Duas mulheres relatam ter sido furtadas depois de enviarem objetos por meio de motoristas do Uber Flash, modalidade em que é possível mandar e receber itens. Nas ações, teriam sido levados um celular e um notebook. Os casos ocorreram em Porto Alegre, um neste mês e outro em 2022. Segundo as duas, apesar de terem relatado o problema à plataforma e registrado o caso na polícia, os itens não foram localizados e não houve reparação financeira.
GZH entrou em contato com a Uber, que afirmou que suspendeu temporariamente um dos entregadores, "enquanto são feitas as apurações do caso" e que "não tolera nenhum comportamento criminoso". A plataforma disse ainda que itens de valor superior a R$ 500 não devem ser enviados e que consta nos termos do serviço que a empresa não se responsabiliza em caso de problemas com os objetos. Confira o posicionamento completo abaixo.
O caso mais recente ocorreu na sexta-feira passada (6), quando uma mulher de 27 anos solicitou uma viagem de Uber Moto em seu endereço, no bairro Santana. Ela afirma que precisava enviar um celular a uma amiga, como empréstimo. O aparelho valia cerca de R$ 1 mil, segundo ela.
A jovem alega que enrolou o celular em uma toalha e o colocou dentro de uma sacola, "escondido". Ela diz que o entregador que aceitou a corrida chegou em uma bicicleta e usava uma mochila com o logo de uma empresa de entrega por aplicativo.
— Entreguei para ele e voltei para o prédio. Entrei no elevador e, assim que cheguei no meu andar, recebi uma notificação de que ele tinha cancelado a corrida. Ele não marcou que pegou o objeto, só cancelou, como se ainda não estivesse com o item. Voltei para a rua, mas ele não estava mais lá. Aí o aplicativo redirecionou a corrida para outro motorista. Simplesmente ele pegou o objeto e foi embora — conta.
Segundo o relato, o entregador tinha nota alta, de cinco estrelas, e várias corridas feitas pelo aplicativo.
Na sequência, a moradora afirma que entrou em contato com a empresa, pelo aplicativo, e informou o problema. Como não conseguir resolver, disse que desistiu do diálogo com a Uber.
— Eu denunciei, expliquei o que tinha acontecido, mas não deu em nada. A empresa disse que entrou em contato com o condutor, mas que ele relatou que não tinha pego nada comigo, ficou a minha palavra contra a dele. A Uber disse que não tinha responsabilidade sobre os pertences. Minha esperança era ver imagens das câmeras da frente do meu prédio, mas estamos em obras e não estavam ligadas naquele dia — lamenta.
Ela conta que também fez um boletim de ocorrência online. Conforme a Polícia Civil, o boletim ainda não chegou até as equipes, pois leva alguns dias para ser repassado à delegacia responsável.
A mulher afirma que já havia usado o serviço de entrega da Uber em outras ocasiões, inclusive enviando outro celular em uma delas, sem problemas.
— Na hora eu entrei em pânico, foi horrível. Mas, para além do furto em si, me incomoda muito que ele vai continuar trabalhando normalmente no aplicativo, e isso pode acontecer novamente com outras pessoas — diz.
Notebook furtado
Em outro caso registrado, outra mulher afirma que um notebook foi enviado pela plataforma e que o motorista nunca o devolveu. O fato ocorreu na manhã do dia 3 de março de 2022.
A mulher, de 64 anos, conta que comprou o aparelho quando ainda estava no período de isolamento em razão da pandemia. Por isso, combinou com um técnico de mandar o notebook pelo aplicativo, para que ele instalasse alguns programas.
Ela alega que enviou a máquina embrulhada e dentro de uma sacola, em uma viagem que partiu do bairro Santana até o Chácara das Pedras, onde o profissional residia. O furto teria ocorrido na segunda corrida, quando o notebook seria devolvido a ela:
— Quando o motorista estava chegando perto da nossa casa, meu marido desceu para pegar. De repente, apareceu uma mensagem de viagem finalizada no aplicativo, mas o computador não tinha sido entregue. Quase tive um ataque, comecei a mandar mensagens para a Uber, com o nome e a placa do motorista. Achei que tinha dado algum erro, uma confusão, não estava acreditando que o motorista tinha furtado. A Uber só me respondia que nada tinha sido deixado no carro — conta.
Ao perceber que tinha sido furtada, a mulher contou que procurou a polícia e registrou boletim, onde informou a placa do carro e o nome do motorista. Depois, relata ter ido ao prédio da empresa em Porto Alegre, para tentar resolver o problema.
