Call of Duty é uma das mais bem sucedidas franquias da indústria do entretenimento da história – incluindo filmes de super-heróis e livros de bruxinhos. Mas apesar dos números impressionantes, a série da Actvision há muito parece ter deixado de fazer sentido para quem não é um tarado por multiplayer. E a chegada da versão remasterizada de Call of Duty – Modern Warfare (um "brinde" para quem comprar as versões Legacy Edition e Digital Deluxe Edition do novo capítulo da saga, Infinite Warfare) reforça ainda mais essa sensação.
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Para começar, Modern Warfare (lançado originalmente em 2007) inaugura um dos melhores arcos de história dos videogames. Encarnando diferentes personagens em diferentes situações, o jogador vai aos poucos vai submergindo em uma gigantesca conspiração militar, que envolve extremistas russos, ditadores do oriente médio e a alta cúpula dos exércitos americano e britânico. Ninguém é mocinho, ninguém é bandido e ninguém fica neutro – incluindo a pessoa segurando o joystick.
A trama, complexa e cheia de reviravoltas, arrasta o jogador para combates desenfreados em cidades do oriente médio, tiroteios nos balcãs, missões de suporte aéreo e volta no tempo para uma incursão na Chernobyl pós-acidente nuclear. Há uma certa sensação de desorientação, uma vez que os participantes das forças-tarefas sabem apenas o necessário para suas missões específicas – com exceção do jogador, claro, que está enxergando o quadro todo.
A imersão proposta pela Infinity Ward passa também pela reprodução fiel de armas, equipamentos e localidades (é quase possível sentir a radiação de Chernobyl, tão detalhada que foi sua reconstrução e ainda mais viva agora, remasterizada). Os personagens são outro ponto alto do jogo, extremamente bem construídos e cativantes, de personalidade forte, mas também humanos (às vezes, demasiadamente humanos). Terminado o jogo, a sensação é de que aquela trama poderia estar acontecendo agora, nesse instante.
E talvez por isso que Call of Duty se perdeu – ou, pelo menos, me perdeu. A partir de Black Ops II (2012), a franquia começa a rumar literalmente para o futuro, em um esforço de imaginar como seria o futuro da guerra. Esse exercício de criação, que se estendeu por todos os outros jogos da série e continua agora com o ainda inédito Infinite Warfare, abarca a "futuralização" de tudo: soldados, equipamentos, veículos, construções e paisagens.
Começamos, então, a falar de ficção. Modern Warfare era uma trama militar do presente – era possível se ver dentro dela, uma vez que muitos daqueles elementos estão presentes no nosso cotidiano via noticiário. Era, portanto, real. A partir de Black Ops II, quando o futuro chega, tudo se torna mais nebuloso – e, portanto, difícil de comprar. As tramas também não ajudam, tornando-se mais simplórias. Advanced Warfare, por exemplo, é sobre um maluco que bota nação contra nação para lucrar alugando seu exército particular. Quer dizer, não tem muito o que pensar, é só pegar o fuzil de prótons e sair quase voando com seu exoesqueleto.
Daí que sem o fator imersão, Call of Duty virou um shooter qualquer, cujo modo história está ali só para justificar o multiplayer. Mas nem sempre foi assim. E Modern Warfare está aí para provar, novamente, que é possível criar algo decente. Mas é preciso querer. E espero muito, mesmo, que em Infinite Warfare a turminha do texto da Infinity Ward se puxe mais.
A versão testada de Call of Duty – Modern Warfare foi para PS4, com um código de acesso antecipado enviado pela Actvision.
Games
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Gustavo Brigatti
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