Às 12h53min do sábado, 20 de julho, Rodrigo Gabriel Fontana Ferreira, 36 anos, aproximou-se numa caminhonete de uma churrascaria no bairro Carolina, em Santana do Livramento, na fronteira com a cidade uruguaia de Rivera. Antes de desembarcar, foi surpreendido por um ataque a tiros.
Um criminoso numa motocicleta parou ao lado da janela e disparou oito vezes contra o vidro, executando o motorista, que já havia sido extraditado do Brasil para o Uruguai, por suspeita de tráfico de armas e munição entre os dois países. A moto usada no crime foi encontrada logo depois, incendiada.
Na segunda-feira (29), um homem de 24 anos, com antecedentes por tráfico de drogas, foi morto em confronto com a Brigada Militar (BM), em Itaqui, na fronteira com a Argentina. Durante o velório dele, um grupo se reuniu em frente à funerária, deu tiros para o alto e soltou rojões.
A cena foi vista como espécie de recado e tentativa de intimidação dos policiais militares. Em razão de casos como esses, a BM reforçou o policiamento em algumas cidades da Fronteira Oeste, com a presença do Batalhão de Choque e do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Confronto e ameaças em Itaqui
Em Itaqui, já havia presença do 6º Batalhão de Choque, de Uruguaiana, após criminosos fazerem ameaças a um policial militar. Foram integrantes desta tropa que entraram em confronto com o homem que acabou morto na segunda-feira.
Segundo a BM, os policiais receberam informações de que bandidos da Grande Porto Alegre estariam circulando fortemente armados. Eles teriam vínculo com uma facção com origem no Vale do Sinos, que possui ramificações pelo Estado.
Durante as buscas ao grupo, os PMs avistaram um homem correndo com uma arma na Rua Dom Pedro II, no bairro Chácara. Segundo a BM, ele atirou na direção de um muro próximo a um dos policiais, que revidou e disparou três vezes.
O homem de 24 anos, natural de Viamão, na Região Metropolitana, foi atingido por dois disparos no peito, chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Com ele, foi apreendido um revólver de calibre 38, munição e cinco porções de cocaína.
Depois disso, houve o episódio em frente ao velório, e passaram a circular pelas redes sociais ameaças de revanche aos PMs. O grupo estaria envolvido com criminosos argentinos. A Polícia Civil tenta identificar quem são as pessoas que aparecem nos vídeos e o policiamento foi novamente reforçado em Itaqui.
Assassinato em Santana do Livramento
Outro caso despertou a atenção em Santana do Livramento, na fronteira com a cidade uruguaia de Rivera. Apontado como integrante de um grupo criminoso uruguaio, Rodrigo Gabriel Fontana Ferreira, 36 anos, que era argentino e tinha nacionalidade uruguaia, foi executado à luz do dia, há pouco mais de 10 dias.
Em 2021, ele havia sido preso em Santana do Livramento, em razão de uma investigação da Procuradoria Especial de Tráfico de Drogas, Homicídios e Crimes Conexos de Rivera. Em setembro do ano seguinte, foi extraditado para o Uruguai, mas atualmente estava em liberdade.
Fontana é suspeito de integrar grupo liderado pelo narcotraficante Sebastian Marset, procurado pela Interpol. Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, o caso é investigado em ambos os países, com compartilhamento de informações para identificar e responsabilizar todos os envolvidos. Na semana passada, quatro suspeitos foram presos no Uruguai.
Um dos presos, um uruguaio de 29 anos, faria parte do mesmo grupo que a polícia acredita que Fontana integrava. Outro homem de 25 anos e duas mulheres de 30 anos também foram presos. Uma das hipóteses investigadas é de que a morte de Fontana teria sido motivada por um desentendimento dentro da própria organização criminosa, após o sumiço de uma carga de cocaína.
Em Santana do Livramento, também houve reforço do policiamento da BM após essa execução. Da mesma forma, em Alegrete, onde três homens foram executados no início de julho. Desavenças envolvendo o tráfico de drogas teriam motivado o ataque a tiros que deixou três mortos e um ferido.
— Apesar de serem casos ocorridos na Fronteira Oeste, não há conexão de um crime com o outro. Enviamos reforços para que não tenhamos uma escalada da violência — afirma o comandante-geral da Brigada Militar, Cláudio dos Santos Feoli.
As conexões entre criminosos brasileiros e bandidos do outro lado da Fronteira são acompanhadas pelas polícias.
— Nossa inteligência têm mantido contato permanente, trocando informações especialmente com a polícia uruguaia. Há grupos do Brasil envolvidos, e inclusive já atuantes no Uruguai. Lideranças de lá que passaram a se conectar com as do RS. Há disputa por ocupação de poder, inclusive dentro da mesma facção, ou com facções menores — diz Feoli.
Comparativo
No primeiro semestre deste ano, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado, houve 47 homicídios nos municípios da fronteira com Uruguai e Argentina. No mesmo período do ano passado, tinham sido 58 mortes nessas cidades.
Em Quaraí, Itaqui e São Borja, onde foram registrados três homicídios no primeiro semestre, houve aumento em comparação com o mesmo período do ano passado. Em Santana do Livramento, houve redução de oito para cinco homicídios, e em Uruguaiana também houve queda, de 15 para seis casos. Em Alegrete se repetiu o número de casos, com seis mortes.
Os casos
- 4 de julho – Três homens são executados a tiros na Rua Aloísio dos Santos Morais, no bairro Promorar, em Alegrete. Os mortos foram identificadas como Bruno César Fontoura Gedel, 24 anos, Leandro Jaques da Silva, 26, e Eliton Amaral da Rosa, 34.
- 20 de julho – Rodrigo Gabriel Fontana Ferreira, 36 anos, é executado a tiros em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai.
- 29 de julho – Homem de 24 anos morre em confronto com a BM em Itaqui, na fronteira com a Argentina. Após a morte, grupo efetuou disparos e soltou rojões na área central do município.