o Alzheimer, mas por meio de uma estratégia invulgar: em vez de estudar doentes, pesquisa pessoas saudáveis.
Doutorando ligado ao Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), ele integra um grupo de cientistas que tentam entender o que há de especial nos chamados superidosos, pessoas que já ultrapassaram a barreira dos 80 anos de idade e continuam com as capacidades cognitivas – a memória, por exemplo – em alto nível.
Conhecer os mecanismos responsáveis por fazer o cérebro dessas pessoas funcionar tão bem, acreditam, pode apontar caminhos para desenvolver tratamentos – e quem sabe até a cura – do Alzheimer.
No momento, financiado por uma bolsa da Capes, Borelli encontra-se no Nathan Kline Institute, de Nova York (EUA), onde se familiariza com uma nova técnica de processamento de imagens cerebrais, que será utilizada no prosseguimento de sua investigação, quando retornar a Porto Alegre.
Ele pede que o valor não seja publicado, mas afirma que a bolsa não cobre na integralidade os valores cobrados pela universidade norte-americana e não chega à metade do valor recebido por colegas de outros países que também estão nos Estados Unidos. Por isso, para bancar todos os custos e dar prosseguimento à pesquisa, recorre às próprias economias.
– Não posso reclamar. É uma oportunidade ótima vir aqui, estar fazendo o que eu estou fazendo. Faço pesquisa porque é o que eu amo fazer. Mas é complicado. O incentivo que o Brasil dá para pesquisa já é mínimo. A tendência é que, mesmo aqueles que são apaixonados deixem-na de lado, porque têm de sobreviver, de tirar o seu sustento.
O incentivo que o Brasil dá para pesquisa já é mínimo. A tendência é que, mesmo aqueles que são apaixonados deixem-na de lado, porque têm de sobreviver, de tirar o seu sustento.
WYLLIANS BORELLI
Bolsista de doutorado da Capes
Os conhecimentos adquiridos por Borelli lá fora vão alimentar o trabalho dos 16 pós-graduandos que fazem parte do Alzheimer’s Team, o grupo que estuda os superidosos na PUCRS, com repercussões também para estudantes da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que atuam em parceria com a equipe gaúcha.
Na fase atual da pesquisa, o time realiza a análise dos dados recolhidos a partir de exames neuropsicológicos realizados com superidosos. O grupo de estudo foi selecionado a partir de destes que Borelli ajudou a aplicar. Um deles consistia, por exemplo, em memorizar 15 palavras e, 20 minutos depois, repeti-las. Quando alguém de idade avançada lembra acima de nove palavras, já é classificado como superidoso.
Além de investigar os cérebros dessas pessoas com capacidades cognitivas elevadas, os pesquisadores também acompanham outros dois grupos, que servem de parâmetro para comparações. Um deles é de indivíduos com idade entre 50 e 65 anos. Outro, formado por doentes de Alzheimer. A ideia é analisar diferenças metabólicas cerebrais existentes em superidosos e em idosos quem têm a doença.
– Esperamos encontrar contrastes bem grandes aí. Os superidosos são o que chamamos de modelo de envelhecimento cognitivo bem-sucedido. Queremos ver o que essas pessoas saudáveis têm, quais são as conexões nos cérebros delas e de que forma isso pode ser aplicado para promover a saúde – projeta Borelli.
Veja outros quatro relatos
Ao iniciar a graduação em Engenharia da Computação na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Nathalia Esper, hoje com 26 anos, sonhava em usar os conhecimentos adquiridos na faculdade para ajudar as pessoas, só não sabia como.
Porque a bolsa que recebe da Capes cobre só a mensalidade do mestrado, a farmacêutica Ana Paula Anzolin, 25 anos, bateu de porta em porta para viabilizar sua pesquisa. Ela quer responder se a chamada ozonioterapia tem mesmo alguma eficácia.
Natália Weber, 33 anos, é graduada em engenharia de energia pela Uergs e tem mestrado em planejamento energético pela USP. Se tivesse optado por trabalhar em alguma empresa, com jornada de 40 horas, receberia pelo menos R$ 8,5 mil.
Em Passo Fundo, uma mestranda de 24 anos, Francine de Souza Sossella recebe bolsa de R$ 2,6 mil (que se transformam em R$ 1,5 mil depois de paga a mensalidade) e vislumbra a possibilidade de gerar etanol barato com algas reproduzidas em tanques.
* Colaborou Valeska Linauer