O bom filho à terra volta, já ensina o ditado. Sandro Caron de Moraes que o diga. Em 24 anos de carreira policial, é a terceira vez que retorna ao Rio Grande do Sul. Agora, como novo secretário da Segurança Pública, cargo que nunca tinha ocupado e para o qual foi convidado há apenas quatro dias pelo governador eleito Eduardo Leite (PSDB).
Gaúcho de Porto Alegre, formado em Direito, Caron é delegado da Polícia Federal desde 1999 e, desde então, ocupou alguns dos principais postos daquela corporação. Foi chefe em várias delegacias, atuou como superintendente da PF no Rio Grande do Norte, no Ceará e no Rio Grande do Sul, foi representante regional da Interpol (Polícia Internacional) em Porto Alegre, foi Diretor de Inteligência Policial de toda a PF (em Brasília), na época da Operação Lava-Jato.
— Minha diretoria não atuava na Lava-Jato, era mais com antiterrorismo e outros assuntos — ressalva ele.
Depois, Caron morou em Lisboa, voltou ao Brasil como secretário da Segurança Pública do Ceará (em um governo petista) e, agora, assume como secretário em seu Estado natal, em um governo do PSDB.
Nessa entrevista a GZH, horas após ser anunciado para o posto, ele fala da surpresa (e honra) com o convite e antecipa seus planos para a nova função.
Qual a sensação de voltar ao Sul?
Fiquei muito feliz. Poder voltar para cá após oito anos dá muita satisfação. Tomei posse aqui como delegado, em 1999. Fui chefe de vários setores na PF. Fui para o Ceará, onde fui superintendente em 2011 e 2012, voltei para o Rio Grande do Sul como superintendente, em 2014. Aí assumi em 2015 e 2016 a Diretoria de Inteligência da PF, em Brasília. Em 2017, fui para Portugal, onde fiquei como adido da PF na embaixada brasileira. Retornei ao Brasil em 2020, já como secretário da Segurança Pública no Ceará, no governo Camilo Santana (PT).
Como foi sua performance no Ceará?
Em dois anos e quatro meses, conseguimos reduzir em 28% os homicídios. Reduzimos também 15% os crimes violentos contra o patrimônio. Cheguei em um momento delicado, logo após o motim (de PMs grevistas, contra o governo estadual). Reorganizamos todo o sistema de segurança estadual. Conseguimos bons resultados, sobretudo contra as facções do crime organizado, que eram as maiores responsáveis pelos homicídios e pelo tráfico de drogas. Principalmente o internacional. Como tu sabes, o Ceará é ponto estratégico de envio de drogas para a Europa, porque é o Estado brasileiro mais próximo daquele continente. A logística acaba atraindo grandes facções nacionais para o Ceará.
Quais são as suas prioridades no Rio Grande do Sul?
Gostaria de destacar que a linha é de continuidade. O governador Ranolfo já vem fazendo um grande trabalho na segurança, e o coronel Santarosa (atual secretário da Segurança Pública) seguiu isso. O importante é seguir o conjunto de ações adotadas aqui, tanto no fortalecimento das polícias como de políticas transversais. Está tudo no caminho certo. A linha é reduzir índices de delitos cada vez mais, e não só isso: gerar mais sensação de segurança para a população.
O RS teve surtos de homicídios no último ano, provocados por facções. Uma coisa que não acontecia já há algum tempo.
Sim. É uma das nossas prioridades o combate ao crime organizado, ao tráfico, razão da maioria dos homicídios. Uma coisa leva à outra. Não podemos também esquecer dos crimes violentos contra o patrimônio. Sabemos que tem reduções significativas já, um trabalho muito bem feito quanto ao roubo e furto de veículos, por exemplo. Vamos dar continuidade.
O senhor tem uma relação antiga com o governador Ranolfo Vieira Junior. Do tempo em que era superintendente da PF, imagino.
Exatamente. Fui superintendente na época da Copa do Mundo (2014). Tínhamos até duas vezes por semana reuniões do gabinete de gestão, envolvendo pessoal da PF, secretário da Segurança Pública, comandante da BM, chefe da Polícia Civil. Então aproximamos ainda mais a relação. Mas já nos conhecíamos, desde a minha entrada na Polícia Federal. Ele também tinha entrado há pouco na Polícia Civil, então fizemos muito trabalho integrado e troca de informações. Quando assumi a secretaria da Segurança no Ceará, nós nos encontrávamos sempre, nas reuniões do Colégio Nacional de Secretários estaduais (Consesp). Eu sou vice-presidente da região Nordeste do colegiado. Ele, do Sul. Também tive muita interlocução com o coronel Santarosa. Existe uma parceria muito grande entre os secretários.
Ranolfo já tinha lhe convidado para ser secretário?
O convite, agora, foi feito pelo governador Eduardo Leite. E foi uma grande surpresa. Cheguei a Porto Alegre na segunda (19) à noite, para passar o Natal com a família. E tivemos uma surpresa muito positiva. Estou muito grato pela oportunidade para contribuir com um governo que vem fazendo uma grande gestão e melhorando nosso Estado.