O trabalho de investigação científica criminal, que inspira filmes e séries de TV, está materializado para a comunidade gaúcha na função pública do perito criminal, em uma carreira que integra as atividades de segurança pública.
O Estado possui atualmente 301 profissionais biomédicos, farmacêuticos, físicos e engenheiros, de diferentes áreas de formação, que examinam e constituem análises para as quais o olhar científico, a isenção e o rigor metodológico contribuem para a descoberta de uma resposta mais próxima possível da verdade.
— A verdade é algo muito pessoal, mas acredito que nosso trabalho produz uma compreensão mais clara, distanciada de sentimentos e capaz de apresentar elementos concretos para a análise de fatos tão importantes para a sociedade como crimes e acidentes, especialmente aqueles que envolvem a perda de vidas humanas — descreve o perito criminal aposentado Decio de Moura Mallmith, 64 anos.
Com 33 anos dedicados ao trabalho, Décio é formado em Física, Direito e Filosofia. Atualmente escreve livros e estuda música.
O perito diz lembrar de casos de alta complexidade como um acidente ocorrido em maio de 2001 na BR-290, ente Butiá e Arroio dos Ratos, quando uma carreta carregada com toras de madeira atingiu um ônibus de viagem que conduziu passageiros entre Porto Alegre e Bagé. Quatorze pessoas morreram no local.
— Foi um acidente terrível e trouxe um grande desafio sobre a identificação das vítimas. A análise do fato, que teve como elementos um motorista alcoolizado, uma manobra imprudente e o desprendimento da carga, ajudou a produzir uma alteração na forma de transporte de madeira para aumentar a segurança nas estradas — conta.
Atuação decisiva na fundação do IGP
Décio Mallmith e outros palestrante foram convidados para compartilhar experiências em cerimônia que ocorre na próxima terça-feira (23), na Capital, e marca a passagem dos 50 anos da Associação dos Peritos Criminais do RS (Acrigs), entidade que congrega profissionais e que fomentou a criação do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
A data de fundação é 23 de maio de 1973. Em 1988, após a promulgação da Constituição Cidadã, os peritos articularam-se para incluir a formação de uma Coordenadoria de Criminalística na Polícia Civil, o que ocorreu com a nova Constituição estadual em 1989.
A mobilização da categoria defendeu a necessidade de avançar e, em 1997, o Estado fundou o IGP. Atualmente, os peritos buscam ser reconhecidos como Polícia Científica, o que lhes garantiria melhores salários e maior prestígio entre as atividades públicas de segurança. Mas há uma questão conceitual, assegura o atual presidente da Acrigs, perito criminal Lucas Toniolo.
— Perito é um conceito genérico. Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, é um especialista de qualquer área sobre assunto determinado. Acreditamos que nosso trabalho deve ser reconhecido como as demais carreiras de nível superior da Segurança — define.
Presidente da entidade aponta déficit de servidores
Toniolo afirma que também integra a pauta de desenvolvimento dos peritos criminais gaúchos a recomposição de quadros funcionais. Segundo o presidente da Acrigs, há 508 vagas estabelecidas por lei, mas somente 301 estão preenchidas.
— Este déficit representa a demora que o cidadão sente quando vivencia a espera pela chegada da perícia, afeta a qualidade na prestação do serviço público e gera custos desnecessários com grandes deslocamentos — argumenta.
De acordo com Toniolo, a distribuição dos profissionais também é prejudicada e traz impactos. Dos 301 servidores da ativa, 206 atuam na Capital e outros 95 no resto do Estado. Há, segundo a Acrigs, apenas 10 peritos criminais destacados para a área ambiental.