— Eu pedi para falar com alguém da área administrativa, queria alguma ajuda, expliquei que tinha sido furtada, mostrei as mensagens trocadas pelo app. Só me disseram que eu não podia entrar no prédio, que era somente para motoristas. Ficamos eu e o técnico na porta, sem nenhum atendimento, ele chegou a ficar nervoso porque acabou se sentindo responsável.
A moradora diz que o notebook, recém comprado, custou cerca de R$ 6,6 mil e que ainda estava pagando pelo item. Por não ter conseguido ajuda, diz que precisou comprar outro aparelho.
— Não consegui nenhum tipo de ajuda. Acho uma falta de respeito, um horror. Senti que não há cuidado, critério em relação aos próprios motoristas que atuam pela empresa. Oferecem um serviço que não funciona, por causa da maldade das pessoas e da falta de profissionalismo da Uber, de não assumir que eles são, sim, responsáveis por isso. Ainda estava pagando por essa compra, é algo que dá vontade de chorar — desabafa.
Em relação ao registro do caso feito na polícia, o delegado Leandro Cantarelli Lisardo, titular da 14ª DP da Capital, afirmou apenas que a investigação "encontra-se em andamento" e disse que não repassa informações nem fala sobre casos em razão da Lei de Abuso de Autoridade.
Polícia orienta a registrar ocorrência
Tanto a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-RS) quanto a Polícia Civil orientam que pessoas que passarem por situação do tipo buscam as autoridades e façam registro de ocorrência.
— A orientação é que os usuários utilizem o serviço da forma indicada pela plataforma, observando todas as orientações repassadas pela empresa, inclusive de valores. Caso ocorra algum problema, a orientação é que se faça contato imediatamente com a plataforma. Não obtendo êxito, o usuário deve procurar imediatamente qualquer delegacia de polícia. Será feito o registro e instaurado o respectivo procedimento policial. Para isso, o ideal é que as vítimas tragam todas as informações que possuem, a fim de facilitar o andamento da investigação — explica a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM).
A diretora acrescenta que o departamento passará a acompanhar as investigações dos dois casos citados na reportagem. A polícia também lembra que é possível procurar os serviços de defesa do consumidor, como o Procon.
Entregador foi suspenso, diz Uber
A Uber se manifestou sobre os casos por meio de nota, na qual afirma que "não tolera nenhum comportamento criminoso" e que a conta do entregador que teria furtado o celular, no caso registrado no começo deste mês, foi "suspensa da plataforma enquanto são feitas as apurações do caso".
"De qualquer forma, caso um item tenha sido extraviado e o usuário acredite que foi objeto de furto ou apropriação indébita pelo parceiro, a Uber encoraja que, além da denúncia no aplicativo, seja feito um boletim de ocorrência para que as autoridades competentes possam investigar o ocorrido. A Uber está à disposição para colaborar fornecendo os dados necessários, nos termos da lei", diz a empresa no texto.
Sobre o relato da mulher que diz não ter sido atendida no prédio da empresa na Capital, a Uber reforça que os espaços físicos servem de apoio apenas para motoristas, e que o contato com a empresa deve ser feito pelo plataforma.
Itens de valor alto são proibidos, afirma plataforma
A nota da Uber afirma ainda que objetos de valor alto não devem ser enviados pela modalidade de entrega.
"É importante ressaltar que, no Uber Flash não é permitido enviar itens de valor ou cujo transporte seja proibido por lei ou pelas regras da categoria. Itens essenciais e/ou com valor superior a R$ 500 não podem ser transportados, de acordo com os termos de uso da modalidade de serviço."
A plataforma afirma ainda que "as regras do Uber Flash são exibidas no aplicativo", antes de cada solicitação, "para que o usuário possa verificar e concordar antes de seguir com o pedido".
"Usuários podem solicitar a motoristas parceiros viagens para o transporte de objetos como pacotes, presentes, documentos e outros artigos pessoais, de porte médio ou pequeno, que possam ser acomodados com segurança no porta-malas do veículo."
Nos "Termos e Condições" do Uber Flash, a empresa diz ainda que "não é responsável pelo artigo ou por seu conteúdo, estando isenta de qualquer obrigação ou responsabilidade relacionada ao artigo, seu conteúdo e/ou seu envio, incluindo perdas ou danos que o artigo possa sofrer durante a entrega, ficando expressamente excluídas quaisquer garantias nesse sentido por parte da uber". "Os artigos não serão cobertos por seguro de nenhum tipo", complementa o texto, que pode ser conferido na íntegra neste link.