Ciência e Tecnologia

Para que serve a ciência (6)

Bolsistas da Capes: "O incentivo no Brasil para pesquisa é mínimo", diz médico que estuda o Alzheimer em Nova York

Wyllians Borelli investiga o cérebro dos chamados superidosos. GaúchaZH mostra quem são e o que fazem pós-graduandos que têm bolsa do governo federal

Itamar Melo

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Flavia Regina Polo / Arquivo Pessoal
Borelli recebeu bolsa da Capes para viajar aos EUA e aprender técnica que ajudará pesquisa sobre Alzheimer

O médico gaúcho Wyllians Vendramini Borelli, 27 anos, participa do esforço científico internacional para derrotar o Alzheimer, mas por meio de uma estratégia invulgar: em vez de estudar doentes, pesquisa pessoas saudáveis. 

Doutorando ligado ao Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), ele integra um grupo de cientistas que tentam entender o que há de especial nos chamados superidosos, pessoas que já ultrapassaram a barreira dos 80 anos de idade e continuam com as capacidades cognitivas – a memória, por exemplo – em alto nível. 

Conhecer os mecanismos responsáveis por fazer o cérebro dessas pessoas funcionar tão bem, acreditam, pode apontar caminhos para desenvolver tratamentos – e quem sabe até a cura – do Alzheimer.

No momento, financiado por uma bolsa da Capes, Borelli encontra-se no Nathan Kline Institute, de Nova York (EUA), onde se familiariza com uma nova técnica de processamento de imagens cerebrais, que será utilizada no prosseguimento de sua investigação, quando retornar a Porto Alegre

Ele pede que o valor não seja publicado, mas afirma que a bolsa não cobre na integralidade os valores cobrados pela universidade norte-americana e não chega à metade do valor recebido por colegas de outros países que também estão nos Estados Unidos. Por isso, para bancar todos os custos e dar prosseguimento à pesquisa, recorre às próprias economias. 

– Não posso reclamar. É uma oportunidade ótima vir aqui, estar fazendo o que eu estou fazendo. Faço pesquisa porque é o que eu amo fazer. Mas é complicado. O incentivo que o Brasil dá para pesquisa já é mínimo. A tendência é que, mesmo aqueles que são apaixonados deixem-na de lado, porque têm de sobreviver, de tirar o seu sustento.

O incentivo que o Brasil dá para pesquisa já é mínimo. A tendência é que, mesmo aqueles que são apaixonados deixem-na de lado, porque têm de sobreviver, de tirar o seu sustento.

WYLLIANS BORELLI

Bolsista de doutorado da Capes

Os conhecimentos adquiridos por Borelli lá fora vão alimentar o trabalho dos 16 pós-graduandos que fazem parte do Alzheimer’s Team, o grupo que estuda os superidosos na PUCRS, com repercussões também para estudantes da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que atuam em parceria com a equipe gaúcha. 

Na fase atual da pesquisa, o time realiza a análise dos dados recolhidos a partir de exames neuropsicológicos realizados com superidosos. O grupo de estudo foi selecionado a partir de destes que Borelli ajudou a aplicar. Um deles consistia, por exemplo, em memorizar 15 palavras e, 20 minutos depois, repeti-las. Quando alguém de idade avançada lembra acima de nove palavras, já é classificado como superidoso. 

Além de investigar os cérebros dessas pessoas com capacidades cognitivas elevadas, os pesquisadores também acompanham outros dois grupos, que servem de parâmetro para comparações. Um deles é de indivíduos com idade entre 50 e 65 anos. Outro, formado por doentes de Alzheimer. A ideia é analisar diferenças metabólicas cerebrais existentes em superidosos e em idosos quem têm a doença. 

– Esperamos encontrar contrastes bem grandes aí. Os superidosos são o que chamamos de modelo de envelhecimento cognitivo bem-sucedido. Queremos ver o que essas pessoas saudáveis têm, quais são as conexões nos cérebros delas e de que forma isso  pode ser aplicado para promover a saúde – projeta Borelli.


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 * Colaborou Valeska Linauer 

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