Pelo menos quatro mulheres que praticam esportes em parques da Capital relataram que foram vítimas de assédio ou importunação sexual na última semana. Um dos casos aconteceu com a assistente social Aline Ferreira D’ávila, de 37 anos, que treina corrida há três anos e meio no Parque da Redenção.
Ela conta que estava correndo no parque, às 6h40min da quarta-feira da semana passada (3), quando percebeu a presença de um homem próximo ao chafariz. Aline lembra que o homem assoviou quando ela passou por ele.
Na sequência, ela o ouviu emitindo um som parecido com um gemido e percebeu que ele estava tocando as partes íntimas enquanto a olhava. Ela gritou pedindo ajuda ao seu treinador e aos agentes da Guarda Municipal que têm uma base no parque e estavam próximos ao arco. O homem se assustou e recuou.
Ela registrou um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil e compartilhou o caso em suas redes sociais. Aline comenta que se sente insegura em alguns espaços públicos.
— Enquanto houver violência contra a mulher nas ruas, a gente tem medo. A situação é de revolta, de extrema violência e de invasão. Nós, mulheres, temos que passar por isso, em qualquer lugar da nossa cidade — comenta Aline.
A corredora diz que após compartilhar sua experiência nas redes sociais, duas mulheres relataram vivências semelhantes. Uma delas contou que, na terça-feira (2), um dia antes do ocorrido com Aline, um homem também fez atos obscenos direcionados a ela na Redenção, também por volta de 6h. As mulheres suspeitam que seja o mesmo homem.
Em outro relato, uma mulher contou ter sido abordada por um homem por volta de 18h do dia 1º de julho, enquanto corria na Orla. A mulher conta que um homem estava encostado em uma bicicleta, tocando as partes íntimas. O quarto caso teria acontecido na Redenção, também.
Apesar dos relatos, apenas Aline denunciou às autoridades. Segundo a delegada Fernanda Campos Hablich, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), a Polícia Civil recebeu a denúncia e vai abrir um inquérito para investigar o caso. Até o momento, nenhum suspeito foi identificado.
BM diz que reforçará segurança
O Tenente-Coronel Fábio Schmitt, comandante 9° Batalhão de Polícia Militar, responsável por fiscalizar a Redenção, diz que ficou sabendo do caso e que entrou em contato com a vítima. Ele afirma que a Brigada Militar vigia o parque 24 horas, sete dias por semana. Com o ocorrido, ele diz que reforçará o policiamento no local a pé, com viatura e com motocicletas.
— Eu já fiz contato com ela para me solidarizar e ver o que aconteceu realmente, quais foram os dias, quais são os dias que ela e outras pessoas treinam. A gente já faz o policiamento, mas não conseguimos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Ali, com certeza, é um ponto importante para nós — afirma.
160 casos em Porto Alegre em 2024
Conforme a Polícia Civil, de 1º de janeiro até 10 de junho deste ano, Porto Alegre teve 160 registros de importunação sexual. No mesmo período, o RS teve 1.092 casos.
A delegada Fernanda Campos Hablich explica que, ao receber as denúncias, a polícia atua na identificação dos envolvidos e faz a investigações para comprovação da autoria do crime e coleta de provas.
Desconforto
Aline relata que, ao pedir ajuda para a Guarda Municipal, foi informada que eles só poderiam efetuar o registro junto à Polícia Civil. Ela diz também que se sentiu desconfortável, pois um dos agentes teria direcionado o olhar para as suas pernas enquanto ela relatava o ocorrido, uma vez que ela vestia bermuda de corrida.
Em nota, a Guarda Municipal informou a Zero Hora que "o procedimento legal para vítimas de violência contra a mulher é o registro junto à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, da Polícia Civil" e que "não há possibilidade de registrar ocorrências policiais no Posto Avançado da Guarda Municipal na Redenção, criado para intensificar a presença da corporação no parque e facilitar o deslocamento de guarnições". O texto diz que "esta é a orientação dada pelos agentes no local".
A guarda diz ainda que "denúncias sobre a conduta de servidores municipais devem ser formalizadas junto à Ouvidoria". O órgão acrescenta que "possui uma corregedoria independente, que não tem conhecimento de nenhuma ocorrência do tipo".
Câmeras de Segurança
A Guarda Municipal tem 26 câmeras de videomonitoramento operando na Redenção. No trecho 1 da Orla, há 36 dispositivos. No trecho 3, há mais 34 câmeras. Conforme a Secretaria de Segurança da Capital, todos os equipamentos estão em funcionamento.
A pasta informa que "as câmeras de videomonitoramento administradas pelo Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic-POA), incluindo os equipamentos da Redenção, estão à disposição da Polícia Civil."
Em nota, a secretaria explica que "o responsável pela investigação solicita as imagens ao órgão, que atende prontamente o pedido" e diz que "nenhum arquivo é compartilhado diretamente com o cidadão, em razão das restrições importas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)".
Protesto e abaixo-assinado
Mediante as denúncias de assédio, o grupo de corridas decidiu convocar uma manifestação que ocorre no próximo sábado (13), às 6h30min, partindo do arco da Redenção e seguindo até a orla do Guaíba. O grupo cobra medidas mais efetivas de segurança do Poder Público nos espaços de convívio da Capital.
Também foram coletadas quase 3 mil assinaturas em um abaixo-assinado online pedindo por mais segurança para as mulheres nos espaços públicos da Capital.
Como se proteger
A delegada Fernanda Campos Hablich dá algumas dicas para mulheres se protegerem deste tipo de situação:
- Evitar realizar atividades físicas em locais isolados e escuros
- Praticar tais atividades acompanhadas
- Se observar pessoas em situação suspeita, sair imediatamente do local
- Assim que possível, buscar ajuda das autoridades policiais
Como denunciar
- 190: Brigada Militar
- 180: Central de Atendimento à Mulher
- (51) 98444-0606 - WhatsApp ou Telegram
- Pela Delegacia da Mulher online
- Presencialmente em qualquer delegacia