Mãe de dois filhos e avó, Luciana Leonardo Batista é lembrada pela família como uma mulher trabalhadora e de "coração imenso". No último sábado (2), ela foi morta a facadas pelo ex-companheiro, em Três Coroas, no Vale do Paranhana, aos 49 anos.
Apontado como autor do crime, Márcio Ronei Hack, 55, foi preso após um cerco de cinco dias em uma área de mata em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte. Conforme a polícia, o crime — investigado como feminicídio — ocorreu porque o homem não aceitava o fim do relacionamento com a vítima, que tinha, há dois meses, uma medida protetiva vigente para que ele não se aproximasse.
— Era uma pessoa sem igual, de coração imenso. Trabalhadora, uma mulher para quem não tinha ruim. Uma ótima cozinheira e dona de casa — lembra Odair Leonardo Batista, 43, irmão de Luciana e policial militar.
Natural de São Luiz Gonzaga, na região das Missões, onde casou e teve dois filhos, Luciana se mudou para o Mato Grosso após se divorciar. No Estado do Centro-Oeste, teve um segundo casamento, interrompido repentinamente com a morte do marido por covid-19.
Ficou sozinha no Mato Grosso até que retornou ao Rio Grande do Sul, após um esforço de familiares. Estabeleceu-se em Três Coroas, mesma cidade onde reside Odair. Um dos filhos mora em Parobé, e o outro, em Dois Irmãos, municípios próximos. Nos últimos meses, Luciana trabalhava como doméstica em uma residência em Gramado.
O relacionamento com Márcio, conforme a família, começou no final de 2021. Segundo Odair, ele se aproximou aos poucos, e os dois passaram a viver juntos. De acordo com o irmão, a relação parecia ir bem, até que Luciana sofreu uma fratura no pulso durante o trabalho.
— No começo ele foi útil para ela. Ajudava em casa, levava para os lugares. Só que dentro dessas funções, ele começou a ficar mais exigente, tudo tinha que ser do jeito dele. Com mais convivência, começaram as brigas. Ele começou a mostrar quem ele era — relata o irmão.
Ainda conforme Odair, Luciana relatou que esses episódios passaram a ser mais frequentes e culminaram em uma agressão no dia 24 de junho. Após uma discussão no horário do almoço, Márcio teria pego Luciana pelo pescoço e a jogado contra a parede. A agressão motivou a mulher a registrar um boletim de ocorrência e obter uma medida protetiva. Márcio saiu de casa na ocasião.
— Ele tentou falar com ela na saída de um comércio, mas ela não quis. Ela já tinha bloqueado (o ex-companheiro) nas redes sociais. Ele tentou mais uma ou duas vezes, por outros aparelhos, mandar mensagens para ela. Queria conversar, reatar, e ela só bloqueava — conta Odair.
De acordo com o irmão, Luciana costumava fazer compras em um mercado no bairro Sander aos sábados. Era para lá que ela se dirigia quando foi esfaqueada pelas costas.
Pelas imagens de uma câmera de segurança, é possível ver que Luciana ainda tenta se defender e se afasta do agressor, que sai correndo após desferir as facadas. A mulher fica de pé por alguns segundos, mas cai na calçada. Ela chegou a receber atendimento médico, mas morreu no hospital de Três Coroas.
Fuga e cerco
Ainda no sábado (2), após o crime, a Brigada Militar encontrou o suspeito no interior de Três Coroas e tentou abordá-lo, mas ele fugiu. As equipes afirmaram que o homem se deslocou de carro em direção a Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte.
No trajeto, teria ultrapassado uma praça de pedágio, arrancando a cancela. Durante a fuga, capotou o carro e o abandonou na RS-474, entrando a pé em um matagal.
O cerco a Márcio durou até a quarta-feira (6), quando ele foi avistado por uma testemunha andando na região de mato da localidade de Monjolo, em Santo Antônio da Patrulha, a cerca de seis quilômetros de onde abandonou o veículo.
De acordo com a polícia, o homem já tinha outras ocorrências registradas por violência doméstica, de relacionamentos anteriores. Uma delas é de 2007, de uma mulher com quem ele tem um filho. Outro boletim foi registrado em 2018, por outra ex-companheira.
A Polícia Civil aguarda mais laudos, como o de necropsia da vítima. O inquérito deve ser concluído em 10 dias.