Embora eu precisasse de uma rehab forte, não foi por minha própria vontade que abdiquei do Facebook por um mês. Também não foi por minha insatisfação com a humanidade, com o país e com qualquer dos governos - o que cresce a cada textão, manifestação de preconceito de qualquer tipo ou invasão de notícias denunciando corrupção.
Não resolvi dar as costas à minha existência virtual - em vez de surfar na onda de desconexão, tomei um caldinho das regras da rede: para seguir existindo no Facebook, eu precisava comprovar minha identidade com um documento válido (veja a lista aqui).
Infelizmente, para mim isso não era uma opção. Como dá para ver acima, essa e todas as matérias que eu já fiz na minha (ainda breve) vida de jornalista, em todas as mídias que já trabalhei, sempre foram assinadas com o meu apelido "FêCris" (Fê, de Fernanda; Cris, de Cristine). Contudo, diferentemente dos meus amados chefes ao longo da última década, Mark Zuckerberg é implacável: apelido, não!
A caça às bruxas não é só contra mim. Uma regra que já existe há anos no Facebook - de se utilizar apenas nomes reais - está sendo cobrada dos usuários. Segundo a assessoria da empresa, é uma exigência que eles pretendem fiscalizar com a ajuda de outros membros, que podem denunciar esse e outros descumprimentos de política de uso. Oito anos depois de criar meu login, finalmente foi cobrado que eu cumprisse o que há muito havia prometido - por meio daquele "aceito" dos termos que, convenhamos, ninguém lê, mas deveria.
No primeiro dia sem Face, foi a negação. No segundo, a indignação. No terceiro, minha revolta virou força de vontade para tentar resolver e, no quarto, já tinha arranjado outras coisas com as quais me preocupar. Ficar um mês sem Facebook foi mais fácil do que eu imaginava, mas é assustador como a companhia de Mark Zuckerberg abraçou a vida pós-moderna e a tornou muito difícil sem ela.
Por conta do bloqueio, minha conta no serviço de streaming que eu assino, atrelada ao Facebook, também travou. Fiquei sem minhas músicas para corrida e tive que retomar o velho iPod. A vantagem foi voltar a ouvir o que marcava o ritmo das passadas anos atrás e das quais já estava com saudade.
Amantes de música sabem que é bem difícil viver sem um serviço de streaming hoje em dia - por princípio, não baixo ilegalmente. Então, assinei a Apple Music, para não ser invadida pelo silêncio das ruas até o trabalho.
Até que percebi que agora pago por duas assinaturas de música, um desperdício do meu suado dinheiro. Como cancelar o Apple Music, agora que o Spotify voltou? Um mistério que ainda não desvendei.
Outro problema foram os aniversários. Sempre tive uma memória horrível, e os avisos do Facebook só fizeram isso piorar. Perdi de dar parabéns para uma das minhas amigas mais próximas, praticamente irmã. A falta de etiqueta real foi perdoada depois de uma detalhada explicação no mundo virtual - ela mora em São Paulo. Ufa, desculpa, Mari!
Aí tem mais uma infinidade de eventos, conversas dos meus amigos, fotos dos filhos dos meus amigos e piadinhas que eu perdi nesses 28 dias. Do meu melhor amigo, que tirou a barba sem querer e eu não pude fazer uma piada sequer, à comoção mundial acerca da liberação do casamento gay pela Suprema Corte dos Estados Unidos, parecia que tudo do que eu queria participar acontecia em um mundo paralelo. Parecia não: era mesmo isso (leia o resumo desse mês feito pela minha amiga Débora abaixo).
Apesar de estar me acostumando a parar de "curtir" a vida e começar a vivê-la adoidada, se eu sou conhecida por todos os meus amigos, familiares e leitores por esse nome, o que faz dele "irreal" ou "falso"?
Foi partindo dessa ideia que me ocorreu que o mesmo problema é enfrentado por quem tem nome social diferente do nome de batismo (transgêneros, transexuais, quem casou e mudou de sobrenome etc). De novo, a assessoria do Facebook me orientou que há outros documentos que são aceitos.
É possível, de acordo com a lista, usar cartas, carteirinhas de clubes ou associações, assinaturas de revistas e outros comprovantes.
Foi o que eu fiz. Na página de upload de documentos de comprovação de identidade (ela aparece se você tem seu perfil bloqueado), subi fotos de correspondências que recebi na Redação com meu nome de guerra. A resposta para esse envio pode demorar alguns dias, mas para mim foi bem rápida: NÃO. Um texto educado, porém frio, em inglês, assinado por um cidadão - ou robô? - chamado Augusto dizia que aquilo ali não era suficiente e que eu deveria tentar de novo. Beleza.
Munida de muita paciência, dissertei por quatro longos parágrafos no idioma bretão sobre a importância do nome social. Junto, anexei comprovantes de meu nome de batismo e também do meu nome social. Então, plim. Voltou.
Meu primeiro post foi "I'm back", celebrado por curtidas e comentários. E essa volta, como foi? Foi... apenas ok. Sigo topando com os tropeços da humanidade, com as matérias sobre corrupção e com vídeos de gatinho. Fiquei um pouco mais criteriosa nas postagens - mas acho que voltarei a ser sem noção em breve - e resolvi não ter mais o app do Facebook no celular, porque fiquei relativamente menos ansiosa sem a possibilidade de uma nova interação a cada minuto. Mas, em resumo: passei um mês sem Facebook e sobrevivi. Só que não recomendo.
10 coisas que eu perdi
Minha amiga Débora Pradella resumiu um mês de Facebook
19/6 Boechat mandou o Malafaia procurar uma...
26/6 Todo mundo pintou suas fotinhos do perfil para comemorar a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de legalizar o casamento gay no país.
29/6 Zeca Camargo despertou a ira dos fãs de Cristiano Araújo e cantores sertanejos.
2/7 Oh, wait! A redução da maioridade penal foi aprovada.
2/7 Um homem foi morto por um robô na fábrica da Volkswagen.
3/7 Campanha #somostodosmaju mobilizou o Facebook contra o racismo.
4/7 Romero Britto fez uma arte linda e exclusiva para a capa do novo CD do Naldo.
8/7 O um ano do 7x1 da Copa virou (de novo) motivos de piada nas redes sociais. E o sósia de Felipão teve que se aposentar.
13/7 Agora eles vendem bergamota descascada e com os gominhos numa bandeja no Carrefour!!!