A Polícia Civil e a Brigada Militar (BM) deflagaram nesta quinta-feira (1º) a Operação Downhill, contra um grupo que operava pontos de tráfico de drogas nos bairros Santa Isabel e Santa Cecília, em Viamão. Segundo a investigação, o grupo, que integra uma facção, chegava a fazer barricadas em vias destes locais, para controlar o tráfego de veículos e pedestres, evitando a chegada inesperada das forças de segurança ou de grupos rivais.
Além do controle do trânsito, eles distribuíam cestas básicas a moradores, em troca de informações sobre movimentação de pessoas estranhas na área. A polícia diz que pelo menos 20 suspeitos operavam nove pontos de venda de drogas nestes dois bairros. A operação desta quinta, que conta com 120 agentes, cumpriu 18 ordens judiciais: 16 mandados de busca e dois de prisão.
Por volta das 7h, uma das ordens de prisão tinha sido cumprida: um suspeito, apontado como gerente do esquema, foi detido. Um outro investigado, que a polícia diz que liderava o grupo, segue sendo procurado. Os agentes cumpriram um mandado de busca na residência dele.
O titular da Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Viamão, delegado Eduardo Amaral, investigou a quadrilha durante quatro meses. Nesse período, confirmou a venda de maconha, crack e cocaína nos dois bairros.
Amaral conta que os bloqueios das ruas para controle do fluxo eram feitos com paus, pedras e até pneus, principalmente na Rua Alferes e o Beco do Bitencourt. As ações eram constantes, mas se intensificavam aos fins de semana.
Quanto à distribuição de cestas básicas a moradores, o delegado acredita que muitos aceitavam mediante intimidação. A investigação mostrou que a quadrilha comprava casas na região, que eram utilizadas como locais de venda e armazenamento de drogas. Os suspeitos ainda estariam envolvidos em roubos de carros para financiar o tráfico.
Os nomes dos investigados não foram divulgados, mas a Draco revelou que o chefe da quadrilha e pelo menos três suspeitos de integrarem o grupo têm antecedentes por homicídio.
Comando com violência
A Draco apurou que o esquema de tráfico era bem organizado, com divisão e hierarquia entre gerentes, vendedores e encarregados da logística. O líder do esquema, que é alvo de mandado de prisão nesta quinta, estabelecia metas de vendas de drogas e era rigoroso nas cobranças. Segundo o delegado Amaral, quando identificava falhas no serviço, o criminoso repreendia os subordinados com agressões, na frente dos demais. A polícia estima que o grupo movimentava pelo menos R$ 300 mil a cada mês.
Durante a investigação, a Draco de Viamão interceptou diálogos entre os suspeitos. Um deles registra uma ameaça de um suposto gerente do esquema a um traficante que teria cometido um erro:
O líder do esquema também foi flagrado dizendo a outro suspeito que pretendia matar um traficante rival.
— Eu estou com vontade de ir ali e matar ele, tu acredita nisso? — diz o homem, em áudio divulgado pela polícia.
Os áudios interceptados também registram uma orientação dada pelo suposto líder do grupo aos traficantes.
— Eles orientavam basicamente os vendedores a se passarem por usuários, temos várias provas disso em mensagens de áudio em celulares apreendidos. O objetivo deles era embaraçar e ludibriar o trabalho da polícia em uma simulação, como se fossem usuários de drogas — explica Amaral.
Os diálogos também revelaram o movimento de compra de casas e terrenos nos bairros de atuação do grupo, que eram usados como pontos de tráfico.