A Rua Santo Ângelo, no bairro Mathias Velho, em Canoas, na Região Metropolitana, ainda está coberta de entulhos da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio. A Polícia Civil acredita que criminosos tenham se aproveitado dessa situação para tentar esconder um carregamento de cocaína, localizado na manhã desta segunda-feira (1º). Era ali, numa casa de dois andares que duas facções criminosas escondiam a carga que, segundo o delegado Alencar Carraro, diretor de Investigação do Denarc, é a maior apreensão de cocaína da história da Polícia Civil do RS. Às 15h55min, a polícia encerrou a pesagem, que apontou 547 quilos de droga apreendidos.
Segundo o delegado Gabriel Borges, da 3ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico (3ª DIN), havia cerca de oito meses que a polícia investigava as ações de dois grupos. Duas facções criminosas — uma de Canoas e outra com base em Porto Alegre, no bairro Bom Jesus — teriam formado espécie de consórcio para a aquisição de grandes volumes de entorpecentes. Nos últimos dias, um carregamento de drogas teria chegado ao Estado.
A polícia passou a fazer buscas nesta manhã, para localizar onde estavam as drogas. Num primeiro endereço, os policiais encontraram um quilo de cocaína e prenderam um homem em flagrante por tráfico de drogas. No segundo local, numa casa de dois andares, rodeada por escombros da inundação, os policiais adentraram num quarto onde as drogas estavam escondidas dentro de caixas.
Uma das suspeitas da polícia é de que os traficantes tenham escolhido esse endereço justamente como forma de despistar as ações da polícia, e evitar uma eventual apreensão, que acabou ocorrendo nesta manhã.
— Estamos no bairro Mathias Velho, que foi muito atingido pela enchente e a nossa investigação inclusive vai no sentido de que a escolha para o local de armazenamento desse entorpecente aqui também tem essa relação. O objetivo é chamar menos atenção das forças policiais. Uma casa que sofreu com a enchente, em tese, não armazenaria essa quantidade de entorpecentes — afirma o delegado.
Segundo o Denarc, os adesivos usados nas embalagens da droga servem para identificar o grupo criminoso responsável por distribuir os entorpecentes, que, neste caso, apropriou-se do logotipo e marca de uma multinacional japonesa.
— Representa o proprietário da droga. Se ele enviam para o interior do Estado, por exemplo, quem recebe a droga sabe de quem é. Usam isso como uma espécie de “marca” da droga — explica o delegado Borges.
Carga milionária
O carregamento de drogas ainda foi transportado e pesado pelo Denarc. Os policiais já sabiam que se tratava de uma carga milionária de cocaína. Isso porque cada quilo de cocaína, em média, tem valor estimado em cerca de R$ 30 mil. O impacto para os grupos criminosos, neste caso, é estimado em cerca de R$ 15 milhões — podendo chegar a mais no consumo final, quando a cocaína é misturada a outras substâncias.
— Isso certamente atinge o fluxo da organização criminosa, de caixa e logística. Estamos falando de uma quantidade de drogas suficiente para meses de abastecimento para todo o Estado — explica o delegado Borges.
A casa onde foi apreendida a droga, segundo a polícia, era usada somente como ponto de armazenamento. A suspeita é de que os entorpecentes tenham sido trazidos pelas facções criminosas para o país. A polícia ainda apura qual a origem da droga, mas suspeita que ela tenha sido adquirida na Colômbia ou no Peru e de lá trazida para o Brasil, até chegar ao Rio Grande do Sul nos últimos dias.
— Essas facções acabam estabelecendo esse consórcio para comprar na grande quantidade e trazer junto para o Brasil. Isso torna a logística mais barata — afirma o delegado.
Outras apreensões
Uruguaiana – 437 quilos de cocaína
Em setembro do ano passado, a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), em ação conjunta, realizaram a apreensão de 437 quilos de cocaína. Sete suspeitos foram presos após acondicionarem a cocaína em meio a uma carga de cilindros de gases, também na tentativa de realizar o transporte sem despertar a atenção.
As investigações apontam que os criminosos mantinham depósitos de drogas e pistas de pouso na região de São Luiz Gonzaga e Uruguaiana. De lá, as drogas partiam escondidas em caminhões de carga e transporte e, em alguns casos, em veículos pequenos, sendo distribuídas para a Região Metropolitana e outras regiões do Estado.
Com o motorista do caminhão foram ainda presos outros envolvidos no transporte, um dos organizadores do esquema criminoso e mais outras pessoas que teriam auxiliado na logística. Um dos presos, que possuía antecedentes por roubo a banco e diversos outros roubos, deveria estar cumprindo a pena em regime de prisão domiciliar, em Canoas, na Região Metropolitana – mesmo local onde a polícia realizou a apreensão desta manhã.
Candelária - 412 quilos de drogas
Em junho de 2012, a Polícia Civil apreendeu 412 quilos de cocaína, crack e óxi encontrados num sítio na localidade Linha Curitiba, no interior de Candelária, no Vale do Rio Pardo. A apreensão foi considerado naquela época a maior da história da corporação. Boa parte da droga precisou ser desenterrada pelos policiais civis. Os entorpecentes estavam acondicionados em barras, envoltas por plástico e dentro de tonéis.
Para encontrar a droga, porém, a polícia usou uma retroescavadeira. Como não sabia a profundidade em que a droga estava escondida, e nem a quantidade, foi preciso revirar todo o terreno. Em outros pontos, a cocaína pura estava dentro de baldes. A polícia localizou ainda quatro quilos de crack que estavam esfriando em formas, e logo seriam distribuídos.
Sarandi - Cinco toneladas de maconha
Uma carga de cinco toneladas de maconha foi apreendida no início de junho deste ano, na BR-386, em Sarandi, no norte do Estado. A droga estava nos tanques de carga de uma carreta bitrem usada para o transporte de óleo vegetal. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), essa foi a maior apreensão de maconha feita neste ano pela equipe.
Aos policiais, o motorista da carreta, de 35 anos, e a passageira, de 29 anos, teriam dito que o compartimento de carga estava vazio. Ao abrir os tanques de carga, os agentes localizaram centenas de fardos de maconha. Conforme a PRF, a droga tinha como destino a Região Metropolitana. O motorista e a passageira, ambos naturais do Mato Grosso, foram presos.