A rivalidade entre os bicheiros Rogério de Andrade e Fernando de Miranda Iggnácio — sobrinho e genro do falecido contraventor Castor de Andrade, respectivamente — é marcada por uma série de eventos violentos. As informações são do jornal O Globo.
Tudo teve início em 22 de outubro de 1998, quando Paulinho Andrade — filho de Castor —, então com 47 anos, e seu segurança, Haroldo Alves Bernardo, foram mortos a tiros na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. No ocorrido, um homem se aproximou do Jeep Cherokee onde estavam e abriu fogo, atingindo Paulinho com cinco tiros. Esse evento marcou o início da guerra familiar pelo controle do jogo do bicho.
Nesta terça-feira (29), Rogério de Andrade foi preso em uma operação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), acusado de ser o mandante do assassinato de Iggnácio.
Sucessor
Castor de Andrade, chefe de uma das maiores organizações criminosas do Rio, faleceu em 1997, aos 71 anos, devido a um infarto. Antes de morrer, ele escolheu Rogério de Andrade como sucessor no comando dos negócios ilegais. Paulinho de Andrade, descontente com a escolha do pai, entrou em disputa com o primo. Com o assassinato de Paulinho e Rogério sendo apontado como mandante, Fernando Iggnácio começou a confrontar o sobrinho de Castor, iniciando uma rivalidade que deixaria muitas vítimas ao longo dos anos.
Em 7 de dezembro de 1998, o ex-PM Jadir Simeone foi preso e confessou o assassinato de Paulinho, acusando Rogério de ter ordenado a execução. O sobrinho de Castor foi preso e, em 2002, condenado a 19 anos e 10 meses de prisão. Contudo, conseguiu um habeas corpus para recorrer em liberdade, que foi posteriormente revogado, tornando-o foragido. Mesmo assim, ele continuou frequentando locais públicos, sempre escoltado por seguranças.
Recaptura
Rogério foi recapturado em setembro de 2006, numa operação da Polícia Federal, na Rodovia Washington Luiz, ao retornar de Itaipava, na Região Serrana, para o Rio de Janeiro. Ele estava disfarçado com cabelos longos e lentes de contato azuis. O grupo de Rogério, investigado pelo Ministério Público (MP) por envolvimento com a máfia dos caça-níqueis, era suspeito do assassinato de um policial federal. Nessa época, a guerra entre os dois chefes da contravenção já havia durado oito anos, com cerca de 50 mortes, incluindo policiais que se aliaram aos bicheiros.
Fernando Iggnácio, também suspeito de ordenar diversos assassinatos, foi preso, mas conseguiu um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2009, após ser condenado a 18 anos de prisão. No mesmo ano, Rogério obteve liberdade por decisão judicial, e em 2013 foi absolvido da acusação de homicídio qualificado contra o primo.
Atentados
Em abril de 2010, Rogério e o filho Diogo, de 17 anos, voltavam de uma academia em um Toyota Corolla quando o carro explodiu na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca. A explosão foi tão forte que arrancou o teto do veículo, matando Diogo instantaneamente. Rogério ficou ferido e precisou de cirurgia. Outros dois carros, que transportavam policiais responsáveis pela segurança de Rogério, também foram atingidos, mas não houve outras vítimas.
Esse não foi o primeiro atentado contra Rogério. Em 2001, um ataque frustrado ocorreu quando ele deixava a então namorada em um apart-hotel na Barra. O atirador, um cabo da Marinha reformado, teve a arma travada, o que permitiu que Rogério se defendesse e escapasse. Mais tarde, em 2017, Rogério sofreu outro atentado enquanto estava em um carro no Itanhangá, Zona Oeste, mas apenas a esposa foi ferida no braço.
Assassinato de ex-chefe de segurança
Em novembro de 2010, o sargento do Corpo de Bombeiros Antonio Carlos Macedo, ex-chefe de segurança de Rogério, foi morto a tiros na Avenida Sernambetiba, na Barra. Em abril de 2011, a Justiça decretou a prisão de Rogério, que foi acusado de ordenar a execução, supostamente por desconfiar do envolvimento de Macedo no atentado que matou Diogo.
Morte de Fernando Iggnácio
O último capítulo dessa disputa ocorreu em 11 de novembro de 2020, quando Fernando Iggnácio foi morto ao desembarcar de um helicóptero no Recreio dos Bandeirantes. Enquanto caminhava em direção a sua Range Rover blindada, no heliponto, foi atingido por diversos tiros de fuzil na cabeça. A investigação indicou que os atiradores sabiam que ele retornaria de Angra dos Reis e o esperaram em um terreno próximo ao heliponto. Quando ele se aproximou, dispararam pelo menos 10 vezes a uma curta distância.
O MP denunciou Rogério de Andrade como mandante do crime e obteve a determinação da prisão preventiva. Entretanto, em fevereiro deste ano, o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou a ordem de prisão, afirmando que não havia provas que ligassem diretamente Rogério ao assassinato.
Por fim, novos elementos surgiram na investigação, levando à prisão de Rogério nesta terça-feira.