No início da tarde desta sexta-feira (27), dia em que se completa uma década da tragédia na boate Kiss, 242 balões brancos foram soltos no céu de Santa Maria. Seria em frente ao prédio onde funcionava a casa noturna, mas o local foi transferido para a praça Saldanha Marinho, no centro da cidade. Por ironia do destino, com o vento, os balões, inicialmente, foram em direção ao prédio da boate.
O evento ocorreu logo após as 14h45min. Ao lado do palco montado para os debates previstos para a tarde, várias pessoas ajudaram a encher os balões. O responsável foi Flávio Silva, ex-presidente da Associação de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria (ASVTSM) e pai da Andrielle, que fora comemorar 22 anos na casa noturna no dia do incêndio. Silva usou um cilindro para encher cada um dos 242 balões, que foram amarrados a um fio com 10 metros de comprimento e colocados entre duas árvores na praça.
— Missão cumprida e todos os balões brancos foram inflados e soltos. Mas também soltamos balões maiores e da cor preta. Nosso sentimento ainda é de repugnação pela impunidade — ressalta Silva.
Também foram soltos ao longo da tarde balões grandes de cor preta com a inscrição: "10 anos de impunidade". Havia ainda o desenho da fachada da Kiss e um martelo usado por juízes em audiências.
Os balões foram separados e dados às pessoas que estavam na praça. Segundos antes de serem soltos, foi dita a seguinte frase no alto-falante do evento: "Que os balões tomem conta do céu de Santa Maria, essa é nossa homenagem a todos os jovens vítimas".
Às 14h45mim foram soltos todos os balões brancos em meio a muitas palmas e lágrimas de familiares de vítimas, como Elizete Andreatta, mãe de Ariel, 18 anos.
— Isso representa a pureza, pelo branco. O balão solto foi para o ar e não sabemos para onde ele vai, mas nossos anjos, nossos filhos e filhas, foram representados por eles. Eu acredito nesse balão, ele me dá essa segurança. Ele (Ariel) está ali — disse Elizete.
Segundo ela, enquanto tiver em pé, seguirá com fé e esperança de que novas tragédias não ocorram e que os culpados não fiquem impunes.
Às 17h30min, no mesmo local, foi feita a soltura de balões pretos. Também foram soltos alguns balões brancos, para representar a esperança.
— Cada balão preto representa um ano de impunidade. Que a gente não tenha de ter mais balões pretos no futuro. E que a gente possa seguir somente com os balões brancos, que estão sendo soltos, inclusive, pelas pessoas que representam o nosso futuro — disse o presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Gabriel Barros.
Programação
- Às 14h45min: teve início o painel "Mães y Madres: Kiss e Cromañón". São ouvidas três mães, duas de jovens que perderam a vida na boate Kiss, e uma da argentina. Nilda Gómez é mãe de Mariano Benítez, 20 anos, que morreu durante incêndio de uma boate em 2004, em Buenos Aires. Além dela, falarão Fátima de Oliveira Carvalho, mãe de Rafael Carvalho, e Ligiane Righi da Silva, mãe de Andrielle Righi da Silva — ambos vítimas da Kiss.
- Às 15h30min: painel "O Caso Kiss: até quando a justiça vai servir a impunidade?". Um pai também será ouvido. Paulo Carvalho faz parte do grupo de familiares que busca justiça desde 2013 e atualmente é diretor jurídico da AVTSM. O filho dele, Rafael Carvalho, que morava em São Paulo na época, viajou a Santa Maria e acabou vítima da tragédia.
- Às 17h30min: painel sobre prevenção a incêndios.
- Às 19h: painel sobre o coletivo "Kiss: que não se repita", formado no fim de 2013, com intuito de ser espaço de desabafo sobre o luto. Tornou-se espaço de voz de sobreviventes, familiares e amigos de vítimas. Atualmente, procura manter viva a memória da tragédia.
- Ainda à noite, os jornalistas Daniela Arbex e Marcelo Canellas falarão sobre os motivos de contar essa história 10 anos depois. Daniela é autora do livro Todo Dia a Mesma Noite: a História não Contada da Boate Kiss e participou como consultora criativa da série Todo Dia a Mesma Noite, que estreou na Netflix nesta semana. Canellas é diretor da série documental Boate Kiss — a Tragédia de Santa Maria, da Globoplay, produzida em parceria com o coletivo audiovisual TV Ovo, de Santa Maria.
- O encerramento ocorre às 22h, com apresentação musical.