A Polícia Federal (PF) e a Receita Federal, com apoio da Europol (agência da União Europeia para cooperação policial), cumpriram nesta quinta-feira (30) 15 mandados de prisão preventiva durante a Operação Hinterland, que busca reprimir o tráfico internacional de drogas da América do Sul para a Europa a partir de empresas de logística marítima sediadas nos portos de Rio Grande (RS) e Itajaí (SC). Os valores movimentados pela organização no mercado europeu chegam a quase R$ 4 bilhões.
No Rio Grande do Sul, dois foram presos em Rio Grande e um em Pelotas. GZH apurou que César Oliveira de Oliveira Júnior, dono da CTIL Logística, uma das empresas investigadas, foi preso em Balneário Camboriú (SC). Conforme a investigação, a alta cúpula da empresa atuaria diretamente no tráfico de drogas (leia o que diz a defesa abaixo).
— Os valores movimentados pela organização no mercado europeu chegam a quase R$ 4 bilhões. As apreensões de patrimônio desse grupo criminoso está estimada em mais de R$ 500 milhões — declarou Cleberson Alminhana, delegado da Delegacia de Repressão às Drogas da PF no RS.
Ao todo, são cumpridas 534 medidas judiciais entre mandados de prisão, busca e apreensão no Brasil e no Paraguai, além do bloqueio de contas e sequestro de patrimônio. O valor apreendido pode chegar a R$ 3,85 bilhões — montante estimado das transações ilícitas identificadas durante o período da investigação.
Policiais federais e servidores da Receita Federal cumprem ainda 19 mandados de prisão preventiva e 37 mandados de busca e apreensão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Amazonas, Rondônia e em Assunção, no Paraguai.
Também são feitos sequestros de 87 bens imóveis, 173 veículos e uma aeronave, bloqueios de contas bancárias vinculadas a 147 CPFs e CNPJs, bloqueios de movimentação imobiliária de 66 pessoas físicas e jurídicas e a proibição de expedição de GTAs (Guia de Trânsito Animal) por quatro investigados, totalizando as 534 ordens judiciais.
O advogado Affonso Celso Pupe Neto, que representa a CTIL Logística e os irmãos César e Leandro Gonçalves de Oliveira, afirmou à RBS TV que ainda não teve acesso aos documentos da investigação, mas que vai provar “a inocência tanto da empresa quanto do Leandro e do César”. Ele disse, ainda, ter certeza que a acusação é “improcedente”.
Operação Hinterland
A investigação que levou à Operação Hinterland teve início em março de 2021, a partir de informações recebidas pela Polícia Federal de que 316 quilos de cocaína haviam sido apreendidos na cidade de Hamburgo, na Alemanha. O material teria partido em dezembro de 2020, do porto de Rio Grande.
A investigação indicou que a droga produzida na Bolívia era remetida para o Brasil por um fornecedor paraguaio e ingressava no país por Ponta Porã (MS). Posteriormente, a cocaína seria transportada em caminhões até Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e armazenada nas próprias empresas da organização criminosa ou em depósitos próximos aos portos de Rio Grande e Itajaí.
A droga seria inserida em cargas regulares com a intervenção e coordenação da alta administração das empresas de logística, sem o conhecimento dos contratantes, proprietários das cargas lícitas (normalmente de insumos que poderiam mascarar a droga quando submetida aos controles alfandegários). Já no continente europeu, o grupo comprador do entorpecente, furtava a parte da carga regular que continha a cocaína, para distribuição em diversos países da Europa.
Em dois anos de investigação, foi comprovado que a organização criminosa movimentou 17 toneladas de drogas que tinham como destino a Europa, sendo que 12 toneladas foram apreendidas.
Para a realização da Operação Hinterland, a Polícia Federal celebrou acordos de Cooperação Policial Internacional com a Alemanha e Paraguai, e acordos de Cooperação Jurídica Internacional com a França e a Alemanha, para execução das medidas.
O que diz a Portos RS:
"A Portos RS - Autoridade Portuária dos Portos do Rio Grande do Sul informa que na manhã desta quinta-feira (30) a Polícia Federal e a Receita Federal realizaram uma operação em várias localidades, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa investigada por tráfico internacional de drogas.
Por fim, parabenizamos aos órgãos de segurança envolvidos pelo sucesso nas operações e reiteramos que a autoridade portuária continua sendo parceira na manutenção da ordem pública que resguarda nossas fronteiras."