A Operação Maturin, da Delegacia da Polícia Federal de Santa Maria, deflagrada na quinta-feira (3), desarticulou uma organização criminosa que lavaria dinheiro do tráfico de drogas em distribuidoras de bebidas. Havia 21 mandados de prisão a serem cumpridos. Quinze pessoas foram presas até o momento.
Os nomes dos presos não foram divulgados pela Polícia Federal (PF), mas a reportagem de GZH chegou à identidade de alguns. Entre eles, estão um servidor da Guarda Municipal de Santa Maria, um advogado e um ex-candidato a vereador e a deputado federal nas últimas eleições.
Edson Pereira Bataglin é servidor do município de Santa Maria desde o ano 2000. Atualmente, está lotado na Guarda Municipal. Conforme o portal da transparência da prefeitura municipal, o seu último salário teve vencimento total de R$ 7,2 mil. Ele também é pai de Gabriel Mathias Bataglin, 24 anos, apontado, pela PF, como sendo o líder do grupo. Ele seria o responsável por organizar toda a logística de compra das drogas, que vinham do Uruguai e de Santa Catarina, além de distribuição dos entorpecentes.
Nas redes, o jovem se intitula como empresário e dono de uma rede de distribuidoras de bebidas em Santa Maria. Conforme a PF, os estabelecimentos seriam usados para lavar dinheiro do tráfico. Todos foram fechados por ordens judiciais na quinta-feira pela PF e pela Receita Federal.
Em nota, a prefeitura de Santa Maria disse que tomou conhecimento da prisão do agente e que não foi informada oficialmente do caso, mas está auxiliando a PF. Além disso, a Controladoria-Geral do Município buscará informações junto aos órgãos envolvidos para apurar se há alguma relação com a atuação funcional e quais os desdobramentos do caso em relação à legislação municipal.
O advogado de Gabriel e Edson, Flavico Barreiro, afirma que o processo está em segredo de Justiça e que ainda não teve acesso, por isso é prematura qualquer manifestação. Os dois já foram indiciados. A PF não divulga especificamente o indiciamento de cada um, mas a maioria seria por associação para o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e tráfico de entorpecentes.
Também foi preso na quinta, de forma temporária, o advogado Jeronimo Temp Martins. Ele tem inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina. Conforme a PF, ele teria ligação com o grupo e é investigado por associação para o tráfico.
— Ele está sob investigação. Além desse planejamento jurídico, extrapolou as atividades como advogado, e por isso está sendo investigado na possibilidade de estar atuando em associação para o tráfico — respondeu o delegado Leonei Almeida durante coletiva de imprensa ao ser questionado sobre a prisão de um advogado.
A reportagem fez contato com a OAB de Santa Catarina, que afirmou que "não se posiciona sobre essas situações, pois todos os procedimentos relacionados à conduta de advogados têm sigilo por lei". Responsáveis pela defesa de Martins, Christiano Pretto e Marco Auréilio Júnior disseram que irão impetrar um habeas corpus, com pedido de prisão domiciliar, pois ele teve pneumonia recentemente.
Os advogados também ressaltaram que não há provas concretas do envolvimento de Martins na organização. Até o momento, não há indiciamento contra ele.
Outro preso na operação foi Nicolas Xavier, conhecido como Nicão. Ele foi candidato a vereador pelo PDT nas eleições municipais de 2016 e a deputado federal pelo Solidariedade no pleito eleitoral do ano passado. Ele consta como sócio de Gabriel Mathias Bataglin nas distribuidoras de bebidas que seriam usadas para lavar o dinheiro do tráfico. Por isso, foi indiciado por associação para o tráfico e lavagem do dinheiro.
No entanto, sua prisão preventiva foi referente a uma investigação da Delegacia da Polícia Federal de Campinas, em São Paulo, por tráfico internacional de drogas. Na tarde deste sábado (5), Lisandro Silva de Souza, advogado do Nicolas Xavier, também destacou que o processo corre em segredo de Justiça e ainda não teve acesso a todos os autos para poder tomar as medidas cabíveis.
Entenda a operação
Além dos mandados de busca e de prisão, ordens judiciais, como sequestro de veículos e imóveis, apreensão de bens e encerramento de empresas de fachada, também foram cumpridoa. A estimativa da PF é que, com isso, o prejuízo à organização criminosa supere os R$ 2,5 milhões.
Os mandados foram cumpridos, na maioria, em cidades da região central do Estado, grande parte deles em Santa Maria, e também em Restinga Seca, Júlio de Castilhos e Caçapava do Sul. Também foram registradas prisões em Arroio dos Ratos, na Região Metropolitana, e em Palhoça, em Santa Catarina.
O nome da operação é relacionado ao personagem Pennywise, o palhaço do filme It - A Coisa, em referência ao codinome do líder da organização criminosa. No longa, Maturin é uma tartaruga colossal que é inimiga do palhaço.
A investigação teve início em agosto de 2022, durante a apuração de um caso envolvendo notas falsas. Na ocasião, foi encontrada uma espécie de cardápio de drogas, com uma grande diversidade de entorpecentes, o que gerou a abertura de um novo inquérito.
A investigação conseguiu identificar o líder do grupo, os fornecedores, os transportadores e os laranjas utilizados para lavagem de dinheiro. A maior parte das empresas era de distribuidoras de bebidas. Foram descobertos também ocultação de veículos e de imóveis rurais. "Mulas" eram responsáveis pela logística dos entorpecentes, levando e estocando o material em diferentes cidades, utilizando aplicativos de caronas pagas e aluguéis de imóveis por temporada.
Entre novembro de 2022 e abril deste ano, foram realizadas cinco apreensões de drogas referente à investigação em Santa Maria, Porto Alegre e Gravataí. Até o momento, 20 pessoas foram indiciadas, todas por associação para o tráfico, e algumas também por tráfico de entorpecentes e lavagem de dinheiro.