Primeira testemunha a depor no júri sobre o assassinato do menino Miguel, em Imbé, no Litoral Norte, o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, responsável pela investigação do caso à época do crime, se exaltou ao se referir sobre as atitudes da madrasta da criança, Bruna Nathiele Porto da Rosa, ré pelo homicídio ao lado de Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, mãe da criança.
— Ela (Bruna) tentou se matar tomando xampu, ela faz esse teatro. Aqui, ela vai fazer um teatro, porque ela é uma mentirosa, uma sem vergonha, eu não tenho nenhum respeito em relação a ela. Ela é um monstro, não é uma pessoa — disse Ractz com voz elevada e com dedo apontado em direção à acusada, antes de ser advertido pelo juiz.
— Por favor, delegado, vamos ter a consideração igual em relação à acusada. Ela vai ter o julgamento — pediu o juiz Gilberto Pinto Fontoura, que comanda a sessão, antes de passar a palavra para o Ministério Público.
Considerado um dos principais depoimentos de acusação, a fala do delegado retomou desde o início do caso, com o registro de desaparecimento de Miguel, até a confissão das duas acusadas. Segundo Ractz, Miguel era considerado um estorvo para a mãe.
— Foi a pessoa mais fria da minha carreira. Eu me emocionei durante o interrogatório dela, eu chorei. A frieza de como ela falava em relação ao filho, a ausência total se sentimentos — destacou Ractz.
Ainda durante os questionamentos do Ministério Público, o delegado comparou a morte de Miguel a casos como Bernardo e Rafael, outras duas crianças assassinadas por familiares no Rio Grande do Sul.
— O Miguel é pior do que esses casos. O Bernardo andava na rua, no colégio, passava o final de semana na casa dos amigos. O outro guri foi morto pela mãe numa noite. Olha a diferença do Miguel, ele permaneceu trancado, acorrentado, sem comida, sem brinquedo, sem lazer — analisou o policial.
Durante as perguntas das defesas, os advogados de Yasmin questionaram principalmente como ocorreu a confissão na delegacia e se as então suspeitas estavam acompanhadas de defensores.
O advogado de Bruna explorou a informação que consta no inquérito de que a acusada possuía condições de entender sobre os crimes.
— Os peritos disseram que ela é inteiramente capaz de entender sua conduta — respondeu o delegado.
Ao longo do julgamento, são esperados os depoimentos de nove testemunhas. No entanto, duas não se apresentaram até o início da sessão.
Contraponto
O que diz a defesa de Yasmin Vaz dos Santos
NOTA OFICIAL
A defesa de Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, patrocinada pela advogada Thais Constantin, informa que o sorteio dos jurados ocorreu dentro das regularidades, de acordo com o esperado.
A defesa também ressalta que o primeiro depoimento da autoridade policial foi emotivo, permeado por percepções pessoais e que extrapolou o viés técnico. Isso afasta a imparcialidade, que é a base de uma investigação.
A defesa acredita que todo caso deve receber a mesma atenção e na fala do delegado, mais de uma vez, ficou claro que os esforços para fazer uma investigação de alto padrão foi um mérito deste caso somente.