Nove pessoas foram presas na manhã desta quarta-feira (29) por envolvimento em saques contra 17 empresas localizadas em Eldorado do Sul, um dos municípios mais atingidos pelas cheias que há um mês assolam o Rio Grande do Sul.
As prisões foram feitas pelas polícias Civil, Militar e Federal, com apoio de fuzileiros navais da Marinha, para evitar fugas de quadrilheiros em barcos. Uma primeira estimativa feita pelas autoridades é de que os ladrões tenham causado um prejuízo de R$ 30 milhões, até porque foram levados veículos de alto valor, como tratores, entre outros bens.
Seis pessoas estavam com prisão preventiva decretada pela Justiça porque foram filmados e fotografados enquanto lideravam os saques, todos ocorridos nos primeiros dias da enchente de maio. Já outras três foram presas em flagrante, porque guardavam em suas residências produtos furtados e roubados de empresas de Eldorado do Sul — em grande parte, ainda embalados e com etiquetas das lojas. Dois suspeitos de cometer os crimes estão foragidos.
A operação é considerada pelas autoridades de segurança pública e das Forças Armadas um exemplo de integração que deu certo. As prisões e buscas em residências foram realizadas em duplas de viaturas, uma da BM e outra da Polícia Civil. Agentes do Amazonas, Distrito Federal, Paraná e São Paulo participaram das buscas. Vários policiais gaúchos da Fronteira e que atuam contra os problemas causados pelas cheias também participaram da operação, batizada de Aharadak (Deus da Tormenta, inspirado em quadrinhos). Alguns alvos foram vistoriados pela PF. A Marinha usou barcos para evitar as fugas e participou do reconhecimento de locais que servem de depósito de bens furtados.
Entre os bens recuperados nesta manhã estão geladeiras, fogões, diversos aparelhos de TV — tudo novo, alguns ainda embrulhados em plásticos —, roçadeiras, motosserras e toneladas de alimentos ainda embalados, saqueados de supermercados. Água mineral doada para a população por voluntários também foi encontrada em casas de suspeitos, estoques que, segundo suspeita dos policiais, se destinavam à venda.
Todos os oito que tiveram prisão preventiva decretada, inclusive os dois foragidos, têm antecedentes por crimes que vão do assalto ao furto qualificado (arrombamento), passando pelo tráfico de drogas. Pelas biografias é possível identificar participantes de duas facções criminosas, uma da zona leste de Porto Alegre e outra predominante no Vale do Sinos, e quadrilhas de ladrões que atuam em duas vilas da Capital.
A reportagem acompanhou a prisão de um dos homens que liderava os saques, como mostram vídeos em poder da Polícia Civil. Ele tem antecedentes por receptação de mercadoria furtada e furto. Foi preso com o filho, que também tem antecedentes. Na casa dele, foram encontrados diversos víveres saqueados de supermercados, como ele mesmo admitiu ao ser preso.
O preso nega ter roubado televisões novas que foram encontradas na residência dele. Algumas filmagens mostram ele orientando, com água até a cintura, grupos de pessoas que carregam refrigeradores, caixas de água e outros bens saqueados de uma loja.
O secretário da Segurança Pública estadual, delegado Sandro Caron, fez elogios ao trabalho em equipe, que já resultou em 22 prisões em Eldorado do Sul em semanas anteriores (antes das nove ocorridas nesta quarta-feira). Entre elas, a dos autores do roubo de tratores, que também foram recuperados. Caron lembrou que, com a ação de hoje, já são 65 saqueadores presos e foi rigoroso ao definir os autores desse tipo de delito:
— Cometeram crimes durante a calamidade, aproveitando o momento em que o aparato da segurança estava focado em salvar pessoas. Alguns canalhas se aproveitaram desse período de dificuldade. Mas fica aqui o recado: não vamos parar até prender todos que usaram desse período para praticar crimes contra a população indefesa.