
Um homem de 37 anos e os dois filhos gêmeos de seis anos morreram depois de um acidente de carro na RS-446, em São Vendelino, no Vale do Caí, às 20h30min de quarta-feira (12). A mãe dos gêmeos e ex-companheira, no entanto, já procurava pelas crianças horas antes da tragédia. O pai, Jardel Oliveira dos Santos pediu para antecipar a visita e não entregou as crianças conforme o combinado.
Jardel morreu na hora. Um dos meninos, Vicente Oliveira dos Santos, morreu no hospital. O outro gêmeo, Bernardo Oliveira dos Santos, ficou internado no Hospital Geral de Caxias do Sul, mas teve a morte confirmada na tarde desta sexta-feira (14).
O condutor do caminhão com o qual o carro colidiu não ficou ferido. Ele relatou aos policiais que se deslocava no sentido Porto Alegre-Carlos Barbosa quando o automóvel, que vinha descendo a serra, invadiu a pista.
O delegado de Parobé, Clóvis Nei da Silva, afirmou que a mãe, que tinha a guarda das crianças, havia registrado um boletim de ocorrência contra o pai por "subtração de incapaz" horas antes do acidente.
Incêndio na casa do pai
A mãe tinha uma medida protetiva contra o ex-marido. Porém, ele ainda tinha o direito de ver as crianças.
Naquela semana, Jardel pediu para adiantar a visita, que geralmente acontecia na quarta-feira, e foi buscá-las na escola na terça-feira (11), por volta das 17h. Ele deveria ter retornado com elas no dia seguinte, ao meio-dia – o que não aconteceu.
Na manhã de quarta-feira (12), por volta das 8h, aconteceu um incêndio na casa de Jardel, em Parobé. Ele morava no segundo andar e, no térreo, mantinha uma vidraçaria.
Os vizinhos, que ajudaram a combater as chamas na residência, relataram à polícia que viram Jardel mexendo na churrasqueira nesse mesmo dia. Porém, durante o incêndio, ele e as crianças já não estavam mais na casa.
O delegado Clóvis Nei, que investiga especificamente o incêndio na casa de Jardel, explicou que ainda não se sabe se as chamas foram mesmo provocadas pelo pai das crianças. Também ainda não se sabe a hora exata em que ele deixou a residência e saiu com os gêmeos de carro em direção a Bom Princípio, a cerca de 80 quilômetros de Parobé.
"Zanzando pela cidade"
O delegado de Bom Princípio e São Vendelino, Marcos Eduardo Pepe, contou à reportagem que Jardel estava "zanzando pela cidade" com as crianças no carro desde a manhã de quarta-feira (12).
Segundo informações do cercamento eletrônico, a polícia identificou que o pai dos gêmeos ficou em Bom Princípio até a noite. No entanto, não se sabe o que ele estaria fazendo no município. Imagens das câmeras de segurança ainda não foram acessadas.
Mãe procura as crianças
Com a promessa de que o pai deixaria as crianças na escola na quarta-feira (12), a mãe foi até a instituição em torno das 13h15min. As aulas começam às 13h e os meninos não estavam por lá.
De acordo com funcionários da escola, a mãe estava assustada e nervosa para encontrar as crianças.
A mãe então foi até a polícia, em Sapiranga, e fez um boletim de ocorrência contra o pai horas antes do acidente por "subtração de incapaz". O caso não foi reportado como desaparecimento, porque se tinha conhecimento de quem estava com as crianças.
Nesta sexta-feira (14), a escola estava fechada com cartazes sinalizando o luto pela morte dos estudantes.
O acidente
O caminhoneiro envolvido no acidente disse à polícia que o veículo de Jardel invadiu a pista na contramão e bateu de frente com o caminhão, que vinha subindo a serra, em direção a Carlos Barbosa. As autoridades verificaram o tacógrafo do veículo de carga, que registrava baixa velocidade no momento do impacto.
A Polícia Civil apura se houve intencionalidade de Jardel em jogar o carro de frente com o caminhão.
Relação conturbada
A medida protetiva contra o pai dos gêmeos tinha sido descumprida duas vezes anteriormente. A decisão judicial foi concedida à mulher após um crime cometido contra ela, mas o delegado não informou qual foi a infração.
Os dois se conheceram na adolescência, em Parobé. Eles tiveram um relacionamento conturbado, algo que piorou desde o final de 2024.
De acordo com a comunidade local, Jardel teria agredido a ex-companheira física e psicologicamente e, por isso, a mulher teria procurado a polícia para pedir uma medida protetiva – que foi renovada do final do ano passado.