O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) demitiu por justa causa 11 médicos (veja abaixo quem são) investigados pela Polícia Federal (PF) por suspeita de fraudarem o ponto no Hospital Conceição, na zona norte de Porto Alegre. Eles foram alvo da Operação Hipócrates da PF em novembro de 2023.
Concursados, recebiam salários entre R$ 14 mil e R$ 31 mil. A investigação flagrou médicos frequentando academia em horário de expediente ou atendendo em outros locais enquanto deveriam estar no Conceição.
Na conclusão da investigação da PF, os 11 médicos foram indiciados por estelionato contra entidade pública. Segundo o Conceição, em relação a um dos médicos, os fatos eram tão graves que a demissão ocorreu de forma sumária, sem necessidade de processo administrativo. Os outros 10 responderam a procedimento interno, sendo agora demitidos por justa causa. Também houve apontamento para que eles devolvam valores que foram recebidos sem a prestação do serviço.
Na investigação da PF, os que aceitaram depor disseram que agiam dessa forma, batendo o ponto e saindo para outros compromissos, com o consentimento do seu empregador, o que foi negado pela instituição. Os investigados sustentaram que a PF tinha feito um erro de interpretação das situações investigadas, já que as chefias teriam conhecimento de que eles faziam isso e, mesmo quando estavam fisicamente fora do hospital, estavam à disposição do serviço. Mas esse não foi o entendimento da PF nem do GHC.
A PF investigou o caso durante seis meses. Em um dos flagrantes, a PF acompanhou um médico que, após bater o ponto da jornada inicial, foi para casa, para a academia e depois almoçar. Os flagrantes mostraram ainda os médicos indo trabalhar em outros locais — como clínicas, hospitais e consultórios privados — ou fazendo compras, por exemplo. Depois de gastar tempo em outras atividades, eles voltavam para fazer o fechamento do ponto no Conceição.
— Após a deflagração da Operação Hipócrates, os fatos investigados não apenas se confirmaram como, ainda, foram robustecidos e agravados por outros elementos que vieram das análises feitas no material apreendido durante as buscas. Em casos que envolvem certas classes de trabalhadores, a responsabilidade ganha outros contornos, a fim de que também seja respeitada a imagem dos demais profissionais da área que, em sua grande maioria, se pautam pelo agir correto — destacou o delegado federal Eduardo Dalmolin Bollis, que coordenou a operação.
Os nomes dos indiciados e dos demitidos não foram informados pela PF nem pelo GHC, mas a reportagem apurou quem são os envolvidos.
Quem são os médicos:
- Airton Golbert
- Egídio Picetti
- Fernando Starosta de Waldemar
- Joel Alex Longui
- Marcelo Blochtein Golbert
- Marcus Vinicius Silveira Osório
- Rafael de Nogueira Ribeiro
- Ruy Takashi Koshimizu
- Simone Thais Terracciano
- Vinicius Silva Lima
- Cassiano Innocente
O que disseram Paulo Fayet, Cássio de Assis e Bóris de Assis, advogados de Airton Golbert, Egídio Picetti e Marcelo Blochtein Golbert:
"A defesa tem convicção da inocência dos seus clientes, e não vai adentrar em pormenores da prova, em respeito ao sigilo do regulamento de procedimentos correcionais do Hospital."
O que diz Gabriela Ruschel de Lia Pires, advogada de Fernando Starosta de Waldemar e Marcus Vinicius Silveira Osório:
"Não vamos nos manifestar no momento."
O que disseram Ricardo Cunha Martins e Gerson Borges, advogados de Joel Alex Longui:
"Estranhamos essa decisão pela demissão, pois é contrária ao parecer interno da instituição. Dr Joel tinha banco de horas, compensação de horários. Vamos recorrer."
O que disseram Alexandre Wunderlich e Alexandre Curvelo, advogados de Vinicius Silva Lima:
"A demissão é ilegal e arbitrária, que não há comprovação de fatos que desabonem a conduta profissional, o que enseja a busca de amparo no Poder Judiciário."
Zero Hora tenta contato com as defesas dos demais médicos. O espaço para manifestações está aberto.
O que disse o Grupo Hospitalar Conceição:
"O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) informa que, no âmbito das investigações realizadas, foram identificadas irregularidades envolvendo onze (11) profissionais médicos.
• Um (1) profissional foi desligado sumariamente por justa causa, sem necessidade de processo administrativo, devido à gravidade dos fatos apurados.
• Dez (10) profissionais responderam a processos administrativos conduzidos com rigor e total respeito ao devido processo legal, com ampla oportunidade de contraditório e defesa. Esses processos resultaram na aplicação de despedida por justa causa a todos os envolvidos e na determinação de devolução de valores aos cofres públicos.
A decisão administrativa é definitiva, e todos os advogados constituídos já foram formalmente notificados.
O GHC reitera seu compromisso com a ética, a transparência e a boa gestão pública, reafirmando que continuará a adotar medidas rigorosas para garantir a lisura em seus processos e a qualidade dos serviços prestados à comunidade.
Assessoria de Comunicação GHC"